terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A Visão de um Adepto: A questão da Missão Mediúnica


Por: Gregorio Lucio 

Uma questão na qual sempre reflito refere-se a idéia da chamada Missão Mediúnica, com a qual os adeptos umbandistas (notadamente os médiuns, “cavalos-de-santo”) estamos vinculados ao longo de nossa trajetória neste universo religioso.

Bem, em princípio seria interessante analisarmos o significado atribuído a palavra “missão”. Diz-se, em nosso meio, que o médium tem uma missão junto de seus Guias Espirituais e perante aos “assistidos” (encarnados e desencarnados) por meio de sua mediunidade. Entendo com isso que, conforme o significado específico da palavra em questão, o médium possui o encargo (a incumbência) que é dado a ele para realizar uma determinada tarefa. No caso, a tarefa seria o beneficiamento de outrem por intermédio do trabalho espiritual feito pelo médium e seus Guias. 

Contudo, devemos ter uma visão mais ampla do que seria esse trabalho espiritual (que nem sempre ocorrerá pela mediunidade, diretamente) sob encargo do médium que lhe cumpre realizar ao longo do ano todo (e não só no Natal, como é a ocasião atual) e durante toda a sua vida, dentro de seus limites e possibilidades, é claro. 

Por exemplo, esse trabalho se expressa de maneiras diversas, como o acolhimento e a ajuda de pessoas necessitadas de um auxílio mais “material e imediato” (alimento, roupas, etc.); a visita, a oração em favor e o diálogo fraterno (não é dar passe, nem consulta espiritual) para com enfermos de seu conhecimento e pessoas em situações difíceis e graves a que venha a ser solicitado a prestar seu concurso; o aconselhamento ético, a educação e o esclarecimento do próximo quanto aos princípios espirituais que são de seu conhecimento, em face de sua vivência religiosa como umbandista (e que, naturalmente, exigem do médium, principalmente, conduta exemplar dentro destes princípios). 

Estou enfocando essas possibilidades de expressão do trabalho espiritual, para que tenhamos uma idéia de que a vivência religiosa, como médium, não está restrita e exclusiva às poucas horas que este possa vir a passar dentro do templo religioso. Como costumo dizer, é fácil ser “bom” e “caridoso” dentro do ambiente religioso (no qual passamos em média 2h, uma ou duas vezes na semana, de acordo com o calendário de cada casa). Até mesmo porque ali, dentro deste ambiente, o sistema de relação que impera (como em qualquer ambiente nobre do convívio social) é o da formalidade. 

Mas, a expressão do trabalho espiritual e da verdadeira ligação do médium para com seus Mentores deve estar num contexto muito mais amplo e profundo do que isso. Deve ser mais do que cumprir uma formalidade de uma atividade religiosa. O trabalho espiritual deve estar em uma profunda associação com o restante de nossas ocupações e da maneira como vivemos o nosso dia-a-dia. Isso é viver a religiosidade de maneira coerente. 

Não é estar todos os dias nos trabalhos do terreiro que irá fazer o adepto ter resultados salutares em sua vida religiosa. Ele pode estar ali simplesmente enquanto não tem “outro lugar para ir”. Por que “um familiar ou amigo frequenta aquele lugar, então ele também vai”. Enquanto ainda dure a sua esperança de que aquele lugar vai “resolver o seu problema”. Enquanto não aparece um novo amigo(a) ou namorado(a) ou enquanto ninguém o convide para uma balada ou outra atividade que lhe seja mais atraente...enquanto... Em outras palavras, a presença de uma determinada pessoa no ambiente religioso pode estar ocorrendo de uma maneira completamente destituída de significados e comprometimentos mais profundos

Lembro que a condição capaz de trazer resultados positivos e plenificadores para a vivência religiosa é a maneira pela qual o médium (ou o adepto, de maneira geral) se entrega e vivencia os momentos em que está ali. Claro que os resultados de uma experiência religiosa positiva só podem ser construídos quando estes ocorrem seguindo uma constância e uma regularidade. No entanto, isso não quer dizer, necessariamente, estar presente em todos os dias, num sentido de obrigatoriedade. 

Pelos diálogos que travo com pessoas pertencentes a direção de atividades em ambientes religiosos (alguns terreiros de umbanda, centros espíritas e igrejas evangélicas, mais especificamente), vejo que o grande desafio que se afigura dentro dos templos é a constante tendência dos frequentadores, de maneira geral, em transformar o ambiente de atividades em um simples centro de convívio social, desprovido de mais amplos significados, como qualquer outro existente (a academia, a roda de amigos, o passeio público, etc.) ou, principalmente, num “refúgio” para os desafios que se apresentam no dia-a-dia. Recordo-me de um companheiro que, no meio de uma reunião espírita, confessou a mim de que vinha para o Centro Espírita “pois não aguentava o choro de sua filha recém-nascida e as exigências de sua esposa”. Fora esse, outros casos que já tive oportunidade de conhecer, pelos quais a vida religiosa é assumida numa tentativa de substituir a realidade do dia-a-dia (dificuldades em lidar com parceiros no ambiente de trabalho, conflitos conjugais, desgaste com filhos, desemprego, problemas sexuais, alcoolismo, drogadição, etc.). E essa, definitivamente, não é a melhor maneira de se resolver a questão. 

A busca pelo ambiente religioso como um ponto de alívio emocional e fortalecimento espiritual para o enfrentamento das dificuldades da vida e dos conflitos interiores é compreensível e natural. Contudo, enquanto o indivíduo não identificar em si quais são esses seus conflitos e as facetas de sua vida que merecem a devida atenção e a conveniente solução, a vivência religiosa não terá um efeito maior do que o de um comprimido para dor. A dor passa na hora (os conflitos se aliviam e a emoção se atenua), mas enquanto o problema não for devidamente enfrentado dentro do seu contexto próprio (se profissional, familiar, afetivo, de saúde, etc.) e solucionado (ou pelo menos, conscientemente orientado), essa experiência sempre será um ciclo interminável e até neurótico (tenho um problema, não me sinto capaz de resolver, corro pro templo religioso, alivio a emoção, volto pra casa; levanto no dia seguinte, surge o problema, me sinto fragilizado, volto pro templo religioso, alivio a emoção...). 

Dessa forma, creio que devemos nos integrar a uma postura amadurecida e entender a “missão mediúnica” como um comportamento consciente e assumido de compromisso, ética e parceria para com os Guias Espirituais. 

Quando o trabalho espiritual feito pelo médium junto a seus Guias está alicerçado, de maneira consciente, nestes 3 pilares (compromisso, ética e parceria), é possível realizar uma adaptação das possibilidades de como este trabalho pode ser feito, ajustando-o a necessidades outras que também se exige do médium, para que estejam em equilíbrio (trabalho, família, estudos, lazer e outras). O médium só pode dar na medida daquilo que tem. Tanto para os Guias, quanto para os assistidos. Importa que sua vida esteja, dentro do que é possível, equilibrada e saudável, para que os resultados de seu trabalho no campo mediúnico possam ser cada vez mais compensadores e gratificantes para si mesmo e para o próximo. 

Compete, portanto, a cada médium, identificar quais são as exigências de sua vida cotidiana e conciliá-las para que seus compromissos possam ser assumidos sem maiores prejuízos para si mesmo, fazendo assim de sua trajetória um caminho contínuo e duradouro, superando todas as suas provas e desafios. 

Temos informações obtidas dos Benfeitores Espirituais de que desde, aproximadamente, 60 anos para cá, não se encarnaram mais espíritos na condição de Missionários. Isso porque estamos atingindo um momento social – portanto, coletivo – em que cada um é chamado a assumir a auto-responsabilidade por sua vida, mediante o esforço pelo auto-esclarecimento, pela auto-consciência e por colocar-se, dessa forma, como sujeito ativo e condutor de seus caminhos, deixando de lado a desculpa e a justificativa de seus erros, para isso escondendo-se atrás dos erros dos outros. Cada um deve responsabilizar-se pelas consequências boas ou más de suas escolhas e de sua conduta, trabalhando para que sejam sempre as melhores e mais acertadas possíveis. 

Ou seja, as Leis da Vida nos convidam, cada vez mais, ao amadurecimento psicológico e a entendê-lo como um processo que não surge por simples ação dos anos, conforme a pessoa envelhece, como pode-se pensar a partir de um “senso comum”. Embora todas as pessoas mereçam sempre o nosso maior respeito, idade avançada e cabelos brancos não equivalem diretamente a maturidade. 

O amadurecimento psicológico surge, ao passar dos anos, como um traço que se destaca naqueles, e somente naqueles, que se colocam como responsáveis diante de sua existência e que adotam essa atitude de refletir sobre si mesmos e trabalhar em seu aprimoramento interior, solucionando seus conflitos, diluindo suas carências, se desvinculando de possíveis frustrações do passado e eliminando, gradualmente, seus vícios e maus-hábitos. 

Esse amadurecimento psicológico (na psicologia junguiana, chamado de individuação) pode ser entendido como a essência daquilo que chamamos, no meio espírita, de “evolução espiritual”

Penso que o médium deve se perceber como uma pessoa comum e que necessita se integrar nos diversos contextos, nos quais a sua presente encarnação o coloca (como profissional, familiar, estudante, cidadão e religioso, todos num mesmo nível e grau de importância). Deve buscar ampliar e diversificar as atividades de seu dia-a-dia, adotando hábitos simples, saudáveis e culturais, justamente para se qualificar mentalmente, desenvolvendo seus recursos espirituais que lhe farão, inclusive, servir melhor como médium. 

Devemos ter consciência de que não vivemos exclusivamente para a Umbanda e, muito menos, da Umbanda. Não alimentemos a falsa ilusão, ou até a presunção, de que estamos “salvando o mundo” por meio da nossa mediunidade e muito menos de que a dedicação exclusiva a vida religiosa nos irá livrar das outras experiências que nos são impostas pelas Leis da Vida. 

Assim, será possível estabelecer, cada um dentro de seu momento de vida, uma programação saudável e conciliadora de seus diversos compromissos. 

Fraternalmente.

A Visão de um Adepto: A Noite Escura da Alma


Por: Gregorio Lucio

Gostaria, nesta nova publicação, de tratar de um assunto pouco discutido ou analisado em nosso meio. Porque envolta em questões que fogem ao contexto dos discursos comuns e, em geral, superficiais, presentes nas comunidades de terreiro, e vinculando-se mais à profundas bases psicológicas da experiência espiritual ao longo da vida religiosa, realmente, torna-se difícil abordar a temática da então chamada “Noite da Alma” ou, “Noite Escura da Alma”, conforme havia sido designada por São João da Cruz, e utilizada pela Teologia Cristã.

