sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Desenvolvimento Mediúnico na Umbanda: Educação e Consciência Mediúnica


Por: Gregorio Lucio

Como adendo aos artigos já publicados na temática O Desenvolvimento Mediúnico na Umbanda, porém não menos importante, finalizaremos, por ora, nossa série de estudos tratando dos conceitos e relações que envolvem Educação e Consciência Mediúnica.

Lembremos São Paulo (ou apóstolo Paulo, como queiram), quando este escreve, em sua primeira epístola aos Coríntios (12:1): "Ora, a respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes".

Sendo assim, o Estudo a respeito da Mediunidade e demais questões pertinentes às experiências espirituais, aliadas ao Estudo e entendimento das lições do Evangelho de Jesus aplicadas às nossas vidas, permitem que sejamos capazes de Educar as expressões dos nossos pensamentos, sentimentos e de nossas irradiações mentais.

Permita-nos o leitor o esclarecimento de que, na Umbanda em que praticamos, seguimos os princípios cristãos como norteadores Ético-Morais de nossa conduta humana e mediúnica, no que pese nosso respeito por todos aqueles que, em suas tradições umbandistas, valem-se de outros referenciais.

Pois bem, pelo Estudo - tanto de obras já escritas, quanto das experiências que vivenciamos em nós mesmos ao longo da prática mediunista -, passamos a entender as leis e os mecanismos que nos colocam dentro de todo um oceano de forças sutis que agitam-se em nós mesmos e que estas mesmas forças também irradiam-se de todos os seres existentes no planeta, ligando-nos, pela sintonia e afinidade, às idéias, pensamentos e motivações dos mais diversos tipos. Esta afinidade se estabelece tanto positivamente, quanto negativamente, a depender daquilo que guardamos dentro de nosso mundo íntimo e daquilo que escolhemos pensar, sentir e expressar, tanto pelas palavras quanto pelas nossas atitudes.

Se, em conjunto com o Estudo dos Processos Mediúnicos, também associamos o Estudo do Evangelho do Cristo, poderemos encontrar nele (no Evangelho) o norteador da nossa conduta, pois passaremos a discernir melhor o bem e o mal, e quais os comportamentos que devemos adotar para que possamos amadurecer perante a vida, deixando determinadas condutas, nas quais nos prendemos ao longo do tempo, abrindo-nos para a renovação e a libertação de estados de sofrimento.

Pior do que sofrer, é sofrer sem saber o porquê se está sofrendo...

O Estudo equipa de recursos o indivíduo para que possa compreender a sua própria realidade (psicológica, social, financeira, religiosa, profissional,etc), também como a do mundo no qual vive e, assim, poder ter possibilidades mais amplas de estabelecer programas educativos, saudáveis e felicitadores para a sua existência.

Melhor do que fazer algo, é ter conhecimento suficiente para poder fazer bem aquilo que se proponha a fazer.

Educação Espiritual, portanto, obedece ao mesmo mecanismo da Educação na Terra (que não deixa de ser espiritual, bem se diga).

Pensando assim, se nos lembramos do significado da palavra Educação, veremos que esta origina-se de dois termos latinos, "Educare e Educere". Educare significa orientar, nutrir, decidir externamente, direcionando o indivíduo a se transferir, de um determinado ponto em que se encontra até outro ponto onde se deseja chegar. Educere, por sua vez, implica num movimento interior, fazendo surgir do intimo do indivíduo as potencialidades que estão dentro de si e que até então permaneciam desconhecidas.

Por isso, a conquista da Educação Espiritual, segundo nosso ponto de vista, só pode ocorrer quando entramos em contato com o meio em que vivemos, trocamos experiências com o outro e somos, por isso, levados a mudar nossas concepções e comportamentos diante da vida. Ao mesmo tempo, ao adquirirmos elementos para avaliar nossa própria realidade interior, por meio da leitura e do diálogo, saberemos situar melhor nossos pensamentos, nossas emoções e assim, voltando à questão mediúnica, saberemos com certeza onde situamos nossa sintonia e nossas irradiações espirituais.

