sábado, 28 de janeiro de 2012

A Demanda



Por: Gregorio Lucio


Dissertaremos a respeito de uma questão bastante controversa e presente no meio umbandista, qual seja a Demanda e seus mecanismos de ação, expressando-se nas relações culturais que permeiam o imaginário em torno deste aspecto da mística de Umbanda; os entrechoques verificados entre as egrégoras correspondentes ao templo e as cargas de força negativa; os embates ocorridos entre as correntes astrais do templo e aquelas provindas das sombras; bem como, o complexo simbólico no qual estabelecem-se os processos criadores dos campos de atuação das chamadas magias negativas e os mecanismos de defesa espiritual contemplados nos ritos umbandistas. A propósito, intentaremos abordar tal tema dividindo-o em dois artigos, sendo este que segue o primeiro, acompanhado de seu complementar, a ser publicado em data futura.

Compreender as redes de sentidos que demarcam o complexo psíquico umbandista e os discursos inerentes ao mundo interno da religião de Umbanda faz-se necessário para realizarmos um reconhecimento de quais são as estruturas de relação estabelecidas entre indivíduos pertencentes a este sistema de crenças, num aspecto social, tanto quanto de como estas expressam-se na própria subjetividade de seus adeptos.

O sinônimo de Demanda equivale a litígio, disputa, necessidade, pedido ou solução. Implica tal idéia, com isso, na transposição para a realidade existencial de uma significação para os embates com situações adversas, as mais variadas, as quais são passíveis de serem vivenciadas pelo homem na sociedade, como seja a miséria, a violência, a marginalização, a doença. Também englobando-se neste conjunto de adversidades, aquelas vivências que não podem ser explicadas de maneira totalmente racionalizada, entretanto, afigurando-se de grande ascendência sobre o indivíduo que as experimenta, tais como as perturbações entendidas como sendo de ordem espiritual, imiscuídas em sensações e pensamentos inquietantes, que se dão amiúde, na vida cotidiana. Enfim, toda a causa de sofrimento que se verifique de grande peso emocional para o ser humano, caracteriza-se como uma Demanda.

No entanto, gostaríamos de aprofundar estas reflexões em torno desta questão, a priori consideradas sob um prisma psicosocial, processando-as a partir de uma visão interna ao fenômeno religioso e à vivência espiritual experienciada nas Leis de Umbanda.

Segundo o conhecimento da mística umbandista, bem como das ciências ocultas, tudo é real, pois a realização da experiência plasma em níveis dimensionais as impressões geradas pela ação do Espírito sobre o plano astral, engendrando, inclusive, os contextos subjetivos que este trará ao mundo físico, em sua presente encarnação, como caracteres indicativos de suas necessidades de transformação e reajuste (a lei do karma).

Este mesmo mecanismo, verificando-se em uma escala ampliada, demonstrará como a coletividade de espíritos cria o mundo no qual encarnam, bem como seus níveis de inter-relação, a serem concebidos ao longo do processo do desenvolvimento da humanidade, pela formação de sociedades e culturas diversas.

Sendo assim, a humanidade constrói e reelabora, continuamente, todo um complexo simbólico que permeia, sob os matizes diversos das expressões culturais, as idealizações e concepções próprias do psiquismo de cada ser presente na sociedade, tanto nesta encarnada, quanto naquela desencarnada (mundo espiritual). O imaginário, criado a partir deste processo, servirá de elemento veiculador de uma infinidade de significados que poderão ser extraídos das simbologias presentes em uma dada sociedade, a colocar-se, então em contato com a possibilidade de ser interpretada segundo as referências inerentes a um dado sistema de pensamento,  seja ele filosófico, científico ou religioso.

Tal é o caso da Demanda.

O Mal é real e inerente à integralidade das Leis da Vida. Tratar de bondade, caridade, misericórdia e perdão, considerando tais virtudes como expressões do Bem, implica inevitavelmente no aceite, mesmo que tácito, da existência do Mal, o qual se faz possuidor de manifestações contrárias a estas já citadas.

Assim é que a mente humana gera de si os elementos de Luz e Sombras, a presentificarem-se na realidade existencial do homem, como reflexos de suas realizações felizes ou de seus transtornos interiores, sintonizando-o com as mais diversas formas e seres existentes no mundo espiritual, com as quais estreitará relações, primordialmente num nível inconsciente.