A Noite da Alma, ou Noite Escura da Alma, é uma simbologia que se refere a um estado psicológico e espiritual, no qual se apresenta um paradoxo (profunda contradição) interior, pois, embora seja uma experiência iluminativa, esta se caracteriza pela presença de um obscurecimento da alma, dos sentimentos e do sentido religioso, provocando sofrimento.

Talvez pelo fato de que esta experiência sempre o fora relatada entre profundos místicos e pessoas cujas vidas foram dedicadas integralmente à prática religiosa (Madre Tereza de Calcutá teria vivido tal experiência por mais de 40 anos), acabou-se por se desconsiderar que tal experiência é presente também nas pessoas de vida “comum”, principalmente se estas também dispõem, em sua vivência cotidiana, da prática religiosa e se colocam à busca de sentir e vivenciar o Sagrado em sua vida.

Fato é que todo aquele que se vincula, com sinceridade, à vivência religiosa, mesmo não sendo um profundo místico, irá passar, ou já passou, por essa experiência de integração com determinados aspectos desconhecidos (sombrios, noturnos) do seu mundo interior. Mesmo aqueles que não dispõem de uma vida religiosa passam por experiências semelhantes, embora noutro sentido, no entanto, ambas as experiências conduzem o ser humano para um processo de amadurecimento interior e reordenação de sentidos psicológicos para a vida.

Não vou me deter às características da Noite da Alma conforme ela se apresenta, especificamente, na vivência dos místicos religiosos, contudo, irei trazer determinados pontos que se ligam a esta experiência num nível mais comum e próximo a cada um de nós. 

Então, a Noite Escura (da alma) pode surgir na vida do adepto como um estado de perda de sentido psicológico da sua vida religiosa. Um sentimento profundo e inquietante de ausência em relação a Deus e ao Sagrado o invadem, dando margem ao surgimento de várias dúvidas e questionamentos de variadas ordens (doutrinários, místicos, éticos, sociais, subjetivos, etc) que emergem à consciência, ocasionando um sentimento de inadequação, de “estar fora de lugar”. Os atos devocionais, de maneira geral, a prece, a presença nos ritos e, mais particularmente ao nosso meio, o contato espiritual com os Guias e Mentores, embora sempre positivo e saudável, é também caracterizado pela presença de um sentido de penumbra, de obscuridade e de distanciamento psicológico da experiência, tornando-os sofrivelmente insatisfatórios.

O sentido do sofrer, nesta experiência subjetiva do adepto, surge pelo sentimento de desconexão com a Divindade e de afastamento emocional para com os Mentores, aumentando sua frustração pelo fato de que, em muitas vezes, essa experimentação dá-se integralmente numa dimensão interior do médium, difícil, inclusive de ser expressa verbalmente (aliás, me perdoem caso esteja sendo repetitivo em determinados termos, por que justamente é algo bastante abstrato para se colocar em palavras específicas). Juntando-se a isso o fato de que a exposição deste estado interior, geralmente, é extremamente mal interpretada dentro do meio religioso. Muitas vezes é visto como perda, ou falta, de fé por parte do filho-de-santo, por falta de compromisso para com os Guias ou o templo, com melindre, “frescura”, ou, pior ainda, quando se une à visão fanática e ignorante de muitos, terminando por ser interpretada como o afastamento do Orixá por estar em desagrado com o seu filho-de-santo, a presença de obsessão espiritual, demanda, magia negra, etc.

Existem várias linhas de conhecimento que tratam, cada uma a sua maneira, do processo de desenvolvimento psicológico do ser humano. E, seguindo um pensamento de síntese, podemos identificar que passamos, de maneira geral, por períodos em nossa vida em que ocorrem profundas transformações, sejam psicológicas, sejam biológicas e, naturalmente, ocasionando que ambos os aspectos estejam inter-relacionados. Os mais famosos são, sem dúvida, aqueles que compreendem o nascimento, a transição da infância para a adolescência, da adolescência para a idade adulta, da idade adulta para a velhice e, da velhice para a desencarnação. Somado a essas transições naturais, psicobiológicas, pelas quais passamos, existem também as experiências profundas de vida que se constituem como temas importantes e marcantes em nossa jornada: a morte de pessoas queridas, o casamento (e a separação), o primeiro emprego, o desemprego, a dificuldade financeira, a primeira experiência sexual, o nascimento dos filhos (e a desencarnação deles), problemas de saúde, fatos agradáveis junto a amigos, familiares, na vida profissional, enfim....

Estes “temas” comuns, interferem também (lembrando que somos pessoas religiosas, mas pessoas comuns) em nosso estado interior e na nossa relação com a Espiritualidade. Então, é natural que, ao passarmos por alguma destas experiências, soframos os choques que nos conduzam a movimentarmo-nos interiormente a fim de, periodicamente, nos ajustarmos e nos adaptarmos aos novos papéis e sentidos que a vida nos impõe e nos pede. Essas transições causam um relativo estado de sofrimento psíquico, constituindo-se, entretanto, como experiências naturais da vida, mediante as provas que esta nos apresenta. 

Os períodos psicológicos mais propícios para o surgimento da Noite da Alma são os da transição da adolescência para a fase adulta (dos 28 aos 32 anos, aproximados) e da fase adulta para a velhice (dos 50 aos 60 anos). Isso porque ambos se referem a períodos da vida em que é exigida, da parte de cada indivíduo, uma definição clara e com consequências sérias, sobre quais são os seus objetivos diante da vida.

Na entrada para a vida adulta, a saída do lar, a busca pela estabilização profissional, a constituição de uma família, sustentar-se por si mesmo integralmente, etc. Na entrada da velhice, a nova condição de limitação do corpo, a diminuição no ritmo profissional, o esvaziamento do lar, a necessidade de encontrar novas metas, uma vez que as da fase adulta já passaram, sendo conquistadas ou não. Esses dois momentos fazem emergir dois sentimentos estruturantes na experiência propícia ao amadurecimento psicológico: a angústia e o abandono (Jesus: "Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonastes?"- Mateus 24,46).

Assim, o indivíduo que se apresenta imerso neste estado de Noite da Alma, tende a permanecer em períodos maiores de silêncio, não somente dentro do templo religioso, mas em sua vida cotidiana também, numa postura de maior introversão, tendendo também a manter-se mais isolado, em relação à comunidade religiosa.

Um sentimento de tristeza e de desrealização também faz-se presente, muito embora estes não se expressem ao longo do dia-a-dia, enquanto o indivíduo se entretém com as atividades profissionais, familiares, de lazer, etc. De acordo com o contexto de vida de cada um, esse estado pode se caracterizar também por dificuldades em sua vida particular. Projetos não se realizam ou se postergam, de maneira não planejada, ocasionando um aprofundamento neste sentimento de desconexão espiritual e de frustração.

Um fator importante a ser considerado por aquele que esteja, neste momento, passando por tal experiência. Não deixar que seu estado interior interfira, predominantemente, de maneira prejudicial em sua vida cotidiana. E para isso é preciso, exatamente dentro do objetivo deste texto, entender-se esse estado como sendo natural e possível na experiência religiosa e espiritual, pois é um processo de nossa consciência “movendo-se” para uma nova ordenação de sentidos de quem somos e de qual o nosso papel diante da Vida e de Deus. É um processo de tentativa para se atingir um nível mais amplo e elevado de consciência.

Saliento que, enquanto dure a Noite da Alma (não há um tempo preciso para início e término, depende da experiência de cada um), o indivíduo não perde sua fé, nem sua crença nos Guias, Orixás e em Deus, tão pouco deixa de estimar e gostar de seus irmãos de comunidade. No entanto, está vivendo um estado de introspecção, convidativo à períodos maiores de meditação e reflexão em torno de sua vida e de seus objetivos existenciais. 

Contudo, conforme já dito, é preciso entender, tanto aquele que vive a experiência, quanto aqueles que o cercam (até porque, cedo ou tarde, passarão, se já não passaram, pela Noite da Alma) que esta condição interior não deve se tornar um tormento insuportável que atrapalhe sua vida, de maneira geral. Isso é um processo para o atingimento de um novo estado psíquico (que não tem nada de mágico ou fora daquilo que não seja natural à condição humana). Compreender essa experiência é importante pois, caso contrário, pode gerar um sentimento de grande conturbação, acarretando num impulso inconsciente para o abandono e a renúncia de tudo quanto o indivíduo até então acreditava e se dedicava, como sendo fundamental para a sua vida, gerando processos maiores de sofrimento injustificáveis, pela atitude impensada, inconsciente e imatura.

Dessa forma, uma vez tocado pela Noite da Alma, permita-se o indivíduo à presença da dúvida diante de Deus e de tudo quanto essa dúvida se mostrar. Permita-se, sem culpas, vivenciar essa insatisfação e esse sentido de desconexão espiritual. Natural até, que sua presença na vida religiosa, durante esses períodos de “noite" e “escuridão”, se faça menos frequente e preenchida por um sentido de vazio. Não se culpe por sentir-se insatisfeito e incompleto, conquanto também não transfira para os outros as causas da sua incompletude e insatisfação (por mais que muitas vezes outros, principalmente no meio umbandista, nos dêem muitas razões para isso). 

Deixe, sem medos, que esse Deus “morra” (ou seja, a experiência interior com Deus, que até então havia sido construída e acomodada dentro de si) para que possa renascer, renovada. Para Deus e para Cristo (no caso daqueles que são cristãos), assim como para os Orixás, se de fato eles existem, não há problema algum que você os esteja repensando e reelaborando as suas experiências com eles dentro de si mesmo. 

Certezas inabaláveis e inquestionáveis. Idéias que não se transformam e não se ampliam. Fé que não raciocina, que não interroga a si mesma e que não dialoga com a realidade interior e exterior ao indivíduo, em geral, são indicadores graves de uma perigosa acomodação espiritual. Não nos deixemos tornar, conforme a letra de um rock inglês, muito famoso, que tenho ouvido muito ultimamente, “confortavelmente entorpecidos”.

Contudo, persevere o indivíduo em sua busca por alcançar novos sentidos na sua relação com a Divindade e com a Vida. Não abandone a prática da prece e da oração, mesmo que nestes momentos se façam mais sofríveis e, até, frustrantes. Não se dê licenças morais para “experimentar” tudo o que até então não se permitia, justificando-se em seu estado de obscurecimento, o qual é, conforme já dissemos e ressaltamos, perfeitamente natural. E, se esse sentimento tiver um peso emocional muito grande para ser suportado, talvez por que esteja se ligando a outras questões emergentes de ordem psicológica, nada mais saudável que buscar um aconselhamento e um acompanhamento com um profissional da área.

