Por: Gregorio Lucio
Uma questão na qual sempre reflito refere-se a idéia da chamada Missão Mediúnica, com a qual os adeptos umbandistas (notadamente os médiuns, “cavalos-de-santo”) estamos vinculados ao longo de nossa trajetória neste universo religioso.
Bem, em princípio seria interessante analisarmos o significado atribuído a palavra “missão”. Diz-se, em nosso meio, que o médium tem uma missão junto de seus Guias Espirituais e perante aos “assistidos” (encarnados e desencarnados) por meio de sua mediunidade. Entendo com isso que, conforme o significado específico da palavra em questão, o médium possui o encargo (a incumbência) que é dado a ele para realizar uma determinada tarefa. No caso, a tarefa seria o beneficiamento de outrem por intermédio do trabalho espiritual feito pelo médium e seus Guias.
Bem, em princípio seria interessante analisarmos o significado atribuído a palavra “missão”. Diz-se, em nosso meio, que o médium tem uma missão junto de seus Guias Espirituais e perante aos “assistidos” (encarnados e desencarnados) por meio de sua mediunidade. Entendo com isso que, conforme o significado específico da palavra em questão, o médium possui o encargo (a incumbência) que é dado a ele para realizar uma determinada tarefa. No caso, a tarefa seria o beneficiamento de outrem por intermédio do trabalho espiritual feito pelo médium e seus Guias.
Contudo, devemos ter uma visão mais ampla do que seria esse trabalho espiritual (que nem sempre ocorrerá pela mediunidade, diretamente) sob encargo do médium que lhe cumpre realizar ao longo do ano todo (e não só no Natal, como é a ocasião atual) e durante toda a sua vida, dentro de seus limites e possibilidades, é claro.
Por exemplo, esse trabalho se expressa de maneiras diversas, como o acolhimento e a ajuda de pessoas necessitadas de um auxílio mais “material e imediato” (alimento, roupas, etc.); a visita, a oração em favor e o diálogo fraterno (não é dar passe, nem consulta espiritual) para com enfermos de seu conhecimento e pessoas em situações difíceis e graves a que venha a ser solicitado a prestar seu concurso; o aconselhamento ético, a educação e o esclarecimento do próximo quanto aos princípios espirituais que são de seu conhecimento, em face de sua vivência religiosa como umbandista (e que, naturalmente, exigem do médium, principalmente, conduta exemplar dentro destes princípios).
Estou enfocando essas possibilidades de expressão do trabalho espiritual, para que tenhamos uma idéia de que a vivência religiosa, como médium, não está restrita e exclusiva às poucas horas que este possa vir a passar dentro do templo religioso. Como costumo dizer, é fácil ser “bom” e “caridoso” dentro do ambiente religioso (no qual passamos em média 2h, uma ou duas vezes na semana, de acordo com o calendário de cada casa). Até mesmo porque ali, dentro deste ambiente, o sistema de relação que impera (como em qualquer ambiente nobre do convívio social) é o da formalidade.
Mas, a expressão do trabalho espiritual e da verdadeira ligação do médium para com seus Mentores deve estar num contexto muito mais amplo e profundo do que isso. Deve ser mais do que cumprir uma formalidade de uma atividade religiosa. O trabalho espiritual deve estar em uma profunda associação com o restante de nossas ocupações e da maneira como vivemos o nosso dia-a-dia. Isso é viver a religiosidade de maneira coerente.
Não é estar todos os dias nos trabalhos do terreiro que irá fazer o adepto ter resultados salutares em sua vida religiosa. Ele pode estar ali simplesmente enquanto não tem “outro lugar para ir”. Por que “um familiar ou amigo frequenta aquele lugar, então ele também vai”. Enquanto ainda dure a sua esperança de que aquele lugar vai “resolver o seu problema”. Enquanto não aparece um novo amigo(a) ou namorado(a) ou enquanto ninguém o convide para uma balada ou outra atividade que lhe seja mais atraente...enquanto... Em outras palavras, a presença de uma determinada pessoa no ambiente religioso pode estar ocorrendo de uma maneira completamente destituída de significados e comprometimentos mais profundos.
Lembro que a condição capaz de trazer resultados positivos e plenificadores para a vivência religiosa é a maneira pela qual o médium (ou o adepto, de maneira geral) se entrega e vivencia os momentos em que está ali. Claro que os resultados de uma experiência religiosa positiva só podem ser construídos quando estes ocorrem seguindo uma constância e uma regularidade. No entanto, isso não quer dizer, necessariamente, estar presente em todos os dias, num sentido de obrigatoriedade.
Pelos diálogos que travo com pessoas pertencentes a direção de atividades em ambientes religiosos (alguns terreiros de umbanda, centros espíritas e igrejas evangélicas, mais especificamente), vejo que o grande desafio que se afigura dentro dos templos é a constante tendência dos frequentadores, de maneira geral, em transformar o ambiente de atividades em um simples centro de convívio social, desprovido de mais amplos significados, como qualquer outro existente (a academia, a roda de amigos, o passeio público, etc.) ou, principalmente, num “refúgio” para os desafios que se apresentam no dia-a-dia. Recordo-me de um companheiro que, no meio de uma reunião espírita, confessou a mim de que vinha para o Centro Espírita “pois não aguentava o choro de sua filha recém-nascida e as exigências de sua esposa”. Fora esse, outros casos que já tive oportunidade de conhecer, pelos quais a vida religiosa é assumida numa tentativa de substituir a realidade do dia-a-dia (dificuldades em lidar com parceiros no ambiente de trabalho, conflitos conjugais, desgaste com filhos, desemprego, problemas sexuais, alcoolismo, drogadição, etc.). E essa, definitivamente, não é a melhor maneira de se resolver a questão.