"O manuseio das forças cósmicas, psíquicas e físicas faz-se através da manipulação de símbolos" (Lima, 1997).

O Rito Mágico, no qual estão estabelecidas as formas de manuseio das energias espirituais e as intenções determinantes da destinação do trabalho a ser realizado (se boas ou más), opera segundo a manipulação de ordens simbólicas, efetivando impactar a realidade do plano físico e também astral, envolvendo seu objeto visado (pessoa ou coletividade) com as mentalizações de caráter benéfico ou maléfico. Evidentemente, quando tratamos do caso da Demanda, estaremos falando daquelas de caráter negativo.

Estaremos cientes de que tal prática incorre na junção de duas ou mais mentes que se associam, em mecanismo mórbido (no caso da Demanda, obviamente), com o objetivo de causar um mal, um prejuízo ou uma desestabilização, por determinado tempo, sobre a existência de outrem. Teremos aí, personagens em comum, identificados naquele que pede; o que lhe atende;  o(s) ser(es) espiritual que se torna o propagador destas intenções nefastas no mundo astral; a egrégora como mecanismo vivo que atrai e projeta-se sobre o que, ou quem, se é visado: pessoa(s) ou local.

A utilização e manipulação de simbolos fazem-se necessárias, pois estes interferem na estrutura psíquica do homem, em seu inconsciente, trazendo à tona uma série de significados carregados de energia psíquica pulsante, unindo aspectos racionais e não-racionais. O simbolo contém em si, portanto, uma totalidade de sentidos que comportam as instâncias conscientes e inconscientes do ser e, por isso, estão carregados de energia vital e existência no tempo e no espaço.


"Dissemos que a luz astral é o receptáculo das formas. Evocadas pela razão, estas formas se produzem com harmonia; evocadas pela loucura, elas vêm desordenadas e monstruosas; tal é o berço dos pesadelos de Santo Antonio e dos fantasmas do Sabbat" (Levi, 1995).

Imprimimos no mundo astral os reflexos dos nossos pensamentos e sentimentos, o qual assimila-os e transforma-se conforme estes padrões. A manipulação dos simbolos servirá ao mesmo tempo para projetar as mentalizações envolvidas no rito e para atrair a si as criações correspondentes no mundo astral, movimentando-se segundo a projeção do inconsciente, sobre seu objetivo.

"[...] na luz astral se conservam as imagens de pessoas e coisas. É também nesta luz que se podem evocar as formas daqueles que não estão mais neste mundo, e é por meio dela que se realizam os mistérios tão contestados como reais da necromancia" (Levi, 1995).

As mentalizações atraem para si os agentes (seres desencarnados) identificados com a intenção do operador, os quais servirão como amplificadores das egrégoras de caráter perturbador que se desdobrarão na dimensão extra-física, estabelecendo seu raio de influenciação em uma faixa que se coloca entre o mundo físico e o espiritual. Quantos estejam ligados às idealizações e pensamentos de caráter negativo,  corresponderão a este campo de ação dissonante, ampliando-se conforme a contribuição de cada qual que se situe sob a condição de sofrimento, ira, violência, etc.

Da mesma forma como geram-se as Egrégoras (ver: As Egrégoras) dentro dos Templos de Luz, também são construídas aquelas que servirão como concentradoras da energia psíquica de tais locais sintonizados com o desejo e o sentimento do Mal. Em tais núcleos - existentes tanto em nosso plano quanto na dimensão astral -, onde a escuridão encontra ressonância no interior de seus acólitos, a sintonia com seres em escala negativa aprofunda-se cada vez mais, encarcerando-os nas teias da culpa e da aflição, porquanto a deliberação do mal incorre na imediata necessidade de reajuste.

"José Guilherme Magnani (1991:59) define demanda como uma desavença interpessoal que se transfere, por meio de oferendas, a determinadas entidades espirituais, que passam a atuar como intermediários e atores do conflito" (Sillos, 2001).

O processo da Demanda implica na entrega à dimensão astral das energias psíquicas que estruturam e sustentam o tentame do mal. Os seres desencarnados, consorciados no desejo de provocar o desajuste, tornam-se os executores das emissões do Mal, lançando-se nas sombras e fixando-se em realizar seu intento.