Aplique-se em reservar momentos diários, mesmo que breves, para meditar e refletir, consigo mesmo, sem censuras nem repreensões para si mesmo, em torno da razão destes sentimentos que o invadem e, aos poucos, com o passar do tempo, irão surgindo novas possibilidades e novos sentidos para o existir e para co-existir em Deus, proporcionando um gradativo amadurecimento interior, preparando-o para novas e mais amplas experiências que se sucederão.

É necessário coragem para o auto-enfrentamento. Atravessar os vales escuros dos quais estamos repletos interiormente, pela condição de seres humanos, ainda rumando para a conquista da iluminação interior e da libertação do sofrimento. Entretanto, essa libertação iluminativa só ocorre quando mergulhamos em nossa escuridão tonando-a consciente em nós. Lembremos que a Luz surgiu das Trevas e não o contrário. 

Muitos ainda fogem deste enfrentamento, por maiores e contínuos sejam os convites da vida para tal cometimento, derrapando, alucinados pelas distrações da vida social, dos hábitos perniciosos, do cultivo de tudo quanto se perde ao longo do tempo, tentando postergar o dia em que deverão olhar para dentro de si mesmos e se auto-enfrentarem, e despertarem diante de seus medos, dúvidas, frustrações, angústias, aflições, etc.

Por mais dolorida e sofrível, seja essa a oportunidade de acender uma luz no seu mundo interior, para a conquista de um novo patamar em seu estado subjetivo, de maneira a viver saudavelmente as experiências a que somos convidados a nos integrarmos conscientemente. 

Saravá a todos.

A Visão de um Adepto: Pelo Amor ou pela Dor


Por: Gregorio Lucio

Nós tomamos lições da Vida e evoluímos interiormente “pelo amor ou pela dor”.

“Pelo Amor ou pela Dor”. 

Esse termo é muitíssimo falado e conhecido no meio espiritualista, notadamente, tendo sua origem na cultura espírita-cristã aqui no Brasil.

Refletindo a respeito do assunto, gostaria de tecer alguns comentários a respeito dessa máxima e, também, propôr aos amigos alguns momentos de meditação a respeito, servindo-nos de um referencial um pouco mais psicológico do tema em questão.

Digo isso porque muitas vezes interpretamos esse ensinamento derivando nosso olhar para o fato de que muitas vezes nos recusamos, diante das mais variadas provações da vida, a aprendermos a lidar com elas nos utilizando das melhores “virtudes” de que podemos dispôr. Isso sempre nos leva a uma interpretação exclusivamente Moral da nossa maneira de agir ou re-agir a uma dada dificuldade (interna ou externa) e nos faz pensar em questões de “certo” ou “errado”. 

Contudo, em se tratando de uma abordagem humanística, a qual desejo compartilhar com os amigos, essa não é a maneira mais eficiente de se pensar a questão. O aspecto moral, muitas vezes, nos castra e nos conduz a um sentimento de culpa e de auto-punição por não sabermos lidar com aquilo que ainda não nos sentimos capazes ou do que ainda desconhecemos em nós. A interpretação puramente moral (muito comum nos ambientes religiosos, embora a sua validade), sempre nos limita a compreensão mais ampla acerca daquilo que envolva a realidade humana.

Entendemos, com isso, que lidar com as dificuldades servindo-nos da paciência, da tolerância, da compreensão, da disciplina, da fé e da oração, trabalhando ativamente e esperando com serenidade a resolução dos problemas, é passar pela experiência da provação e adquirir o aprendizado espiritual (amadurecimento) “pelo amor”. De outra forma, lidar com os obstáculos existenciais (sejam dificuldades externas a nós, ou nossas limitações interiores) por meio da revolta, da inconformação, da ansiedade descontrolada, do pessimismo, da agressividade, ou apelando para mecanismos doentios e externos para a fuga da realidade (cigarro, bebida, alimentação em excesso, gastos compulsivos, etc.) nos liga ao processo da “dor”, a qual advirá, sempre, mas também com a finalidade de nos trazer aprendizados, embora de maneira muito mais demorada e, invariavelmente, nos exigindo que refaçamos as lições e passemos pela prova por uma segunda vez (ou mais, até que consigamos passar por elas).

Enquanto nos demoramos, ignorando ou resistindo às necessidades de mudança na nossa maneira de olhar a nós mesmos e, consequentemente, a vida que nos cerca, colhemos os frutos, muitas vezes amargos, como pagamento da condição em que nos encontramos. Enfermidades variadas, crises financeiras, desemprego, dificuldades afetivas. Partes de sua causa (quando não, sua totalidade) estão enraizadas no desajuste e na inconsciência que detemos acerca de nossas próprias necessidades e potenciais íntimos, os quais permanecem, por longo tempo, imersos em nossa sombra psicológica.

Não quero que os amigos entendam a “sombra psicológica” como a presença do Mal, em nós. Não é isso. Embora seja verdade que todos nós, na condição de seres humanos, estamos ligados a essa dualidade existencial, carregando o Bem e o Mal em nosso íntimo. Independente se aceitamos isso ou não. Mas, a sombra psicológica não se refere a uma mera questão moral (bem ou mal). A sombra psicológica refere-se a tudo aquilo (de bom ou “não tão bom”) que permanece desconhecido ou reprimido em nós mesmos. Isso inclui conflitos, traumas, idéias ou desejos reprimidos, frustrações, lembranças desagradáveis, assim como, potenciais desconhecidos, qualidades não descobertas, faces da nossa personalidade ainda não exploradas, o nosso “vir-a-ser”.

Quando não conseguimos “jogar luz” sobre esses conteúdos que estão em nossa sombra, permanecemos ignorando-os. Entretanto, o fato de os ignorarmos não significa que eles não nos influenciam ou, até mesmo, determinam muito da nossa maneira de ser, de agir ou re-agir perante tudo aquilo que “mexe com a gente”. 

Os conteúdos psicológicos perturbadores que carregamos possuem cargas emocionais de grande força para orientar as nossas reações diante das situações e das pessoas com quem lidamos e, muitas das vezes, nos impelem na direção de adotarmos as piores entre as reações possíveis (pessimismo, tristeza, agressividade, compulsão, etc.), obscurecendo nossa capacidade de escolhermos as melhores (serenidade, compreensão, esperança, etc.). Naturalmente, essas reações são mecanismos espontâneos de “defesa” e possuem a finalidade de nos proteger do contato “direto” com faces da nossa realidade psicológica interior, perante as quais ainda nos encontramos imaturos para lidar.

E, enquanto não tornarmos esses conteúdos conscientes, trazendo-os, um a um, para o centro da nossa consciência, identificando-os, refletindo a respeito de suas origens e de que forma eles estão afetando nossa vida, eles permanecerão lá, no nosso “porão” interior, mas como forças ativas que ficam “empurrando” sem parar a nossa mente, cada vez com mais intensidade (e causando mais sofrimento). Por isso, não devemos nos olhar com repreensão e punição quando não conseguimos agir da melhor forma possível. Devemos, reconhecer nossas reações e compreender as que são “legais” e as que não nos fazem bem e, aos poucos, irmos substituindo-as por outras saudáveis. É um processo de re-educação e de auto-consciência. Sempre respeitando nossos limites, embora sem nos acomodarmos com eles (os limites). 

Mesmo os conteúdos positivos, enquanto permanecem na sombra, também causam estados perturbadores, pois eles estão, assim como os demais conteúdos psíquicos, impulsionando a sua liberação, o seu reconhecimento, mas como permanecem nessa zona obscura de nosso íntimo, eles geram estados de apreensão e de angústia, até que sejam, enfim, liberados pela consciência e possamos deles nos apropriar. Nesse ínterim, todos eles estão lá, chocando-se contra as “paredes” do nosso inconsciente, tentando subir à superfície, até o dia em que tomemos a decisão de os encarar, “iluminá-los” e diluí-los, para que sejam transformados em energias renovadoras para a nossa saúde emocional e espiritual. 

Sinceramente, não há outro caminho. Não há religião, mediunidade, caridade, apometria, trabalho espiritual, vela, passe, benzimento, banho de mar, crucifixo, patuá, descarrego, que possa resolver. Nossas crenças e nossa religiosidade são importantes e tem o papel comprovado de aliviar as tensões interiores, mas nunca o de resolvê-las. Trocar de carro, de casa, namorado(a), esposa(o), a marca do cigarro ou a dose de bebida, também não resolve. Nada. Tudo isso, embora digno de respeito, é infrutífero, possuindo resultados apenas superficiais. 

Somente quando há o esforço e a vontade de encarar a si mesmo, auto-analisar-se, e modificar o olhar sobre a sua realidade interior é que o indivíduo torna-se capaz de produzir a iluminação psicológica e espiritual. E, se sozinho não sou capaz de fazê-lo, nada mais justo que buscar apoio psicológico diretamente com um profissional, o qual pode ajudar a facilitar esse processo de auto-descoberta. Procurar um médico (do clínico geral ao psiquiatra) diante da enfermidade, sempre. Grupos de meditação (desde que sérios, como a Brahma Kumaris), de apoio terapêutico e a constelação familiar, também são válidos. Não há mal nenhum nisso. Psicólogo, analista, etc., não são “para loucos”. São, justamente, para “não ficar louco”.

O “amor ou a dor” nos levam para o amadurecimento, invariavelmente. Tudo isso porque eles são recursos que estão em nós por ação da Lei de Progresso (Lei da Evolução Espiritual), a qual se encontra “escrita” nas estruturas da nossa consciência. Não nos esqueçamos de que todas as Leis de Deus estão gravadas em nossa consciência. As Leis Divinas, em verdade, não estão em livros, em templos religiosos, em práticas formais da relação com Deus. Essas são expressões sociais, sempre respeitáveis, naturalmente, dessa relação que cada um deve, intimamente, estabelecer com o Sagrado, independente do local, da roupa, da situação ou de qualquer circunstância exterior em que estejamos. Por que, tudo que é externo nós podemos mascarar, driblar, “fazer parecer”. Mas, das Leis Divinas que estão insculpidas em nosso mundo interior, as quais nos ligam diretamente ao Divino, dessas nós não podemos fugir.

Não há destinação ou determinismo para continuarmos sendo sempre o que somos, com os mesmos hábitos, mesma conduta e a mesma maneira de nos colocarmos diante da vida. A vida nos impulsiona para, mesmo sem querermos, lidarmos com nossas facetas desajustadas afim de que as resolvamos e nos libertemos as algemas que criamos durante os períodos de inconsciência. Da mesma forma, enquanto fazemos esse processo de limpeza e reorganização interior, a Lei de Progresso nos possibilita identificar muitos traços positivos e saudáveis que também estão em nós (não são externos e nem fruto de nenhuma Graça Divina), mas até o momento não reconhecidos.