A busca pelo ambiente religioso como um ponto de alívio emocional e fortalecimento espiritual para o enfrentamento das dificuldades da vida e dos conflitos interiores é compreensível e natural. Contudo, enquanto o indivíduo não identificar em si quais são esses seus conflitos e as facetas de sua vida que merecem a devida atenção e a conveniente solução, a vivência religiosa não terá um efeito maior do que o de um comprimido para dor. A dor passa na hora (os conflitos se aliviam e a emoção se atenua), mas enquanto o problema não for devidamente enfrentado dentro do seu contexto próprio (se profissional, familiar, afetivo, de saúde, etc.) e solucionado (ou pelo menos, conscientemente orientado), essa experiência sempre será um ciclo interminável e até neurótico (tenho um problema, não me sinto capaz de resolver, corro pro templo religioso, alivio a emoção, volto pra casa; levanto no dia seguinte, surge o problema, me sinto fragilizado, volto pro templo religioso, alivio a emoção...).
Dessa forma, creio que devemos nos integrar a uma postura amadurecida e entender a “missão mediúnica” como um comportamento consciente e assumido de compromisso, ética e parceria para com os Guias Espirituais.
Quando o trabalho espiritual feito pelo médium junto a seus Guias está alicerçado, de maneira consciente, nestes 3 pilares (compromisso, ética e parceria), é possível realizar uma adaptação das possibilidades de como este trabalho pode ser feito, ajustando-o a necessidades outras que também se exige do médium, para que estejam em equilíbrio (trabalho, família, estudos, lazer e outras). O médium só pode dar na medida daquilo que tem. Tanto para os Guias, quanto para os assistidos. Importa que sua vida esteja, dentro do que é possível, equilibrada e saudável, para que os resultados de seu trabalho no campo mediúnico possam ser cada vez mais compensadores e gratificantes para si mesmo e para o próximo.
Compete, portanto, a cada médium, identificar quais são as exigências de sua vida cotidiana e conciliá-las para que seus compromissos possam ser assumidos sem maiores prejuízos para si mesmo, fazendo assim de sua trajetória um caminho contínuo e duradouro, superando todas as suas provas e desafios.
Temos informações obtidas dos Benfeitores Espirituais de que desde, aproximadamente, 60 anos para cá, não se encarnaram mais espíritos na condição de Missionários. Isso porque estamos atingindo um momento social – portanto, coletivo – em que cada um é chamado a assumir a auto-responsabilidade por sua vida, mediante o esforço pelo auto-esclarecimento, pela auto-consciência e por colocar-se, dessa forma, como sujeito ativo e condutor de seus caminhos, deixando de lado a desculpa e a justificativa de seus erros, para isso escondendo-se atrás dos erros dos outros. Cada um deve responsabilizar-se pelas consequências boas ou más de suas escolhas e de sua conduta, trabalhando para que sejam sempre as melhores e mais acertadas possíveis.
Ou seja, as Leis da Vida nos convidam, cada vez mais, ao amadurecimento psicológico e a entendê-lo como um processo que não surge por simples ação dos anos, conforme a pessoa envelhece, como pode-se pensar a partir de um “senso comum”. Embora todas as pessoas mereçam sempre o nosso maior respeito, idade avançada e cabelos brancos não equivalem diretamente a maturidade.
O amadurecimento psicológico surge, ao passar dos anos, como um traço que se destaca naqueles, e somente naqueles, que se colocam como responsáveis diante de sua existência e que adotam essa atitude de refletir sobre si mesmos e trabalhar em seu aprimoramento interior, solucionando seus conflitos, diluindo suas carências, se desvinculando de possíveis frustrações do passado e eliminando, gradualmente, seus vícios e maus-hábitos.
Esse amadurecimento psicológico (na psicologia junguiana, chamado de individuação) pode ser entendido como a essência daquilo que chamamos, no meio espírita, de “evolução espiritual”.
Penso que o médium deve se perceber como uma pessoa comum e que necessita se integrar nos diversos contextos, nos quais a sua presente encarnação o coloca (como profissional, familiar, estudante, cidadão e religioso, todos num mesmo nível e grau de importância). Deve buscar ampliar e diversificar as atividades de seu dia-a-dia, adotando hábitos simples, saudáveis e culturais, justamente para se qualificar mentalmente, desenvolvendo seus recursos espirituais que lhe farão, inclusive, servir melhor como médium.
Devemos ter consciência de que não vivemos exclusivamente para a Umbanda e, muito menos, da Umbanda. Não alimentemos a falsa ilusão, ou até a presunção, de que estamos “salvando o mundo” por meio da nossa mediunidade e muito menos de que a dedicação exclusiva a vida religiosa nos irá livrar das outras experiências que nos são impostas pelas Leis da Vida.
Assim, será possível estabelecer, cada um dentro de seu momento de vida, uma programação saudável e conciliadora de seus diversos compromissos.
Fraternalmente.
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