Quando a utilização da Demanda visa atingir um núcleo religioso (no nosso caso, o terreiro de Umbanda), seus construidores irão movimentar a egrégora negativa em direção ao campo de energia próprio do templo. A intenção será a de atingir a coroa do dirigente do terreiro, o qual está situado (diante das Leis de Iniciação na Umbanda) como o ponto de ligação central entre o domínio do complexo simbólico de sua tradição e as interações entre as correntes mediúnica e astral do templo.

Agir no caos, desestabilizando o sacerdote do templo, provocaria a desestruturação da egrégora (irradiação, campo estrutural, etc) pertencentes a este, permitindo a entrada violenta dos agentes de perturbação na faixa mediúnica de toda a corrente de médiuns da casa.

Entretanto, esquece-se aquele que intenta a Demanda, que é da Lei que o Mal pelo Bem seja atraído para que justamente possa ser internalizado em suas irradiações salutares e nele possa ser dissipado.

São várias as egrégoras negativas atraídas aos templos de luz ao longo da execução de suas giras, para justamente serem interiorizadas ao seu campo de ação e influência, e possam, dentro das correntes luminíferas afirmadas ao longo do rito, ser desmanchadas e dissolvidas. Incluem-se aí, aquelas tantas formadas pela inconsciência dos seres que alimentam o mal, pelo uso inadequado e vicioso que fazem das palavras, do comportamento, da própria saúde, do dinheiro, da sexualidade, etc.

Pelo que foi explicitado, entenderemos que o Bem assimila o Mal, no entanto, nunca o revida (gerando a contra-demanda), antes sim, o reelabora e devolve ao mundo astral a ordenação primordial de harmonia e equilíbrio.

"Na magia [...] tudo é imagem, cor, ritmo, sonoridade, movimento. A abstração [...] é lhe estranha" (Bouisson apud Lima, 1997).

A composição de nossos trabalhos espirituais, fundamentados em concepções do Bem e do Belo, da alegria e da fraternidade, faz com que nossas giras expressem-se em cantos, danças e orações de grande beleza, nas quais aurimos das Egrégoras de Luz,  os campos de proteção contra a carga negativa, a qual porventura tenha sido atraída ao cazuá, com vistas a ser desintegrada.

O resultado da prática umbandista, centrada em ritos que contenham em si profundas ligações com uma tradição estabelecida pelos Mentores do Bem, cujos seus simbolos possam ser projetados no plano espiritual e comunicados ao mundo psíquico/emocional daqueles que se permitam penetrar por sua irradiação, trará a cada um o equilíbrio e a sustentação adequada para que se conserve em saúde, serenidade e paz, conforme necessidade particular.

Atingimos, pelo transe, a dimensão astral, na qual estabeleceremos contato com os Guias e Protetores de nossa Aruanda Maior, de onde provém nosso sustento psíquico e espiritual.

O contato com os numes de Aruanda nos eleva o padrão mental, vindo daí a cobertura que recebemos de nossos Caboclos, Pretos-Velhos, Baianos, Crianças...colocando-nos fora do campo de influência do seres negativos, os quais também são atraídos ao templo com fins de serem levados a um estado de despertar da lucidez que os fará ligarem-se, novamente, com as Luzes Divinas dos Orixás, que norteiam o caminho dos Espíritos na dimensão extra-física.

A mensagem de Amor e Caridade que possamos espalhar àqueles que recorrem aos nossos trabalhos, torna-nos sempre divulgadores do Bem que deveremos distribuir pela Terra, fazendo-o, principalmente, incorporar-se em nossas próprias vidas e colocando-nos, conscientemente, como exemplo de tais virtudes, em busca de uma vida feliz, sem nenhuma pretensão de santidade ou messianismo.

Tendo braços estendidos com amor, responsabilidade e discernimento, faremo-nos faróis para muitos seres errantes na escuridão, contribuindo, dentro de nossas possibilidades, para a recuperação daqueles que sofrem e são utilizados como veículos do mal, pelas mentes endurecidas do mundo físico e espiritual, as quais ainda são aguardadas pela Luz que um dia as colherá, para dar-lhes alívio.

Saravá a todos!