Assim é que, dentro dessa perspectiva de Educação, os Centros Espíritas e os Terreiros tem modificado a nomenclatura e a conceituação a respeito dos trabalhos de Desenvolvimento Mediúnico, passando a tratá-lo como Educação Mediúnica.

Tratamos muito as relações diretas entre a vivência espiritual-mediunista e a vivência no dia-a-dia, porque entendemos que não pode haver uma cisão entre o que experienciamos na lide religiosa e o que experimentamos na vida cotidiana. A busca pela Espiritualidade e a sua correspondente introjeção em nossa vida particular, deve servir justamente para provocar efeitos benéficos na maneira de lidarmos com a realidade cotidiana que se nos apresenta na jornada humana. Encontrar os meios mais razoáveis de dar-lhe significados existenciais profundos, utilizando-se para isso do que a religiosidade pode nos oferecer, é a atitude positiva e madura de entendermos o sentido e a importância da religião em nossas vidas.

Ao adentrarmos o campo da Educação Mediúnica, o seu desenvolvimento operar-se-á sob a abertura da compreensão em torno dos Níveis de Consciência em que cada um de nós estagiamos e, consequentemente, como eles estão relacionados à nossa prática mediunista.

Consciência deriva do latim scire (conhecer) e cum (com). Consciência, portanto, significa "conhecer com".

O conceito de Níveis de Consciência foi exarado pelo bioquímico Robert De Ropp, o qual inspirou-se nas experiências e idéias de G. I. Gurdjieff, a respeito dos Estados Alterados de Consciência, buscando estudá-los e compreendê-los em sua relação com a subjetividade humana. Didaticamente, De Ropp classificou-os como:
  1. Consciência de Sono sem Sonhos: fenômenos orgânicos automáticos se exteriorizam - digestão, respiração, reprodução, circulação sanguinea, etc - sem o conhecimento da consciência, que permanece como que anestesiada, sem ação lúcida sobre os acontecimentos em torno da própria existência e a ausência de vontade do indivíduo contribuindo para o trânsito lento do instinto para os pródromos da razão;
  2. Consciência de Sono com Sonhos: liberação de clichês e sujeição lenta à realidade, passando pelas fases dramáticas - os pesadelos, os pavores - para os da libido - ação dos estímulos sexuais - e os reveladores - que dizem respeito à parcial libertação do Espírito quando o corpo está em repouso
  3. Consciência de Sono Acordado (Desperto): há a determinação pessoal aliada à vontade, conduzindo o ser aos ideais de enobrecimento, à descoberta da finalidade da sua existência, às aspirações do que lhe é essencial, ao auto-encontro, à realização total.
  4. Consciência de Transcendência do Eu: ocorre a identificação consigo mesmo, com a consequente liberação do Eu Profundo, realizando a harmonia íntima com os ideais superiores, seu real objetivo psicológico existencial. Superação de todos os conflitos, angústias, desidentificação de todo e qualquer conteúdo psicológico afligente, atingindo a iluminação. 
  5. Consciência Cósmica: Dissolução de toda contradição e a vinculação integral ao Logos (Pensamento) Divino.