Jesus Cristo, quando afirma, em João 10:34 “Vós sois Deuses”, deixou gravado justamente que o nosso “vir-a-ser” está contido em nós mesmos. Não é o resultado de uma força externa, mas a conquista de um esforço interior que cada um deve empreender para o seu próprio amadurecimento e sua própria ascensão. Não temos como renunciar ou escapar a isso. Ninguém fará por nós. Em nenhum lugar, em nenhuma religião, com nada que seja externo a nós mesmos. Aliás, nem Ele o fez. Por isso estamos aqui, mais de 2.000 anos depois, ainda tentando acertarmos essa lição.

Que o Mestre Divino esteja conosco, sempre.

Fraternalmente.

A Visão de um Adepto: O Processo de Ensino-Aprendizagem na Umbanda


Por: Gregorio Lucio

Pensando a respeito do processo de ensino-aprendizagem, na cultura umbandista, gostaria de compor algumas linhas sobre o tema.

Diferentemente de um fato que ocorria no meio umbandista até poucas décadas atrás (até a década de 90), em que pouquíssima coisa havia sido registrada e transmitida utilizando-se do recurso do livro e, posteriormente, da internet, hoje, vemos uma grande proliferação de obras literárias (acadêmicas ou não) tratando especificamente da Umbanda, sem contar outras falando das demais religiões pertencentes à cultura afro-brasileira, assim como uma grande diversidade de sites e blogs na internet, nos quais também existem conteúdos e informações (embora muitas vezes repetidos ou plagiados) a respeito deste universo religioso.

Não pretendo julgar a validade ou a qualidade do conteúdo presente nestes livros ou na internet, pois, naturalmente, existem aqueles de valor considerável e aqueloutros que, de fato, não merecem nenhuma consideração, tamanha a pobreza de idéias, a quantidade de conceitos equivocados, visões de mundo distorcidas, etc. 

E nem preciso ir muito longe. Pegando um autor famoso no meio, Rubens Saraceni, cito 4 livros de sua autoria e de seu “preto-velho” Pai Benedito de Aruanda (que teria sido Dante Alighieri), "Código de Umbanda", "O Livro das Energias", "A Gênese Divina dos Orixás" e "O Código da Escrita Mágica Simbólica" (sem contar aqueles livros tratando das histórias de Exus, como o Guardião da Meia-Noite e outros).

Tais obras contém uma infinidade de erros, omissões, prolixidades e falhas de informação no que se refere:
  • História das religiões: dizer que o Judaísmo é a religião mais antiga do mundo, quando qualquer pessoa que tenha feito até o ensino médio sabe, ou deveria saber, que a religião mais antiga da humanidade hoje é o Hinduísmo; 
  • Falhas em conceitos sobre mediunidade: 1º o autor diz que NINGUÉM, em nenhuma religião, filosofia ou doutrina espiritual, jamais tinha tratado do campo vibratório do médium...acho que ele nunca leu André Luiz, que desde 1940 fala disso, sem contar Matta e Silva, escritor Umbandista, que já desde 1959 escrevera a respeito deste assunto. 2º ele afirma que os médiuns na Umbanda trabalham, em determinadas linhas, incorporados com seres de natureza “extra”-humana, como elementais e outros, pertencentes a dimensões distintas do plano espiritual humano. Outro erro crasso, porque o mecanismo mediúnico ocorre pela ligação mental entre seres de mesma natureza. Naturalmente, os seres que estão envolvidos no mecanismo mediúnico podem ser mais ou menos evoluídos uns que os outros, mas jamais pertencentes a naturezas diferentes; 
  • Erros científicos clamorosos: só pra citar alguns básicos, afirmar que a partícula nêutron tem carga positiva..ou, que “a noite as plantas absorvem gás carbônico e liberam oxigênio durante o dia”, ou ainda que “nosso ar é uma combinação de vários gases no qual predomina o oxigênio”...
Tudo isso contido em obras que se dizem de Teologia e Doutrina de Umbanda...já pensou uma pessoa que não é da Umbanda, mas tem conhecimento, e pega esses livros pra ler? O que ela vai pensar da nossa religião...

Estou citando esses “pequenos” exemplos de erros deste autor, não porque eu tenha nada contra ele, absolutamente. Somente porque ele figura entre os mais famosos no meio. Outros, que nem são famosos então...é de chorar.

Bom, isso a parte...quero enfatizar que o processo de ensino-aprendizagem na Umbanda está diretamente ligado à transmissão oral (oralitura) e a experimentação multissensorial (que não envolve somente o uso do intelecto, mas de outras funções e percepções psíquicas). Ou seja, nesta prática religiosa, o conhecimento é transferido na interação direta e pessoal entre Pai (Mãe)-de-Santo e Filho-de-Santo, a qual ocorre pelos ensinos que são ministrados durante o dia-a-dia dos trabalhos – antes, durante e após estes –, nos ritos especiais e nas atividades específicas de iniciação (as obrigações, preparações ou amacis, de acordo com o termo usado em cada casa) pelas quais os adeptos passam, ao longo do seu aprendizado mediúnico.

Ter contato com os objetos e elementos do culto. Sentir os pés descalços no chão. Ouvir o som dos cânticos e dos instrumentos. Orar em silêncio. Rezar em comunhão com o irmão de terreiro. Mãos dadas. Observar o multicolorido das roupas, fitas e velas. Sentir os aromas das ervas, das defumações e das flores do ambiente. Perceber-se em transe, tomado por uma energia fora de si-mesmo. 

Tudo isso compõe um processo de aprendizagem que envolve múltiplas sensações e percepções, ampliando a experiência psicológica e espiritual pertinente à Umbanda. Trata-se de um conhecimento experimental, de um saber-fazer que só pode ocorrer na prática e na experimentação direta e interessada nas giras, nos trabalhos espirituais de toda e qualquer natureza que se desenvolvem dentro do terreiro. Essa condição que é dada ao filho-de-santo, a de “estar presente”, é que colabora para a gradual construção de uma “compreensão intuitiva” a respeito da realidade espiritual e dos sentidos profundos que estão “velados”, ocultos, nos trabalhos espirituais.

Dessa forma, na Umbanda, a porta para o acesso ao conhecimento espiritual está em “sentir” e “viver” esta forma de religiosidade. Ou seja, a aprendizagem de maior valor para essa cultura religiosa pertence ao que vem “de dentro” do adepto e não, necessariamente, às formas externas de aquisição de conhecimento. Ao longo dos anos, a relação subjetiva, interna e particular, com as entidades espirituais e com o seu Mestre Espiritual (Pai/Mãe-de-Santo) implica em revelações que vão sendo abertas para o médium a pouco e pouco.

As ferramentas para a aquisição do Saber, na Umbanda, dentro desta perspectiva “desde de dentro” do médium são as intuições, as descobertas interiores, as revelações, a dedicação, o interesse pessoal e o dom (aqui entendido como a capacidade inata do indivíduo de captar e receber orientações diretas do mundo espiritual). Todos esses fatores remetem a compreensão de que o modo de aprender na Umbanda está ligado a uma tradição que é vivida dentro do terreiro, aprendida e repassada, principalmente por meio da memória e da oralidade. 

Falando da oralidade, quero dizer que a fluência do ensino é transmitido da “boca ao ouvido”. Da boca do Chefe de Terreiro ao ouvido do(s) médium(ns). Isso tem uma força simbólica muito grande, pois ouvir diretamente um conhecimento transmitido por aquele que tem o papel reconhecido como o de Mestre, vai muito além do que ler algo distante e descontextualizado daquela tradição na qual o médium está inserido.

Entretanto, a Umbanda não marginaliza a leitura como fonte de conhecimento. Não há uma oposição ao livro ou a leitura. O que acontece é a acomodação da cultura literária como sendo uma experiência de segundo plano, complementar, e não a experiência central para a transmissão do conhecimento. Essa experiência central, quero ressaltar, pertence ao campo da experiência pessoal e subjetiva, da transmissão oral entre Mestre e discípulo e da memória conservada ao longo das gerações dentro do terreiro. 

Devemos compreender que os livros cuja temática é a Umbanda, colaboram para trazer esse universo religioso para uma dimensão menos marginalizada em nossa sociedade (pois nossa sociedade atual valoriza mais a linguagem escrita do que outras formas de linguagem). Podemos ver que atualmente há um interesse crescente por parte de historiadores, antropólogos, cientistas da religião, psicólogos entre outros pesquisadores no mundo acadêmico, em estudar a Umbanda e divulgá-la como um fenômeno religioso válido e com uma cultura rica e saudável, ao contrário do estigma que fora criado sobre a Umbanda, taxando-a como uma seita esdrúxula, repleta de crendices e práticas perigosas para a saúde psiquiátrica das pessoas.

Contudo, os livros, os blogs (inclusive esse que você lê) e os sites tratam sempre de aspectos externos, genéricos e superficiais da Umbanda. Eles falam daquilo que “pode ser falado” abertamente. Por isso, o cuidado que o adepto sempre deve ter ao ler e analisar tais obras a respeito daquilo que elas trazem e ensinam, pois muitas das vezes os livros estão refletindo o pensamento próprio do seu autor dentro daquela tradição que é seguida por este e que, naturalmente, não cabem dentro da tradição que seguimos particularmente. Vale como um ponto de informação e reflexão, mas nunca como “pedra de toque”. 

Os livros (os que detém conteúdos coerentes, é claro) também nos ajudam a entender a Umbanda como um fenômeno religioso, compreendendo seu desenvolvimento histórico e social, ensejando que tenhamos uma visão crítica/analítica de nossa religião, reforçando nossa identidade cultural-religiosa e sabendo situá-la perante a sociedade em que estamos inseridos.

Assim, enfatizo que as obras umbandistas (e espiritualistas em geral) são um recurso valioso para o médium e demais adeptos, mas que têm seu lugar bem definido e delineado na prática Umbandista.

Os conhecimentos centrais e profundos só são acessados pela experiência na prática cotidiana, no “estar presente” e interessado no terreiro, e pela transmissão oral, de “boca a ouvido” entre Pai(Mãe)-de-Santo e Filho-de-Santo...entre Mestre e discípulo.

Saravá a todos!

Bibliografia Consultada:
Chaves, Kelson G.O. (2012). Umbanda: Saberes e Tradição mágico-religiosa (in. Da Minha Folha, Múltiplos Olhares Sobre as Religiões Afro-Brasileiras)

A Visão de um Adepto: Do uso (ou não) da Mediunidade


Por: Gregorio Lucio 

Não praticar a mediunidade, dentro do “compromisso” assumido no mundo espiritual, acarreta doenças e desajustes espirituais? 