Para saber mais:






Bibliografia Consultada:
Chiesa, Gustavo Ruiz (2011). A Magia na Umbanda (artigo científico)
Sillos, Silvanira Lima (2001). A Demanda na Umbanda (artigo científico)
Mauss, Marcel (2003). Ensaio sobre a dádiva (artigo científico)
Mauss, Marcel; Hubert, Henri (2005). Sobre o sacrifício (artigo científico)
Lima, Bentto de (1997). Malungo - Decodificação da Umbanda
Malandrino, Brígida Carla (2006). Umbanda, mudanças e permanências: uma análise simbólica
Rivas Neto, Francisco (1996). Fundamentos Herméticos de Umbanda
                                     (2002). Umbanda A Proto-Síntese Cósmica
Matta e Silva, W.W. da (2010). Umbanda de Todos Nós
___________________ (2009). Umbanda e o Poder da Mediunidade
___________________ (2009). Segredos da Magia de Umbanda
___________________ (2009). Doutrina Secreta de Umbanda
Levi, Eliphas (1995). Dogma e Ritual de Alta Magia
Jung, C.G (1975). Psicologia e Religião




sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

As Egrégoras (A utilização das Forças Naturais e Mentais no Rito Umbandista)


Por: Gregorio Lucio

Julgamos necessário tratarmos de um assunto já bastante explorado no campo do conhecimento místico, as Egrégoras, por reconhecermos serem estas um aspecto sempre carecedor de considerações em torno de suas composições estruturais, as quais dinamizam e criam a "identidade energética" do templo umbandista, assim como também afiguram-se presentes nos trabalhos espirituais realizados dentro do terreiro de Umbanda.


É a partir do conjunto de pensamentos e emoções emitidas pelos indivíduos participantes da gira de Umbanda, encarnados e desencarnados, que formam-se as chamadas Egrégoras. Resultam estas em um campo de energia dinâmica que passa a transitar entre as dimensões física e extra-física (espiritual), contemplando em si uma carga de intensidade maior do que a doada inicialmente por cada um de seus criadores.

Essencialmente, todos os Ritos de Umbanda buscam gerar e alimentar uma egrégora específica (também chamada em algumas casas de "irradiação", "campo estrutural" ou "forma-pensamento") que contenha em si a conjunção de todas as mentalizações e exteriorizações de sentimentos, pensamentos e memórias, característicos da vivência de uma determinada coletividade em um determinado local.  

A egrégora forma-se sempre, portanto, na dependência de mentes que a sustentem ao longo do tempo em um espaço específico (as giras em um terreiro de umbanda, no nosso caso) para comportar as movimentações de energias que servirão para mantê-la viva - as egrégoras são estruturas vivas-.

A irradiação - a egrégora - formada e sustentada no Rito, será perpetuada pela  execução repetida das giras, alimentando-a pelas nossas mentalizações emitidas em resposta ao processo contínuo de evocações, orações e práticas ofertórias. De igual forma, a manipulação de elementos naturais (águas, ervas, pedras, chamas), em união com as energias das correntes mediúnica e astral, concorrerão para a acentuação do efeito criador, no qual a soma de energias entregues será sempre de intensidade maior do que aquelas doadas por cada um, conforme dissemos anteriormente.


A dialética da prática umbandista compreende um conjunto de ritmos, sons, imagens, cores, movimentos (entre outros) dispostos em categorias harmônicas, implicando numa criação de sentidos estéticos que são percebidos pela consciência e integrados nesta, contemplando seus aspectos intelectuais e intuitivos (não-racionais), de tal sorte que há a entrega, por parte daqueles que vinculam-se aos ritos, de suas próprias elaborações psíquicas, memórias, sentimentos, sensações, que passam a compor o complexo abstrato, energético, o qual se enriquecerá conforme mais intenso e positivo esteja o comportamento de seus criadores encarnados: a corrente mediúnica do templo.
A abrangência vibratória, própria da egrégora do templo, alcança cada um de seus filhos além dos limites do espaço, pois que transita num nível de existência temporal (a egrégora possui existência finita), mas conserva-se à parte do limite espacial, como em qualquer processo de formação de estruturas extra-físicas, no qual há a sujeição às influências do tempo e a "quebra" das leis que circundam o espaço, embora necessite, para a sua estruturação, de um local (espaço social) adequado, no qual o agrupamento de mentes afins será o seu dínamo gerador. Toda egrégora, por conseguinte, é o resultado de uma ação psíquica e social.