Ao realizarmos uma interface dos conceitos em torno dos Níveis de Consciência na subjetividade humana, com a maneira como estes podem delinear o alcance do nosso universo espiritual e as relações afins com a dimensão extra-física que estabelecemos por conta da maior ou menor amplitude mental de que somos portadores, verificaremos que:
  1. Consciência de Sono (sem sonhos e com sonhos): a relação mediúnica aparecerá marcada pela obsessão (comunhão mental doentia com a realidade espiritual), ao mesmo tempo em que recebe uma compensação pela inspiração dos Espíritos Protetores e o "Anjo de Guarda" particular.
  2. Consciência de Sono Acordado (Desperto): a mediunidade é preponderantemente de provas, momento no qual a amplitude mental já faculta ao ser libertar-se do contato rudimentar com o mundo espiritual e desvincular-se dos mecanismos obsessivos. A mediunidade passa a ser acessada como uma faculdade, um recurso mental  que deve estar sob comando do Espírito e não somente um canal de abertura para a realidade transcendente.
  3. Consciência de Transcendência do Eu: com a consciência de Si, a transcendência do ego, a mediunidade torna-se lúcida, saudável. O seu detentor, naturalmente, direciona-a para objetivos relevantes da existência, sob indução e orientação dos Guias e Protetores.
  4. Consciência Cósmica: a mediunidade expressa-se livremente, sem as amarras corporais, num êxtase. Possui uma característica que transcende ao cognoscível, a qual podemos identificar na frase do apóstolo Paulo: "Já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim".
Uma vez que o exercício de intercâmbio com o mundo espiritual, em sua qualidade, dependerá do nível de consciência em que o médium estagia, a prática regular e equilibrada poderá fazer com que a faculdade mediúnica sirva, como já vimos dizendo, como impulsionadora da Ascensão Consciencial do médium, uma vez que este pode, e deve, integrar-se aos conteúdos psíquicos novos e superiores que são trazidos pelos Guias Espirituais, introjetando-os em seu pensamento e comportamento, para que tornem-se, por sua vez, cargas despertadoras de seus próprios conteúdos, contribuindo para a sua maturidade e individuação.

Dessa forma, o processo Educativo envolvido no Desenvolvimento Mediúnico, objetiva não somente adestrar o médium para comandar o fenômeno do transe e a relação transitória do contato mediunista. A atividade de Desenvolvimento Mediúnico na Umbanda, estabelece a abertura para a expansão da consciência do ser diante da realidade e das suas próprias condições como Espírito, permitindo-o inteirar-se e perceber os valores transcendentes da vida, os espirituais.

Tudo isso, vincula-o a um estado de serenidade, compaixão e discernimento que o faz compreender a finalidade do existir, percebendo-se de maneira intensa e tendo claramente a idéia e a vontade a seu dispor, optando pelo que quer e onde objetiva chegar em sua jornada.

Esperamos que tenhamos contribuído, humildemente, ao decorrer destes 05 artigos, com uma compreensão mais abrangente do que podemos entender como o Desenvolvimento Mediúnico na Umbanda.

Saravá a todos!




Bibliografia Consultada:
Lima, Bennto de (1997). Malungo Decodificação da Umbanda
Jung, C.G. (1970). A Natureza da Psique
Zangari, W. (2009). Psicologia da Mediunidade: do Intrapsíquico ao Psicosocial (artigo científico)
Miranda, Projeto Manoel Philomeno (2003). Consciência e Mediunidade

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Desenvolvimento Mediúnico na Umbanda: A Identificação do Supraconsciente e a Expressão Criativa



Por: Gregorio Lucio

"Podemos nos beneficiar e utilizar qualquer função ou elemento da psique, sempre que compreendamos sua natureza e propósito, e o coloquemos em sua justa relação com o Todo" (Assagioli, 2009).

O exercício regular e consciente do intercâmbio espiritual, no campo da prática religiosa mediunista de Umbanda, o qual agora passa a ser entendido por nós como um processo de comunhão mental, e portanto, dentro de um aspecto de vivência das nossas possibilidades subjetivas, em um contexto de compreensão mais abrangente daquilo que se entende e se discursa em torno do mediunismo - no que se refere ao contato com a espiritualidade e a ampliação das nossas condições emocionais saudáveis -.


Passamos, dessa forma, a discernir a faculdade mediúnica como sendo uma Ascese, por meio da qual nos é possível adentrarmos nos níveis mais amplos de nossa individualidade, atingindo uma vivência mental e, consequentemente, expandindo os recursos de nosso mundo interior, descobrindo-nos e identificando nossos potenciais e possibilidades de conquistas íntimas, bem como os meios mais saudáveis de lidarmos com nossas limitações pelas vias corretas, sem deixarmos nosso clima mental de paz e serenidade.