Outro mito muito popular no imaginário das religiões mediúnicas (notadamente o Kardecismo e a Umbanda), assim como o mito da tal “Mediunidade Inconsciente”, conforme já o tratamos em outro texto, essa questão do não uso (ou do afastamento da prática) da mediunidade gera muitas dúvidas e conflitos de ordem psicológica em tantas pessoas que, apesar de desejarem uma maior aproximação com o meio religioso kardecista ou umbandista, veem-se tomadas por reticências e por resistências. Naturalmente, essa compreensão - um tanto castradora, diga-se de passagem - remete a uma certa sensação ou impressão de “prisão” que vincula o indivíduo, “ad eternum”, à necessidade de “praticar a caridade” por meio da mediunidade e servindo aos “espíritos, Guias e Mentores”. 

Então, se eu não aceitar para mim a prática mediúnica, eu terei problemas na minha vida? Ou, se após eu ter aceito a mediunidade, desejar, por circunstâncias as mais diversas (desencanto com a religião, mudança de religião, ir morar no exterior onde não há terreiros e centros espíritas, motivos profissionais, de saúde, familiares, etc.) afastar-me, mesmo que temporariamente, eu terei problemas? Minha vida vai “andar pra trás”? 

Absolutamente, não. 

Até por que precisamos pensar seguindo uma linha de coerência, não é? 

Como é que podemos dizer que o trabalho mediúnico é voltado para a tarefa de promover a Caridade, o Amor ao Próximo, o Bem Maior, o Consolo, a Esperança, a Orientação Saudável e Desinteressada, etc...e estarmos, nós mesmos, que nos dedicamos a esse “trabalho”, presos a algemas das quais não podemos nos libertar? Será que Espíritos de Luz, Mensageiros da Paz e do Amor, nos querem presos a eles, como escravos algemados a um “contrato assinado” em um momento que sequer podemos nos lembrar pois segundo dizem, seriam compromissos assumidos antes de reencarnarmos? 

Estarmos ligados a tarefa da Caridade significa participarmos e compartilharmos ativamente da prática dos princípios do Evangelho do Cristo. É “estarmos em Cristo”, conforme Ele mesmo houvera dito. E, então, estar em Cristo é estar preso, amarrado e destinado a sofrer, caso eu deseje outra coisa para a minha vida? Claro que não. 

Todos esses mitos surgiram no passado cada vez mais distante, em que havia muito pouco conhecimento acerca da Mediunidade, dos seus efeitos, dos proveitos que dela podemos usufruir, não só para contribuir com a ajuda ao próximo, mas também para nosso próprio benefício, em vista de como o exercício da mediunidade e da prática religiosa pode influir saudavelmente em nosso organismo físico e em nosso estado psicológico. Já existem vários estudos, inclusive, realizados por universidades do Brasil e do Exterior a respeito dos benefícios da prática mediúnica. 

Acredito que tudo evolui. Aquilo que no passado se encontrava na sombra da crendice, pela limitação do próprio conhecimento dos homens, vem, aos poucos, se iluminando, se esclarecendo, devido a evolução do conhecimento a respeito das questões espirituais. Isso ocorre tanto da parte do homens que passaram a estudar esses temas, mas também por parte dos próprios Mentores que trazem conhecimentos novos e elucidativos a respeito da mediunidade. 

Devemos entender que a Mediunidade não é um “dom”, assim como também não é um “estigma”. Não é uma graça que nos deixa melhor do que os outros, nem uma punição que nos rebaixa a condição de escravos do mundo espiritual. 

Portanto, devemos passar a compreender que a Mediunidade é uma Faculdade Mental. É um recurso extremamente valioso que temos à nossa disposição para ampliarmos, por meio da sua prática consciente e bem orientada, o nosso discernimento a respeito de nós mesmos, nosso auto-conhecimento, e também ampliarmos nossa visão a respeito da Vida e da realidade que nos cerca. Serve para deixarmos de olhar somente para nós mesmos, e passarmos a reconhecer os outros, as dores dos outros, as aflições dos outros, as doenças dos outros, as limitações dos outros e verificarmos que, assim como nós, existem outras pessoas que também sofrem, têm dúvidas, conflitos, limitações e que devemos nos ajudar, mutuamente, para que consigamos passar por nossas provas. A mediunidade nos ajuda a entendermos o quanto ligados e dependentes (não escravos) uns dos outros nós somos. 

Até por que nós só podemos ter uma atitude verdadeira de compaixão, caritativa, de companheirismo, etc., quando nos reconhecemos exatamente na mesma condição que os outros. Se nos julgamos acima, por que “somos médiuns”, nossa atitude será de orgulho somente ou, no mínimo, de indiferença. 

Outra Faculdade Mental que tem os mesmos efeitos que a Mediunidade, no que se refere ao auto-conhecimento, discernimento das conexões que temos com a vida, etc., é a Meditação. 

Então, a Mediunidade é um recurso que nos está à disposição para utilizarmos, caso seja de nossa escolha. Mas, e se eu não quiser me servir da Mediunidade? 

Bom, primeiro precisa se considerar o seguinte ponto. Você sente sinais da mediunidade em você? Já teve visões, sensações características, ouviu algo incomum, pressentiu acontecimentos, se sentiu doando energias para alguém ou algo do tipo, já se sentiu com a personalidade alterada? Já foi, de fato, tomado para um impulso de comportamento alheio à sua vontade? Se já, com que frequência? Por que, também tem isso, muita gente acha que é médium por que alguém falou que ela era médium...mas a pessoa nunca sentiu nem um arrepio que fosse, nem de frio... 

Se a pessoa não utiliza o recurso da mediunidade, ocorre da mesma forma que uma pessoa que tem audição normal e coordenação motora adequada, mas que não se interessa por aprender música, por exemplo. Ela continua ouvindo e conseguindo controlar seus braços, mãos, pernas, sua voz, etc. Mas ela não é capaz de tocar um instrumento musical, de ouvir uma música e conseguir distinguir o som próprio de cada instrumento, não é capaz de perceber se o cantor desafinou, se tem um instrumento fora de compasso, etc. Ou seja, ela tem uma percepção mais ou menos limitada em relação a música. Ela entra em contato com a música, mas sua percepção fica limitada. Ela pode até ficar com dor de cabeça por causa da música que ela está ouvindo, mas como não aprimorou sua sensibilidade, ela não sabe dizer ao certo por que está com dor de cabeça ou porque quando ouve aquela música se sente mais leve, mais feliz, mais serena, etc. Da mesma forma, se ela não aprimora sua sensibilidade espiritual, por meio do exercício mediúnico, ela entra em contato com o mundo espiritual (por que nós nos encontramos envoltos pela realidade espiritual), sente a sua influência, positiva ou negativa, mas também não é capaz de distinguir aquilo que a está fazendo bem ou não. Ela entra num ambiente, se sente mal, mas não sabe dizer o porquê. Ela fala com uma pessoa, se sente bem, mas não sabe identificar, etc.. 

Há uma outra situação que é a de quando a pessoa tem uma sensibilidade já aguçada, seja porque ela floresceu na pessoa em dada fase da vida, ou por que a pessoa já vem exercitando a mediunidade e aí, por diversas situações possíveis, ela deseja se afastar desta prática. 

Nesse contexto, precisamos compreender que a mediunidade funciona em nós como algo dinâmico e pulsante. A mediunidade movimenta nossos conteúdos psicológicos, aguça nossa sensibilidade, amplia nossas percepções. É como uma correnteza que flui com intensidade e que precisa ser canalizada, caso a pessoa se decida a mudar de rumo. Dessa forma, é muito comum a pessoa com uma sensibilidade espiritual, mas fora da prática mediúnica, destinar suas energias para a área das artes, da pintura, da poesia, da música, da atividade esportiva, da medicina, da educação, da psicologia, da ação solidária, da Meditação, da Yoga, do Tai Chi, do Johrei, etc. 

Da mesma forma, quando transferem-se de religião, as pessoas podem aplicar a sua sensibilidade em atividades pertinentes que são executadas neste novo ambiente em que passam a frequentar. Participam de corais, de grupos de oração, de grupos de meditação, grupos de novenas, etc. A sensibilidade da pessoa irá encontrar uma forma de se expressar, mas, naturalmente, o canal mediúnico irá se “fechando”, pois é como se, podendo enxergar, a pessoa não o quisesse e insistisse em manter seus olhos vendados. Ou, podendo movimentar um braço, ela o amarrasse. Aos poucos, começa a ocorrer a anulação daquela função já adquirida, entretanto, no caso da mediunidade, sem o prejuízo para o organismo, conforme aconteceria com uma pessoa que se cegasse ou atrofiasse um braço. 

Quando tratamos do termo “compromisso mediúnico”, precisamos compreendê-lo como uma escolha consciente, tomada após um processo de amadurecimento da pessoa, a qual se decide por seguir um caminho de busca espiritual. E, naturalmente, como qualquer compromisso que assumimos, hoje, agora, nesta vida, conscientemente, nós não podemos simplesmente “virar as costas” quando mudamos de ideia, nos arrependemos, ou o desejamos, seja por qual motivo for. Mas isso não é um problema da mediunidade. É um problema da Vida. O que vai imperar nesse caso é a Lei da Consciência. As Leis de Deus estão inscritas na Consciência de cada um. Por mais que a pessoa tente disfarçar, lá no fundo tem uma “voz” que a lembra das escolhas que fez. 

Nós podemos simplesmente virar as costas para o nosso trabalho profissional e ir embora, por mais descontentes que estejamos? 

Nós podemos simplesmente virar as costas para a nossa família e “sair andando”, como se as pessoas que estão em nosso lar não fossem nada? 

Nós podemos abandonar um companheiro, um amigo, um(a) namorado(a), após termos nos vinculado a eles sem maiores comprometimentos? 

Nós podemos simplesmente virar as costas para a religião que escolhemos seguir, sem nos achar compromissados com nada nem ninguém? 

Qualquer pessoa que esteja de posse da sua saúde psicológica sabe que não podemos fazer isso. A não ser pessoas que estão doentes psicologicamente é que são capazes de virar as costas para os compromissos que assumem e simplesmente abandoná-los sem a menor “dor” na consciência. 

Todo compromisso assumido gera responsabilidade. Isso é da Lei da Vida. 

Toda Responsabilidade reconhecida se instala na Consciência de todo Ser Humano. 