A medida em que se desenvolve, ao longo do tempo, a tradição umbandista seguida pelo templo servirá como a contraparte social da expressão de sua egrégora. Seu complexo de conhecimentos internos ao grupo, seus trabalhos, calendários, práticas específicas (abertas ou fechadas ao público), processos iniciáticos e "modos de fazer", compõem o universo simbólico/religioso que passa a se incorporar na vida cotidiana de seus adeptos, implicando numa agregação de valores que passam pelo compartilhamento comunitário, fazendo-se memória emocional, conteúdos psicológicos influenciadores do mundo interior de cada um.

Porque seus criadores são dotados de vida e, consequentemente, de existência, também as egrégoras o são, e as suas expressões tornam-se possibilidades do real, agentes veiculadoras e transmutadoras das circunstâncias da vida, manancial criativo e dinâmico onde o adepto poderá colher inspiração e sustentação espirituais, por conta das práticas rito-comportamentais aprendidas no templo, as quais são associadas pelo adepto e realizadas em seu cotidiano particular (hábito da oração e da mentalização, a firmeza de suas correntes, banhos de ervas, o uso de guias e patuás, etc).

Não obstante, quando o seu comportamento estiver destoando da ética proposta pelo exercício do bem e da caridade, entrará em choque com os padrões de energia estabelecidos pela egrégora que o influencia, sujeitando-se às contraposições cármicas e reordenadoras, com o intento de internalizar as suas atitudes e rever seu proceder diante de si e do outro.


Pelas experiências espirituais que vivenciamos junto aos Guias e Protetores de Aruanda, entendemos ser o plano astral sensível e influenciável pela mente, cujos seus estados de felicidade ou sofrimento elaborarão paisagens belas ou zonas de escuridão, a refletir, em verdade, a condição mental dos espíritos que a estas regiões estão ligados. O mundo astral molda-se, salientamos, às construções mentais próprias do(s) indivíduo(s), situando-no nas regiões que guardem o mesmo padrão de mentalização.

  
Sendo assim, as Egrégoras sofrem a influência dinâmica dos conteúdos mentalizados pelos seus criadores e suas estruturas se expressarão luminosas ou sombrias a depender das propostas de cada trabalho e gira a ser realizada, de todo o bem que se deseja e pratica em favor do próximo e de si mesmo.

Os ritos de iniciação do médium colocam-no em ligação cada vez mais aprofundada com a egrégora espiritual do templo no qual este opta por realizar sua jornada dentro das Leis de Umbanda. A manipulação dos elementos naturais e religiosos, acompanhada pela oração e a evocatória, direcionarão para a coroa mediúnica os focos de irradiação próprios e afins ao médium (característicos de seu Orixá-de-frente), abrindo-lhe, gradualmente, os canais de percepção espiritual e ampliando seu campo de integração e influência sobre a irradiação - a egrégora -  do templo, exigindo-lhe maiores responsabilidades e condutas consentâneas aos graus a que se alça ao longo do caminho espiritual.


Desta feita, o compromisso assumido junto às correntes espirituais do terreiro direciona-o aos movimentos de aprendizado, reflexão e interiorização das experiências que passará a vivenciar nas giras, pela prática do transe e das obrigações a que deverá cumprir, assim como das relações humanas que passa a estabelecer com os irmãos de fé, percorrendo os caminhos da devoção, da pertença social a que todo o ser humano equilibrado em sua conduta buscará realizar como ser atuante e produtivo em sua sociedade.


Seguidos os tempos de prática e entrega ao círculo religioso próprio à Umbanda, o seu adepto deparar-se-á com um cadinho de lembranças afetivas, conhecimentos adquiridos, maturidade alcançada, esperança na vida futura, na certeza da imortalidade e na efetiva presença de seus Guias e Protetores ao longo de sua jornada como espírito encarnado.

Suas experiências de vida passam cada vez mais a integrar-se à Egrégora na qual interpenetrou consciencialmente, a pouco e pouco, ordenando suas impressões espirituais, preparando-se-lhe a desencarnação, pela sua eminente proximidade, sob cuja ocorrência volverá à Aruanda, como filho de Umbanda, aproximando-se, em novo processo de iniciação, às correntes espirituais ligadas àquela egrégora na qual tornará-se, então, colaborador e participante da agora corrente astral de Umbanda, junto da qual passará a um estado de novos aprendizados e refazimento em vista do cometimento do processo reencarnatório que, amiúde, tornará a ascender sobre suas necessidades de contínua transformação e desenvolvimento como espírito.