Pela experimentação, estudo e meditação em torno das experiências na relação de contato com o Sagrado, manifesto no universo simbólico-religioso das Leis de Umbanda, temos compreendido que, da mesma forma que os Hindus, Iogues, possuem a meditação como recurso para acessar e descobrir a mente e a dimensão profunda do ser humano, a Umbanda oferece-nos o Transe Mediunista como passagem para essa realidade espiritual que emana e se potencializa em nosso interior.

Dentro desse cadinho de experiências, o médium de Umbanda, conforme já tratamos em A Mística Mistérica de Umbanda, vai criando um Espaço Sagrado dentro de si, sendo a memória de seus contatos espirituais experimentados no suceder dos transes a que se fez sujeito, durante o tempo de prática religiosa.

Este Espaço Sagrado contido nos domínios de sua subjetividade, comporta em si parte de uma instância intrapsíquica denominada Supraconsciente (ou Superconsciente). Conforme nos diz Roberto Assagioli,"[...] o Superconsciente é a região na qual recebemos nossas intuições e aspirações superiores - artísticas, filosóficas ou científicas -, "imperativos" éticos e impulsos para a ação humanitária e heróica. É a fonte dos sentimentos superiores, tais como o amor altruísta, a genialidade e os estados de contemplação, iluminação e êxtase" (Tabone, 1988).

Segundo Pietro Ubaldi "se esta zona não-consciente [o Supraconsciente] é aquela que nos põe em comunicação com a realidade, na intuição, e com a Divindade, nos estadas místicos, é para horrorizar-se quando se ouve dizer que a graça de Deus se manifesta no homem através do subconsciente ou que o homem, para alcançá-la, se transfira ao subconsciente. Mas, a graça é fenômeno evolutivo, não involutivo, de superconsciência e não de subconsciência. A graça é uma elevação ao superconsciente; é através deste que ela se dirige ao homem, e a esse plano que o convida a transferir-se. Por aí se vê como quem não sabe superar a dimensão racional permanecerá impotente em face de tais concepções e tateará constantemente na treva".

Não devemos confundir o Supraconsciente com o Subconsciente (zona inconsciente que carrega os conteúdos próximos da consciência). Explica-nos Pietro Ubaldi: "[...]a psique humana é um organismo em contínuo crescimento (expansão) por descida na profundidade, mediante estratificações, das sínteses das experiências da vida, as quais gravitam para o interior. Essa assimilação contínua, operada em zona de livre arbítrio, se fixa no determinismo dos equilíbrios estabilizados na trajetória do destino. O subconsciente é precisamente a zona dos instintos formados, das idéias inatas, dos automatismos criados pela repetição habitual da vida"..."Se quiséssemos ser mais precisos, intentando reduzir a termos de espaço o que não é espacial, deveríamos dizer que das duas não-consciências, consideradas em relação com a consciência lúcida de superfície, a superconsciência se estende em profundidade, nas zonas interiores, avança para Deus e tende para a unificação com o todo, a que se chega pois, por introspecção. A subconsciência, ao contrário, estende-se em direção oposta, não sob, mas para o exterior da superfície, é filha das experiências do mundo exterior e nele é abandonada. O eu avança entre duas zonas igualmente não lúcidas, mas sua progressão é para o interior, sua evolução o afasta do subconsciente e o leva para o superconsciente. Valores opostos: o primeiro é um resíduo, o segundo, uma conquista; o primeiro é uma zona inferior, de que nos distanciamos, e uma escória que abandonamos; o segundo é uma zona superior, de que nos aproximamos, não contém os remanescentes da vida, ainda que no momento sejam necessários, mas o futuro da vida. A passagem do subconsciente ao superconsciente é uma expansão para o interior, se assim podemos expressar-nos, uma expansão em profundidade, em que o ser, aprofundando-se para o centro, se eleva aos planos mais altos que lhe são a aproximação. Nesse caminho, o eu é como um núcleo que se enriquece, dilatando por estratificações suas potencialidades, através das experiências da vida, que são exatamente o agente revelador daquele mistério íntimo em cuja profundeza está Deus (manifestação). Assim, esse mistério é continuamente exteriorizado naquele plano de consciência lúcida que, como se vê, e uma consciência de trabalho e de transição, em marcha do subconsciente ao superconsciente, cuja posição é portanto relativa, assaz diversa de indivíduo para indivíduo, segundo sua história e sua maturidade evolutiva" (Ubaldi, 1983).