Assim, quando o indivíduo deseje se desvincular da mediunidade, o que ele deve, primeiramente, é saber se conduzir éticamente. Exponha o seu desejo, comunique sua vontade e peça a licença para se afastar, com maturidade, para os responsáveis pela Casa que frequenta. Tenha em mente que os maiores laços que nós construímos na Vida, são os laços humanos, e não podemos nos desfazer das pessoas como se elas não tivessem significado nenhum. Esteja aberto para ser compreendido, ou não, pois da mesma forma que você, a pessoa do outro lado também é um ser humano e nem sempre toma a melhor atitude para todas as situações. Procure não falar mal do lugar que o acolheu, tão pouco das pessoas que seguiram ao seu lado, durante o tempo em que lá permaneceu. Não tome decisões guiado pela emoção do momento. Ore, reserve para si alguns dias para refletir a respeito. Veja se são justas a suas alegações e coerentes os seus motivos. 

Digo isso porque é da Lei, pela sua própria Consciência, que a pessoa que não sabe se conduzir e rompe seus laços com violência, com maledicência, com ingratidão, com abandono, etc., seja colocada novamente diante daqueles a quem se vinculou para resgatar com harmonia e maturidade os deveres que assumiu espontaneamente. E, ao se recusar e insistir nesta postura, a própria consciência da pessoa vai colocando-a em situação de sofrimento, de angústia, por que não se permite reconhecer que não soube comandar os seus passos pelos caminhos que deveria trilhar numa experiência de felicidade e de gratidão. 

E isso, como o dissemos, não é uma consequência da mediunidade ou uma punição dos Guias e Mentores de Luz. É uma consequência que vem pela nossa própria consciência, seja em qualquer lugar ou com qualquer compromisso sério que assumimos ao longo da nossa vida. Saiba que não é o fato de mudar de religião ou desejar se desvincular da mediunidade que o fará sofrer, mas é a maneira pela qual você se conduzirá neste processo. 

Gratidão sempre! 

Que o Mestre Jesus nos abençoe!

A Visão de um Adepto: Correntes e Fraternidades Médicas


Por: Gregorio Lucio 

Complementando o artigo que publiquei ontem ( Sustentação no Trabalho Espiritual ), gostaria de desdobrar um assunto no qual toquei, referente a utilização dos pensamentos positivos que são irradiados ao longo dos trabalhos espirituais. 

Desta vez, irei focar esse texto para responder duas dúvidas muito comuns que muitas pessoas possuem: 
  • Como os Guias e Mentores de Luz tratam das pessoas necessitadas, ministram remédios e, até mesmo, “operam” enfermos? 
  • Como os Guias e Mentores de Luz fazem o tratamento de doentes (já desencarnados) e espíritos sofredores no mundo espiritual? 
Bem, primeiramente é extremamente oportuno esclarecer que o objetivo dos Mentores de Luz, dentro das correntes médicas e das Fraternidades dos Médicos do Espaço, não é o de concorrer com a medicina da Terra, tirando a sua importância. E nem é a sua tarefa principal a de propiciar a cura das doenças que acometem o corpo físico. Todo e qualquer paciente que sofre de qualquer mal, tanto orgânico quanto psicológico, deve ser orientado a buscar o tratamento clínico e terapêutico conveniente, com os profissionais adequados. 

Quando as curas do corpo material ocorrem por intermédio destes Benfeitores, isso acontece, na maioria das vezes, para que sejam postos à prova os preconceitos e o ateísmo de muitas pessoas (e do próprio doente, quando é o caso) que ainda desacreditam da existência da Vida no Mundo Espiritual e, principalmente, dos que não acreditam na Providência Divina. Os Guias e Mentores de Luz buscam, primordialmente, fortalecer espiritualmente os enfermos, direcionando recursos terapêuticos para tratar das cicatrizes no Corpo Espiritual dos pacientes, restaurar, dentro do possível, as matrizes energéticas que regulam o funcionamento do organismo espiritual e, consequentemente, diminuir o sofrimento, as dores e o desconforto no corpo físico, o qual é [o corpo físico] uma extensão direta do Espírito. 

Os Benfeitores formam e coordenam no Plano Espiritual, grandes agrupamentos de Espíritos que foram, em todas as épocas da Humanidade, ligados à prática da medicina e da cura, de uma maneira geral. Estes Seres de Luz, formam as Correntes e Fraternidades dos Médicos do Espaço. Dois de seus principais e mais conhecidos Mentores são: José de Arimatéia e Dr. Bezerra de Menezes. Junto destes, vários outros, anônimos ou não (sejam espíritos militantes das correntes kardecistas ou das correntes de umbanda) desenvolvem no Plano Espiritual um trabalho de acolhimento e tratamento de doentes, tanto encarnados quanto desencarnados. 

Meu objetivo não é o de tratar das questões de saúde-doença, neste texto, mas vale colocar que muitas pessoas conservam uma visão um tanto equivocada, de que ao desencarnar um doente liberta-se integralmente do mal que o acometia, uma vez que ocorreria a “libertação” do Espírito. Em realidade, isso é uma regra que se aplica somente àqueles enfermos que tenham a sua doença como originária de um processo de expiação (como, por exemplo, as crianças, em tenra idade, vítimas de doenças graves) e aqueles que tenham sabido se conduzir saudavelmente e com maturidade perante o seu estado doentio (sabendo lidar com suas dores, aflições e até mesmo o sentimento de inconformação e revolta por se encontrarem doentes). 

Entretanto, sabemos que muitos enfermos são vítimas de seus próprios maus hábitos e excessos, sejam de ordem material (alcoolismo, tabagismo, alimentação desregrada, narcodependência, etc.), sejam de ordem psicológica (agressividade, violência, irritabilidade, revolta, inconformação, sexolatria, etc.) os quais acabam ocasionando, direta ou indiretamente, os fatores que os predispuseram a padecer o adoecimento do seu corpo físico. Nestes casos, ao desencarnar o paciente leva consigo as “raízes” da doença, gravadas em seu corpo espiritual. Isso por que a origem do estado doentio se encontra vinculada ao estado psíquico desarmonizado do paciente, o qual, enquanto não for tratado adequadamente, continuará promovendo distúrbios (se não aqueles de que hoje padece, outros que poderão se formar). Em casos mais graves, é necessário que ocorra o expurgo da doença que desestrutura e macula o corpo espiritual, e essa somente se dá pelo processo da reencarnação, na qual o ser trará consigo um mapa genético, em partes herdado de seus pais, que estabelecerá em seu corpo material as condições para que ocorra tal “depuração” de seu corpo espiritual. Daí surgem, sob o ponto de vista espiritual, as más-formações, a anencefalia, as tumorações no período perinatal, as diversas síndromes de ordem genética e outros males congênitos. 

Por conta disso, os Mentores de Luz, sob a Misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo, formam legiões inteiras de socorro e amparo a todos nós que tanto necessitamos de suas mãos amigas e de suas irradiações luminosas, necessitados que ainda nos encontramos de vencermos a nossa própria ignorância diante da Vida e que tanto nos conduz ao sofrimento. Dando cumprimento a que ninguém seja abandonado, por mais responsável que seja pela sua própria desdita, esses Samaritanos desenvolvem suas tarefas não só dentro dos Templos de Umbanda e dos Centros Espíritas, mas também e, principalmente, dentro dos Hospitais, Clínicas, nas ruas, nas Penitenciárias, nos Asilos, enfim...em todo lugar em que haja um leito de dor ou alguém necessitado de amparo e refazimento de sua saúde física e espiritual. 

Realizam o seu trabalho, no que se refere aos enfermos da Terra, de maneira discreta e sutil, inspirando todos aqueles profissionais que se mostrem sensíveis à sua influenciação. Guiam as mãos de Cirurgiões. Trazem clareza e lucidez incomum aos seus pensamentos na hora da intervenção cirúrgica. Sustentam-nos com a sua irradiação luminosa, assim como o fazem os Espíritos Trabalhadores com seus médiuns, mantendo-os firmes em cirurgias complexas que se prolongam, às vezes por mais de 12 horas ininterruptas. Intuem e sugerem medicamentos e possibilidades de tratamento para enfermos desenganados, muitas vezes conquistando sucesso. 

De igual forma, no mundo espiritual, estes abnegados servidores transitam entre as regiões de trevas, formando Hospitais e Prontos-Socorros, montando caravanas de resgates a todos que se mostrem em condições de receber essa ajuda mais direta. Aqueles que ainda não estão nessas condições, também permanecem sob a sua vigilância e cuidados, sejam em que faixa espiritual se encontrem, somente aguardando o momento oportuno para que sejam também dali retirados. 

E, como é da Lei Divina que todos se vinculem para ajudar no Bem geral, a partir do momento em que os homens encarnados tornaram-se lúcidos o suficiente para que reconhecessem a realidade da Vida Maior e com ela pudessem trocar experiências e estabelecer contatos diretos e conscientes, foi possível a abertura das Leis de Umbanda para o plano físico, formando essa Sagrada Religião aqui em solo brasileiro, assim como a revelação do mundo dos Espíritos, vinculada pela Doutrina Espírita. Passamos, então, a contar com núcleos (centros espíritas e terreiros de umbanda) que compartilham de uma mesma compreensão a respeito destas questões que envolvem o intercâmbio com a Realidade Espiritual, embora sejam religiões completamente distintas. Por conta disso, estruturaram-se trabalhos de ordem espiritual do qual os Mentores de Luz podem extrair a matéria prima de que precisam para o cuidado com os enfermos de toda ordem. No entanto, agora essa contribuição é dada a eles de maneira consciente por parte daqueles que trabalham nestas Casas, diferentemente de antes quando extraiam as energias de que precisavam contando com muito mais dificuldade devido à ignorância de muitos encarnados. 

Segundo sabemos, tudo no mundo espiritual é influenciado e moldado pela ação da mente e do pensamento. Isso é um pouco difícil de entendermos aqui na Terra, pois para construirmos uma casa, por exemplo, precisamos de areia, cimento, tijolos, vigas, etc. Entretanto, no mundo espiritual, tudo se edifica ou se destrói pela ação da mente. Paisagens belíssimas, assim como abismos sombrios. Tudo é moldado e construído pelo comando da mente. As grandes cidades espirituais, colônias, hospitais, educandários, que estão edificados na região extra-física foram formados e são sustentados pela ação dirigida da vontade daqueles Numes Celestes que as elaboraram. 

Por isso, os Guias e Protetores insistem tanto na questão de vigiarmos os nossos pensamentos. O quanto é importante mantermos em equilíbrio as nossas expressões do pensar, pois eles veem “do lado de lá” aquilo que estamos criando em torno de nós mesmos. 