O dinamismo das Leis espirituais impulsiona-nos os passos para o encontro com a Saúde, a Felicidade e o Bem-Estar, por tanto, façamo-nos seres ativos e conscientes destes mecanismos para que com eles possamos interagir de maneira positiva, comandando nossos caminhos, sabendo utilizarmo-nos das Egrégoras de Alta Luz e Beleza que certamente são produzidas e firmadas em nosso cazuá com muito Amor, Devoção e desejo de praticar o Bem, para o próximo e para nós mesmos.

Saravá a todos!

Bibliografia Consultada:
Rivas Neto, Francisco (1996). Fundamentos Herméticos de Umbanda
                                   (2002). Umbanda A Proto-Síntese Cósmica   
Vieira, Lourdes de Campos (2004). A Umbanda e o Tao
Lima, Bentto de (1997). Malungo - Decodificação da Umbanda
Radin, Dean (2008). Mentes Interligadas






quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A Obsessão Espiritual


Por: Gregorio Lucio

A obsessão espiritual é uma problemática que grassa na sociedade contemporânea, variando seu grau de influenciação e impacto sobre o comportamento de um indivíduo, ou de uma coletividade, afetando até mesmo, em casos mais graves, sua saúde psicológica e orgânica.

Importa entendermos que o mecanismo que une o ser humano à realidade que experimenta durante sua existência, como espírito encarnado ou desencarnado, está centrado nas expressões da mente, a qual coordena todas as manifestações de cada Individualidade em quaisquer planos ou circunstâncias que possamos alcançar para exemplificação.

Portanto, o nível de consciência diante da realidade de si mesmo logra fazer com que o ser abra-se às possibilidades de optar conscientemente pelos caminhos que haverá de trilhar na senda das experimentações que inevitavelmente realizará, ao longo de todo o seu ciclo de desenvolvimento como Espírito que É, rumando para a auto-iluminação.


No entanto, por conta dos mais diversos dilemas existenciais com os quais o homem defronta-se - muitos permanecendo fixados em seu inconsciente desde as eras mais primevas da humanidade -, quais sejam os dramas envolvendo a idéia da ocorrência da morte, da doença, da violência, da solidão, da miséria, da perda, entre outros, este incorre na busca de mecanismos de fuga e alívio das pressões psíquicas que se lhe fazem estressantes e esmagadoras, desta forma  surgindo os hábitos perniciosos, comumente observados em nosso meio social, como o tabagismo, o alcoolismo, a drogadição, a sexolatria, etc...vícios profundamente danosos à saúde e refreadores tenazes das possibilidades de transformação mental de todo aquele que se lhes torne um adicto.

Situamos a problemática do comportamento humano, e os seus desvirtuamentos, como premissas para compreendermos que na base das obsessões espirituais existe a conjunção de duas (ou mais) mentes que se afinizam e se estreitam, por identidade de pensamentos e emoções. Dessa forma, o ser encarnado não é e nunca será um marionete nas mãos das individualidades desencarnadas. Todos recebemos as influências das dimensões extra-físicas, tanto as situadas nas regiões de Luz quanto nas regiões de Escuridão, pois que ambas encontram ressonância em nosso mundo íntimo, pelo fato de que nossa própria condição humana caracteriza-se por essa polaridade, Luz e Escuridão (Sombra), que permeia nosso mundo mental e psíquico.

Nossos padrões emocionais estabelecem nossa conduta e pensamentos referentes às impressões que detemos em torno de nós mesmos e do mundo que nos cerca. Enquanto estagiamos inconscientemente em padrões emocionais de caráter perturbador, reagimos quase mecanicamente perante as ocorrências do cotidiano, cujas consequencias podem afigurar-se demasiadamente sérias. A insistência e a repetição de pensamentos em torno de questões deprimentes e perniciosas, vão, aos poucos, sendo fixadas em nossos registros cerebrais, dotando-as de automatismos estabelecidos nas conexões neuroniais, fisiologicamente, e programando, dessa forma, os pensamentos que iremos primeiramente emitir, como resposta aprendida pelo cérebro. Assim, formarão-se padrões de pensamentos de caráter intrusivo, a repetirem-se automaticamente, estabelecendo-se um mecanismo estressante.