Esquema Didático da Constituição do Self

1. O Inconsciente Inferior
2. O Inconsciente Médio
3. O Inconsciente Superior ou Supraconsciente (Superconsciente)
4. O Campo da Consciência
5. O Self Consciente ou "Eu"
6. O Self Superior
7. O Inconsciente Coletivo

Diagrama do Ovo (na Psicossíntese)
O Supraconsciente é manifestação própria do vir-a-ser, dentro do organismo psíquico, em cujo bojo estão contidos os receptáculos das irradiações e pensamentos provindos das esferas de Mais Alto e sobre cuja indução o homem desenvolve suas capacidades de transformação para melhor, introjetando e ampliando os princípios (ética, moral, intelecto, cognição, linguagem e afeto) que norteiam sua Ascensão Consciencial.

A prática mediunista consciente e a vivência do Sagrado, tem como objetivo, no que diz respeito aos efeitos  da vida religiosa e espiritual do médium de Umbanda, permitir que haja o acesso a este campo de construção interior , para que a produção medianímica  possa ganhar força emocional suficientemente capaz de impulsionar o seu experimentador ao caminho da libertação do seu próprio sofrimento e da auto-cura espiritual.

Com isso, queremos enfatizar que estamos tratando a questão do Desenvolvimento Mediúnico na Umbanda como um processo que vai para além de um período mais ou menos definido em que o neófito vai aprender, pelo menos, a maneira como deverá se portar durante as giras (como dominar seu transe, o discurso ritual característico do terreiro, etc), assim como perante os irmãos de terreiro, a hierarquia da casa e os demais frequentadores.

Mais que isso, referimo-nos ao Desenvolvimento Mediúnico como um processo continuado e que implica, obrigatoriamente, na aquisição  de autoconsciência por parte do médium, de maneira que sua trajetória pelos caminhos da Umbanda seja coroada por conquistas plenificadoras e surtam efeitos saudáveis de mudança, melhoria e, principalmente, no desabrochar da maturidade deste, não só como médium, mas como ser humano.

"Há uma troca contínua, uma "osmose" entre a consciência e o inconsciente. Em um ponto que era superconsciente se torna consciente, permanece lá por um período mais longo ou mais curto, e depois retorna para o superconsciente. Eu gostaria de recordar a este respeito que "superconsciente", "inconsciente" e "consciente" são adjetivos, ou seja, condições temporárias do fato psíquico" (Assagioli, 2009).

"A entrada de consciência superconsciente pode ocorrer de duas formas: a primeira e mais comum que pode ser chamada "descendente", e consiste no surgimento de elementos supraconscientes dentro do campo da consciência na forma de intuições, inspirações súbitas ou iluminações. Muitas vezes, espontânea e inesperada, mas às vezes também pode atender a uma chamada ou invocação, tanto consciente e inconsciente. A segunda maneira poderia ser chamado de "ascendente" e acontece quando nosso centro da consciência é elevada a partir do Eu auto-consciente em níveis acima do normal, para chegar à área do supraconsciente." (Assagioli, 2009).

