Por: Gregorio Lucio
Reza, Prece e Oração.
Embora para muitas pessoas todos estes termos sirvam para se referir a mesma coisa, gostaria de compartilhar algumas reflexões e conhecimentos sucintos para, se possível, ampliarmos nossa visão a respeito do que venha a ser, efetivamente, cada uma destas palavras e práticas tão comuns da experiência religiosa do ser humano.
Primeiramente, lembro que ambas nos ligam, de maneira prática, ao plano do Sagrado, para o qual nos direcionamos em busca de algo que possa nos corresponder interiormente. Rezamos, fazemos Preces e Oramos, seja a benefício de nós mesmos, seja em benefício de outrem. E, de maneira geral, fazemos isso assumindo uma postura (tanto interior quanto exterior) característica, proferimos palavras que nos foram ensinadas ou que decoramos de alguma forma, ou mesmo silenciamos e “conversamos” de maneira aberta e espontânea com Deus. Ou seja, tanto na Reza e na Prece, quanto na Oração temos o mesmo princípio operante: o de nos ligarmos e nos sintonizarmos com a Divindade.
Falando especificamente, a Reza constitui um ato característico, muito comum na prática rito-litúrgica de várias religiões. Trata-se de um modelo, com um “texto” definido, o qual é proferido, em geral, de maneira coletiva, por todos os presentes no templo religioso. Ave-Maria, Salve Rainha, O Credo e até o Pai-Nosso, isso sem nos referirmos a outras tantas existentes também em outras culturas religiosas além do Cristianismo, quando utilizados de maneira coletiva, em um ato rito-litúrgico, caracterizam a Reza. Para ficar claro, basta lembrarmos da origem desta palavra. Reza vem da raiz latina Recitare, que significa “ler em voz alta e clara”. Aliás, a mesma palavra latina (Recitare), também deu origem, na língua portuguesa, a palavra Recitar, que tem o mesmo significado já exposto. Posteriormente, no Brasil, atribui-se o significado da palavra Rezar como sinônimo de Orar, diferenciando-se da palavra Recitar. Mas, como pudemos ver, a origem das palavras tem o mesmo sentido, e é utilizado de maneira lógica na rito-liturgia religiosa, pelo conhecimento teológico de sua origem em latim, como uma expressão coletiva.
Bem, em toda Reza está presente a Prece.
E o que seria a Prece?
A Prece significa uma atitude ativa por parte do indivíduo que se lança em direção a Deus. É o desejo da pessoa de se “comunicar”, de diminuir a “distância” entre ela e a Divindade. É a atitude que tomamos na intenção de sentirmos a presença de Deus em nós e entrarmos no fluxo inspirativo que se irradia Dele, trazendo para nós e para os outros (quando nossa intenção é a de interceder por alguém) um sentimento de plenificação, de serenidade, de paz, de estabilidade. A prece é um ato de adoração, no qual deve caber sempre o pedido (súplica), a louvação e o agradecimento. É indispensável a ligação do sentimento de fé e de elevação interior na prece para que possamos nos sintonizar com o “pensamento” Divino.
Seja por meio das preces lidas, decoradas ou pela ação livre e espontânea do nosso pensamento, com o qual buscamos nos ligar a Deus, temos que compreender o significado das palavras que estamos pensando e/ou proferindo, qual o sentido do que estamos dizendo (principalmente no caso das que são lidas ou decoradas) e sempre ligar o nosso sentimento íntimo de busca e de desejo de entrar em contato com a Fonte Divina do Bem. A prece nunca pode ser algo repetido maquinalmente, com o qual o coração não se comove e nada sente. E, para isso, Jesus, nosso Divino Mestre, nos herdou um modelo exemplar: O Pai-Nosso.
Quando Jesus responde ao apelo dos discípulos e da multidão que o observava no monte, profere as seguintes palavras:
“Assim, pois, é que vós haveis de orar. Pai nosso, que estás nos Céus, santificado seja o Teu nome!...” (Mateus 6:9, 6:10, 6:11 e seguintes)
Se refletirmos no conteúdo do Pai Nosso, lembrando-o em toda a sua extensão, veremos que lá estão contidas as bases para a efetiva prece, pois ele é o resumo de todas as profundas aspirações humanas (oportunamente, trarei um texto com a reflexão detalhada em torno do sentido do Pai-Nosso).
A prece é, portanto, um aprofundamento no processo Oracional.
A possibilidade de experimentar a Oração, esse estado interior (estado oracional), é factível para todo aquele que busca ampliar a consciência de si-mesmo.
A Oração, conforme já o disse, é a condição totalmente interior, subjetiva, é um estado mental ao qual podemos nos conduzir por intermédio da prece e da reza. É possível e comum, em alguns momentos, Rezar e fazer Preces sem entrarmos num estado Oracional, o que certamente demonstrará que não houve uma correspondência entre a nossa prática exterior e a nossa condição interior. Pois não adianta somente pensar em Deus e pronunciar o Seu Nome. É preciso pensar nEle com elevação, com o desejo e a aplicação da vontade em com Ele se conectar. Ou seja, deve ser um ato consciente de busca-Lo.
A oração se concretiza, quando feita de maneira adequada, em um sentimento interno profundo, inexprimível, no qual todas as palavras silenciam. É um estado de quietude. É o atingimento de uma condição mental superior, no qual podemos e devemos nos exercitar, adentrando-o, buscando permanecer neste. Utilizando um termo comum na meditação, que também nos induz a um estado mental superior, o exercício da oração deve resultar, com o passar do tempo, com que possamos atingir um estado de contemplação. A constância no hábito da oração nos leva, com o passar do tempo, a uma gradativa iluminação interior.
Para finalizar, elaborei um singelo resumo gráfico, situando a Reza, a Prece e a Oração como momentos e níveis diferentes, contemplados uns nos outros, conforme segue:
Saravá!
Bibliografia Consultada:
Miranda, Projeto Manoel Philomeno de (2008) – Consciência e Mediunidade
(2010) – Qualidade na Prática Mediúnica
Kardec, Allan (1864). O Evangelho Segundo o Espiritismo
A Bíblia Sagrada – Evangelho de Mateus
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