O sentimento sistemático de culpa, de desvalorização, de desânimo, de irritação, de revolta, efetivam uma gradual negação de si-mesmo, como forças repressoras que tornam-se verdadeiros gigantes emocionais, a pressionarem "para baixo" os pensamentos de caráter positivo, desvitalizando o corpo e sobrecarregando as estruturas psíquicas, rumando para um processo de adoecimento, podendo levar até mesmo à desencarnação.

Encontraremos aí, unidas à desarmonia iniciada por processos inconscientes da personalidade encarnada, as mentes desencarnadas que buscam, porque também doentes e desajustadas, o convívio psíquico do indivíduo obsediado, nutrindo-se de sua vitalidade e entrelaçando-se ao seu "hospedeiro", num processo de simbiose espiritual, conforme já narrado em livros referentes ao tema.A obsessão dar-se-á dentro de um mecanismo de "retro-alimentação", no qual ambos (obsessor-obsediado) nutrem-se um do outro, comungando dos mesmos pensamentos e padrões emocionais. Tal vinculação se estabelecerá por períodos mais ou menos longos, com a possibilidade de perdurar por uma ou várias encarnações inteiras, a depender da gravidade e dos compromissos que ligam os indivíduos envolvidos no processo perturbador.

Somente com a ocorrência da "quebra" de sintonia entre as mentes conjugadas no processo obsessivo é que será possível alcançar-se a recuperação e a retomada do equilíbrio gradativo para ambos.

O tratamento espiritual torna-se, então, o recurso pelo qual será possível penetrar no campo de ligação das mentes doentias e desvinculá-las, aos poucos, do contato enfermiço e infelicitador no qual deixaram-se fixar.


O passe, a oração, o acompanhamento médico/psicológico (quando a questão afetar de maneira mais profunda as condições psicofisiológicas do paciente), deverão constituir o caminho da reabilitação, ao qual o indivíduo deverá vincular-se a fim de modificar seus padrões de comportamento emocional, suas percepções de si e do outro, conscientizando-se dos seus conteúdos perturbadores e buscando apoios especializados para que possa encontrar meios saudáveis de resolvê-los ou de lidar com estes de maneira madura.

A busca por atividades esportivas, pela ocupação do tempo livre com compromissos edificantes e regulares, o trabalho regrado e ordenado (assalariado ou voluntário), o estudo, a vivência religiosa, o hábito da meditação, entre outros, são instrumentos valiosos dos quais poderá dispor para angariar forças e disposições íntimas a fim de superar os seus conflitos e recuperar o equilíbrio emocional.

A vivência de valores positivos, os quais possam trazer-nos experimentações gratificantes e felicitadoras, é a meta a que devemos nos propor ao longo de nossa atual encarnação. Tornarmos a nossa vida programada por realizações edificantes são o antídoto para os mecanismos perturbadores que poderão situar-nos nos círculos do sofrimento e do flagelo espiritual, aos quais podemos entrar por nossa própria invigilância e descaso diante de nossas necessidades de reajustamento e transformação constantes.


Se procuramos vincularmo-nos aos nossos Guias e Protetores, permitindo que essa ligação se faça cada vez mais profunda, como uma ponte que nos permita chegar aos níveis de compreensão da realidade espiritual, é necessário, antes de tudo, que nossos canais estejam limpos para que o fluxo de nossas energias possam se fundir de maneira cada vez mais profunda.


Devemos, portanto, "subir" em direção aos planos nos quais os Numes de Aruanda encontram-se, ao invés de fixarmo-nos, imóveis, no lamaçal de nossos sofrimentos e indecisões, esperando que eles "desçam", como sempre, para que possamos nos contentar com uma mínima "faísca" de toda a Luz que em Aruanda está e da qual percebemos tão pouco, por conta das sombras da inconsciência a que preferimos nos entregar, para continuarmos com nossos desatinos.

Que a Luz de Aruanda Maior esteja iluminando-nos cada vez mais, na medida em que nos permitimos ir ao Seu encontro!


Saravá!