A região Supraconsciente (Superconsciente) é o campo de registros mediúnicos que carregam memórias  marcantes no contato com a Espiritualidade. Visões (clarividências), intuições (comprovadamente acertadas), comunicações (escritas ou faladas) com informações comprobatórias da autenticidade mediúnica. Todas estas ocorrências patentes ligam-se a esse canal por onde fluem os conteúdos recebidos pela Espiritualidade, Guias e Protetores, portadoras da energia emocional que promove alterações benéficas na maneira de entender a vida, pela convicção que produzem e, consequentemente, afetando o comportamento do médium.

"[...] o valor destas experiências [...], portanto, efetivamente ajudam a solucionar todos os problemas humanos, individuais ou sociais. Fazem-no enquadrando-os em uma realidade mais ampla, reduzindo-os a sua justa proporção, permitindo valorizá-los de forma distinta e muito mais justa. De tal modo que os problemas, ou já não nos preocupam mais e se evaporam, ou aparecem em uma luz superior, de modo que a solução é apresentada com clareza e concisão" (Assagioli, 2009).

A vivência dos conteúdos carreados ao Supraconsciente abre campo para que o médium de Umbanda, desenvolva Expressões Criativas para o seu existir.

Dentro da vida ritual, a manifestação simbólica pertinente à Expressão Criativa refere-se aos quadros e intuições que são interpretados e expressos nos pontos (riscados e cantados), captados pelo médium, tanto quanto  na confecção de guias, patuás, banhos, firmezas ou demais objetos rito-simbólicos manufaturados.

Indo além, trazendo a Expressão Criativa para as questões do existir, esta incorreria na estimulação de comportamentos emocionais salutares perante os desafios da existência, conservando sempre um clima de otimismo e confiança na vida, construído e alimentado por um sentimento de esperança, norteando o prosseguimento ante os embates do cotidiano e o cumprimento dos deveres a que todos somos chamados.

A manutenção de um clima psíquico de alegria e descontração, aliado a uma atitude de perseverança e resiliência, é fundamental para a superação das limitações a que todos estamos sujeitos, sem perder o sentido existencial. Encontrar formas criativas para a resolução ou, ao menos, o minimizar das agruras e problemas é a chave para a conservação da saúde e a garantia de encontrar-se sempre em sintonia com a Aruanda Maior, a benefício de si-mesmo e de todos aqueles que, mais que nós próprios, sofrem e necessitam de solidariedade e compaixão. Estas virtudes, nada mais são do que as bases da Caridade.

Por fim, a relação desse comportamento virtuoso e a Expressão Criativa se deve ao fato de que, o Desenvolvimento Mediúnico, consciente e bem estruturado, não prescinde do cultivo de valores ético-morais mais profundos, direcionando o médium para o aprendizado do Altruísmo, traduzindo-se como uma conquista vertical, ao mesmo tempo horizontal, pois ao aprofundar-se nas vivências interiores, amplia o seu campo de ligação com os Guias e Protetores (verticalmente), também adentrando na necessidade de compreender-se como elemento útil na sociedade e na família, devendo servir, dentro de suas possibilidades, com discernimento e sensatez, para a promoção e a edificação daqueles que lhe seguem os passos (horizontalmente), espalhando a luz do Orixá e colaborando para a construção de um mundo melhor.

Afinal, conforme Jesus Cristo já houvera dito "Porque não é boa a árvore a que dá maus frutos, nem má árvore a que dá bons frutos. Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu fruto. Porque nem os homens colhem figos dos espinheiros, nem dos abrolhos vindimam uvas. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, do mau tesouro tira o mal. Porque, do que está cheio o coração, disso é que fala a boca". (Lucas, VI: 43-45)

Eis o princípio evangélico pelo qual podemos avaliar e mensurar os efeitos e a utilidade da vivência religiosa em nossas vidas. Que cada um avalie por si mesmo esta questão, no silêncio interior, e reflita quais tem sido os frutos que tem colhido, ou não, do seu Desenvolvimento Mediúnico.


Saravá a todos!

Bibliografia Consultada:
Assagioli, Roberto (2009). O Supraconsciente
Tabone, Marcia (1988). A Psicologia Transpessoal
Ubaldi, Pietro (1983). Ascese Mística