Os Mentores de Luz utilizam-se das projeções dos nossos pensamentos positivos, no Plano Astral, acumuladas no ambiente espiritual do terreiro ou da casa espírita, as quais se concentram sobre determinados pontos e locais específicos durante o transcorrer dos trabalhos, para convertê-los em essências que são utilizadas na elaboração de medicamentos, “curativos”, “emplastos”, “materiais cirúrgicos”, entre outros, para serem ministrados aos enfermos encarnados e desencarnados, quer estes estejam presentes no ambiente onde está ocorrendo o trabalho, quer estejam a quilômetros de distância dali. Assim é que o produto que é extraído como resultante dos trabalhos espirituais, atinge também Hospitais, Presídios, as ruas e lares onde existam pessoas doentes e desamparadas. 

Essas mesmas projeções, utilizadas em seu “estado bruto”, ou seja em energia radiante (“focos de luz” que cintilam intensamente no plano astral), também são utilizadas para desagregar e diluir acúmulos de energias negativas e nocivas que se encontram em diversos ambientes. 

Assim também essa energia radiante dos pensamentos é empregado no despertar de espíritos desencarnados adormecidos, ignorantes de sua condição ou embrutecidos pelo ódio e pela vingança. Uma das formas de que os Mentores se servem é a de lançar essas irradiações sobre eles envolvendo-os, e produzindo neles um estado de choque induzido, de maneira que possam retomar o contato com a realidade que os cercam e se aperceberam da nova condição em que se encontram. E para isso eles se valem das nossas irradiações, porque nós, como encarnados, nos encontramos numa faixa de vibrações mais próxima da que estes irmãos também estão (desencarnaram, mas conservam ainda muito da sua condição enquanto ainda na Terra, ou mesmo sequer perceberam que já deixaram o mundo físico). 

O processo de conversão dos pensamentos nos recursos de que os Guias e Mentores se valem é um processo bastante intrincado para a nossa compreensão. Mas o que podemos dizer, pelo que estes mesmos Mentores informam, é que isso se dá por um fenômeno chamado de Energismo. Como disse, os pensamentos são projetados no plano astral e permanecem em estado de energia radiante. Os Mentores detém o conhecimento para comandar, pela ação de suas mentes treinadas e enobrecidas, todo aquele acúmulo energético que foi formado no ambiente espiritual dos trabalhos. Eles recolhem porções do que foi produzido em recipientes, misturando-as com porções de essências extraídas da natureza (das matas, rios, mares, cachoeiras, de animais, etc.) e plasmam na dimensão espiritual medicamentos os mais variados (em estado “líquido”, “sólido”, “gasoso” ou radiante). Nossos pensamentos servem para eles, assim como a água, o plástico derretido, o metal incandescente, a argila e o concreto nos servem para as nossas criações. 

Também, todos somos orientados (e principalmente aos médiuns) a mantermos, particularmente, as nossas orações pelos enfermos e por todos os que necessitam. Isso por que, mesmo estando dentro de nossos lares, o processo é o mesmo. Quando oramos por alguém, irradiamos e projetamos essa energia radiante no plano astral, e os Guias e Benfeitores se utilizam dessa energia para aplicarem sobre qualquer um que necessite. A condução dos recursos que emanamos cabe exclusivamente aos Mentores de Luz. E o fazem aplicando esses recursos em forma de soros que são introduzidos no corpo espiritual do enfermo, impregnando determinados pontos de seu corpo com essas energias e movimentando-as dentro do organismo enfermo. Fazem o mesmo impregnando de energias salutares o local onde o enfermo se encontra, seus objetos e roupas de uso pessoal. Neste sentido, o mesmo processo ocorre com aqueles que estão desencarnados, com a diferença de que estes não possuem mais o corpo físico. 

Uma questão importante a se frisar é que ao tomar contato com as energias curativas, o organismo do enfermo registra, assimila-as e as retém conforme for de sua necessidade e condições. Por isso dissemos que o objetivo deste amparo não é o de arrancar do doente o mal, mas sim o de aliviar e promover o fortalecimento de seu corpo espiritual, principalmente, para que possa percorrer o caminho da doença, seja ela qual for, de acordo com as suas provas, podendo até, nesse ínterim, ser curado ou não, a depender de seus merecimentos e dos desígnios que somente dizem respeito a cada indivíduo e a Deus. 

Naturalmente, essas são algumas poucas formas de que as Correntes Médicas do Espaço se utilizam para trazer alivio e tratamento. Existem muitos outros recursos que seriam demasiadamente complexos para tratar neste humilde texto e, ainda, outros tantos que nos escapam completamente da possibilidade de compreensão. 

Esperamos, mais uma vez, termos contribuído um pouco com o enriquecimento dos nossos irmãos que, porventura, possam interessar-se. 

Que Nosso Mestre Jesus e as Correntes Médicas estejam sempre nos amparando em nossa jornada. 

Assim seja.

A Visão de um Adepto: Sustentação no Trabalho Espiritual


Por: Gregorio Lucio 

Gostaria de enfatizar, neste breve texto, uma questão muito importante em qualquer trabalho de ordem espiritual, principalmente naqueles que se utilizam do fenômeno mediúnico, tal como ocorre nos templos de Umbanda e nos centros espíritas. Essa questão se refere a atividade de Apoio e Sustentação. 

Geralmente, encontro muitos textos ou mesmo troco experiências, informações e conhecimentos com pessoas ligadas à Umbanda e ao Kardecismo, e de maneira geral, quando falamos dos trabalhos espirituais, enfocamos muito as expressões mais conhecidas da mediunidade, como a Incorporação (psicofonia, no kardecismo), a Psicografia, a Pictografia, a Vidência/Clarividência, a Clariaudiência, a Intuição, a Inspiração, a Psicometria e também algumas especialidades da mediunidade de efeitos físicos (como a materialização e a ectoplasmia). 

Entretanto, deixamos de lado uma especialidade que, embora não seja propriamente uma expressão mediúnica, é fundamental para os trabalhos espirituais: a atividade de Apoio e Sustentação vibratória do ambiente, no qual estão sendo desenvolvidos os trabalhos. 

Seja numa sessão espírita (de atendimento espiritual, desobsessão, ou mesmo numa palestra pública), seja numa gira em um terreiro de Umbanda, temos a presença de pessoas, colaboradoras da casa, desenvolvendo a atividade de sustentação vibratória, quer elas saibam disso ou não. Aliás, essa função pode ser e é, de fato, realizada até mesmo por aquelas pessoas que estão sentadas na Assistência destes trabalhos, mesmo que também não o percebam. 

Podemos desmembrar a composição de um trabalho espiritual, de uma maneira genérica, em alguns elementos que desenvolvem funções mais ou menos específicas. Primeiramente, temos dois conjuntos de colaboradores que operam em níveis diferentes do ambiente de trabalho, ou seja, temos os trabalhadores Desencarnados (Guias, Mentores, Protetores) e os trabalhadores Encarnados (Médiuns, Dirigentes, Auxiliares). Da mesma maneira, na parte da Assistência, temos a Assistência que é composta por Encarnados e uma Assistência que é composta por Desencarnados. Todos compartilhando do mesmo ambiente, em ambas as dimensões da vida. 

Como nossa intenção é falar da atividade de sustentação, gostaria de tratar especificamente, do conjunto dos trabalhadores encarnados, o qual é constituído por: 

Dirigente dos trabalhos, aquele que exerce a liderança espiritual naquela atividade; 

Médiuns Ostensivos (“médiuns de trabalho”, no dizer popular, pode ser médium de incorporação, vidente, psicógrafo, etc...a depender do tipo de trabalho); 

Sustentadores (também podem ser entendidos como auxiliares, assistente, participante, apoiador, ou “`médiuns” de sustentação, já numa linguagem mais específica do kardecismo); 
Então, qual seria, do ponto de vista da função, a importância daqueles que servem como sustentadores do trabalho espiritual? Bom, sabemos que a função dessas pessoas é a de ajudar a SUSTENTAR os trabalhos...mas, o que seria isso? 

Se recorrermos a um bom dicionário da língua portuguesa, vamos encontrar alguns significados para a palavra Sustentar (como, ter ou segurar por baixo, impedir de cair, apoiar, etc.). Mas, um desses significados é bastante adequado para a ideia de Sustentação no trabalho espiritual. Sustentar seria AMPARAR; FORNECER RECURSOS A. 

Logo, aquele que figura como Sustentador é todo e qualquer pessoa que participe do ambiente do trabalho e que possa contribuir fornecendo vibrações elevadas para a formação e manutenção do campo espiritual e energético da Casa. Esta pessoa pode ser um médium de trabalho ou não, desde que NÃO ESTEJA SENDO ATUADO diretamente por uma entidade espiritual (seja na incorporação, na psicografia, ou qualquer outro fenômeno que exija a participação direta do médium). 

Na Umbanda encontramos esse papel sendo desenvolvido, dentro da corrente mediúnica da casa, especificamente pelos Cambones e Ogãs/Curimbeiros. Também os demais médiuns que não estejam em trabalho em um momento qualquer também serve como um Sustentador. 

No Kardecismo, encontramos os trabalhadores da Sustentação, geralmente sentados ao lado dos médiuns de psicofonia, nos trabalhos de desobsessão e/ou assistência espiritual, auxiliando os médiuns de psicografia e também formando a corrente necessária para os médiuns passistas. 

É importantíssimo que eu ressalte que não basta somente “estar do lado” do médium, ou no ambiente de trabalho para concorrer com a manutenção vibratória e espiritual. É preciso estar numa condição própria para isso. O que na verdade é algo bastante simples e sem demais complicações. Basta, somente, que a pessoa esteja no ambiente do trabalho com o seu pensamento voltado exclusivamente para o que está acontecendo ali (ou seja, não ficar dentro do trabalho pensando no “jogo do Corinthians”, nem no que vai fazer na hora que sair dali, ou demais distrações que não dizem respeito àquele momento). Manter-se em oração, mentalizando imagens positivas, saudáveis, etc. Sem forçar nada. Entregar-se àquele momento com alegria e gratidão por poder estar ali e direcionar sua atenção para o que está ocorrendo no ambiente. 

Vale lembrar também que todos os recursos humanos que estão disponíveis no ambiente de trabalho são utilizados pelos Mentores de Luz, seja a pessoa médium de trabalho ou não. Eles se utilizam das emanações de energia positiva que são geradas por cada pessoa, quando estas se encontram envolvidas em pensamentos saudáveis, em oração, etc. Com o passar do tempo, é até comum que determinadas pessoas que antes só atuavam como Sustentadores passem a ter afloradas em si, expressões mediúnicas belas e ostensivas, direcionando-as para que passem a também tornarem-se médiuns de trabalho. 

Neste ponto, surge mais uma pergunta. Qual a relação de importância entre o médium de trabalho e o sustentador? 

O Sustentador funciona como um gerador e mantenedor do padrão das energias que devem estar disponíveis no ambiente. Quando um médium de trabalho está atuado por um Guia (na Umbanda, por exemplo) desenvolvendo um trabalho, ou mesmo numa sessão de desobsessão (Espírita) em que o médium dá passagem a um irmão sofredor, devemos saber que neste momento há um consumo muito grande da energia de ambos. As energias do Médium, assim como a do Espírito (seja ele um Mentor ou não), vão sendo consumidas (como uma vela que tivesse um pavio aceso em cada extremidade). Esse consumo da energia pode ser mais ou menos intenso a depender da capacidade de doação de energias próprias de cada médium e de cada Entidade (nem todos tem o mesmo potencial). Isso se deve ao fato da necessidade que ambos tem, médium e Entidade Espiritual, de equilibrar as suas vibrações para que o “encaixe” entre as suas irradiações possa ocorrer e assim também provocar a manifestação mediúnica (incorporação, psicofonia, psicografia, etc.). 

Dessa forma, o Sustentador gera um potencial de energias que é distribuído na corrente mediúnica e é assimilado pelo campo mediúnico-vibratório dos médiuns que se encontram em trabalho, de maneira que este campo possa ser revigorado, alimentado, e a sua ligação com a Entidade Espiritual possa ocorrer durante o tempo necessário para o trabalho. 

Lembramos que no caso daqueles que se encontram na Sustentação, embora não estejam em trabalho, os seus Guias e Mentores de Luz também estão atuando, mas de maneira sutil. Ao invés de atuarem envolvendo-os diretamente com a sua irradiação (conforme o caso da incorporação, psicografia, etc), o Mentor atua criando um campo de Inspiração e de Intuição para com o seu médium, permanecendo também ele (o Guia) atuando como um sustentador do ambiente, só que na dimensão espiritual. 

Falando especificamente da Umbanda, conforme já tratamos em outros textos, as vibrações da música por meio do ritmo percussivo (feito pelos atabaques, palmas, etc.) e da voz (as melodias e as mensagens contidas nas letras dos Pontos Cantados), geradas por aqueles que as executam de maneira concentrada e em sintonia com o trabalho, servem como um potencial gerador e sustentador da corrente mediúnica. Da mesma forma, aqueles que não se encontram cantando ou tocando, podem manter-se em prece, mentalizando coisas boas para também alimentar o trabalho dos demais. 

Na sessão Espírita, os sustentadores devem agir também em sintonia com o que se desenvolve no trabalho, sem alienar-se do que está ocorrendo, mantendo-se em oração, mentalizando imagens positivas, etc. 

Já pensou se aquelas pessoas que assistiam ao Chico Xavier ficassem mais interessadas em ver a marca da assinatura da psicografia e o conteúdo da mensagem do que em orar para que ele tivesse sucesso no atendimento daquela multidão que o buscava, sedenta de consolo e esperança? 

Já pensou se estivéssemos no trabalho mais interessados de que o nosso babalorixá ou yalorixá estivesse ali para resolver um problema particular nosso do que o atendimento daqueles que buscam o Templo Sagrado pedindo um lenitivo para as suas dores e aflições? 

Eles teriam muito trabalho para conseguir vencer as resistências vibratórias impostas por aqueles que deveriam estar ao seu lado para ajudá-los (ao médium e principalmente aos Mentores de Luz que confiam em nós), o que colocaria em sério risco as tarefas de atendimento e consolação, com as quais nos vinculamos, seja nas Leis de Umbanda ou nos princípios da Doutrina Espírita. 

Por isso a necessidade de SUSTENTARMOS (olha a palavra aí, de novo) uma postura digna e condizente com o caminho que escolhemos, por vontade própria, trilhar nessa jornada espiritual de evolução e busca de iluminação para nós mesmos e para todos que nos cercam. E devemos fazer isso vigiando constantemente, em nossas vidas, as nossas palavras e atitudes. Tratando especificamente do ambiente de trabalho espiritual, essa atenção precisa ser redobrada, pois necessitamos ter uma conversação digna e uma postura coerente com o local em que nos encontramos, em respeito a todos que compartilham do mesmo ambiente conosco e, principalmente, em respeito àqueles que batem em nossas portas em busca de alívio e socorro. 

Assim, espero ter contribuído, humildemente, com um pouco mais de informações e, quem sabe, esclarecimentos para os que se interessam. 

Saravá a todos! 

A Visão de um Adepto: A Reza, a Prece e a Oração


Por: Gregorio Lucio

Reza, Prece e Oração. 

Embora para muitas pessoas todos estes termos sirvam para se referir a mesma coisa, gostaria de compartilhar algumas reflexões e conhecimentos sucintos para, se possível, ampliarmos nossa visão a respeito do que venha a ser, efetivamente, cada uma destas palavras e práticas tão comuns da experiência religiosa do ser humano.

Primeiramente, lembro que ambas nos ligam, de maneira prática, ao plano do Sagrado, para o qual nos direcionamos em busca de algo que possa nos corresponder interiormente. Rezamos, fazemos Preces e Oramos, seja a benefício de nós mesmos, seja em benefício de outrem. E, de maneira geral, fazemos isso assumindo uma postura (tanto interior quanto exterior) característica, proferimos palavras que nos foram ensinadas ou que decoramos de alguma forma, ou mesmo silenciamos e “conversamos” de maneira aberta e espontânea com Deus. Ou seja, tanto na Reza e na Prece, quanto na Oração temos o mesmo princípio operante: o de nos ligarmos e nos sintonizarmos com a Divindade.

Falando especificamente, a Reza constitui um ato característico, muito comum na prática rito-litúrgica de várias religiões. Trata-se de um modelo, com um “texto” definido, o qual é proferido, em geral, de maneira coletiva, por todos os presentes no templo religioso. Ave-Maria, Salve Rainha, O Credo e até o Pai-Nosso, isso sem nos referirmos a outras tantas existentes também em outras culturas religiosas além do Cristianismo, quando utilizados de maneira coletiva, em um ato rito-litúrgico, caracterizam a Reza. Para ficar claro, basta lembrarmos da origem desta palavra. Reza vem da raiz latina Recitare, que significa “ler em voz alta e clara”. Aliás, a mesma palavra latina (Recitare), também deu origem, na língua portuguesa, a palavra Recitar, que tem o mesmo significado já exposto. Posteriormente, no Brasil, atribui-se o significado da palavra Rezar como sinônimo de Orar, diferenciando-se da palavra Recitar. Mas, como pudemos ver, a origem das palavras tem o mesmo sentido, e é utilizado de maneira lógica na rito-liturgia religiosa, pelo conhecimento teológico de sua origem em latim, como uma expressão coletiva.

Bem, em toda Reza está presente a Prece. 

E o que seria a Prece? 

A Prece significa uma atitude ativa por parte do indivíduo que se lança em direção a Deus. É o desejo da pessoa de se “comunicar”, de diminuir a “distância” entre ela e a Divindade. É a atitude que tomamos na intenção de sentirmos a presença de Deus em nós e entrarmos no fluxo inspirativo que se irradia Dele, trazendo para nós e para os outros (quando nossa intenção é a de interceder por alguém) um sentimento de plenificação, de serenidade, de paz, de estabilidade. A prece é um ato de adoração, no qual deve caber sempre o pedido (súplica), a louvação e o agradecimento. É indispensável a ligação do sentimento de fé e de elevação interior na prece para que possamos nos sintonizar com o “pensamento” Divino. 

Seja por meio das preces lidas, decoradas ou pela ação livre e espontânea do nosso pensamento, com o qual buscamos nos ligar a Deus, temos que compreender o significado das palavras que estamos pensando e/ou proferindo, qual o sentido do que estamos dizendo (principalmente no caso das que são lidas ou decoradas) e sempre ligar o nosso sentimento íntimo de busca e de desejo de entrar em contato com a Fonte Divina do Bem. A prece nunca pode ser algo repetido maquinalmente, com o qual o coração não se comove e nada sente. E, para isso, Jesus, nosso Divino Mestre, nos herdou um modelo exemplar: O Pai-Nosso. 

Quando Jesus responde ao apelo dos discípulos e da multidão que o observava no monte, profere as seguintes palavras:
“Assim, pois, é que vós haveis de orar. Pai nosso, que estás nos Céus, santificado seja o Teu nome!...” (Mateus 6:9, 6:10, 6:11 e seguintes)

Se refletirmos no conteúdo do Pai Nosso, lembrando-o em toda a sua extensão, veremos que lá estão contidas as bases para a efetiva prece, pois ele é o resumo de todas as profundas aspirações humanas (oportunamente, trarei um texto com a reflexão detalhada em torno do sentido do Pai-Nosso). 

A prece é, portanto, um aprofundamento no processo Oracional. 

A possibilidade de experimentar a Oração, esse estado interior (estado oracional), é factível para todo aquele que busca ampliar a consciência de si-mesmo.

A Oração, conforme já o disse, é a condição totalmente interior, subjetiva, é um estado mental ao qual podemos nos conduzir por intermédio da prece e da reza. É possível e comum, em alguns momentos, Rezar e fazer Preces sem entrarmos num estado Oracional, o que certamente demonstrará que não houve uma correspondência entre a nossa prática exterior e a nossa condição interior. Pois não adianta somente pensar em Deus e pronunciar o Seu Nome. É preciso pensar nEle com elevação, com o desejo e a aplicação da vontade em com Ele se conectar. Ou seja, deve ser um ato consciente de busca-Lo.

A oração se concretiza, quando feita de maneira adequada, em um sentimento interno profundo, inexprimível, no qual todas as palavras silenciam. É um estado de quietude. É o atingimento de uma condição mental superior, no qual podemos e devemos nos exercitar, adentrando-o, buscando permanecer neste. Utilizando um termo comum na meditação, que também nos induz a um estado mental superior, o exercício da oração deve resultar, com o passar do tempo, com que possamos atingir um estado de contemplação. A constância no hábito da oração nos leva, com o passar do tempo, a uma gradativa iluminação interior.

Para finalizar, elaborei um singelo resumo gráfico, situando a Reza, a Prece e a Oração como momentos e níveis diferentes, contemplados uns nos outros, conforme segue:



Saravá! 
Bibliografia Consultada:
Miranda, Projeto Manoel Philomeno de (2008) – Consciência e Mediunidade
                                                             (2010) – Qualidade na Prática Mediúnica
Kardec, Allan (1864). O Evangelho Segundo o Espiritismo
A Bíblia Sagrada – Evangelho de Mateus