Por: Gregorio Lucio
Muito se tem discutido a respeito das origens da Umbanda.
Alguns acreditam ser esta uma religião revelada no dia 15 de novembro de 1908, pelo médium sr Zélio Fernandino de Moraes, logo, teria seu início a partir de um escolhido e revelador (obedecendo, assim, a mesma estrutura de "mito fundante" das demais religiões abraâmicas).
Outros, crêem-na como uma religião cósmica, detentora dos mais altos níveis do conhecimento humano (em suas esferas científica, religiosa, artística e filosófica), o Conhecimento Uno, provindo das mais antigas e míticas raças humanas já existentes na Terra (Raça Vermelha e, posteriormente, os Atlantes e Lemurianos), cujas chaves de conhecimento teriam sido guardadas e veladas pelos Antigos Egípcios e no decorrer da história, haveria chegado ao Brasil por intermédio dos povos africanos e se conjugado aos conhecimentos já existentes dos indígenas brasileiros.
Seria essa a chamada Aumbandan; outrem, creditam às tradições originariamente africanas as chaves e fundamentos para o surgimento da Umbanda no Brasil.
E, ainda, aqueles que reputam à Umbanda a pecha de uma simples seita, destituída de corpo doutrinário, senso racional e crítico, repleta de crenças e fetichismos, a qual surgiu como um processo de degradação das religiões predominantes ao longo do processo de desenvolvimento social, notadamente nos centros urbanos das grandes cidades brasileiras.
De nossa parte, cremos que a Umbanda surge como um processo natural de ressignificação de práticas religiosas pertinentes ao imaginário coletivo da cultura popular brasileira (catolicismo popular, pajelança, espiritismo "kardecista" e as práticas africanistas). Em conjunto a este processo, no plano espiritual, há um mecanismo de adaptação e direcionamento dos Espíritos afins à faixa vibratória brasileira, os quais colocam-se em contato com o "mundo terreno" para contribuir com as necessidades espirituais, psicológicas e sociais daqueles que, a pouco e pouco, tornaram-se adeptos da Umbanda e seu universo espiritual.
Cremos, particularmente, ser a Umbanda uma religião essencialmente brasileira, contando com o amparo e assistência de Grandes Numes, os quais orientam e direcionam a coletividade umbandista no processo de sua jornada espiritual, através da prática da caridade, do amor ao próximo, da ética e da cada vez maior consciência crítica e reflexiva de seu corpo de adeptos, fazendo com que saiamos de uma zona de marginalidade e sub-cultura, e passemos a ocupar e partilhar de um plano mais central na produção cultural e religiosa no cenário brasileiro.
Ademais, em seu aspecto espiritual, também particularmente, não cremos que a Umbanda disponha de uma "missão" específica, como as religiões cristãs predominantes (por exemplo, o Catolicismo, por meio de sua Igreja procura arrebanhar fiéis e balisar sua conduta religiosa para uma salvação; o protestantismo por sua vez, busca a conversão do indivíduo à fé cristã para também desta forma conseguir sua salvação; o espiritismo "kardecista" pretende ser a Terceira Revelação das religiões Abraâmicas, o Consolador Prometido por Jesus Cristo). Sinceramente, não cremos que a Umbanda disponha desta premissa na constituição de sua práxis religiosa, bem como em seus ensinamentos.
Cremos que a singeleza , a doçura e força da Umbanda estão justamente na naturalidade em que ela se propõe a oferecer abrigo àqueles que buscam uma vivência religiosa em contato direto com o Sagrado através do Transe (não necessariamente mediunista), na qual o indivíduo pode ser partícipe da comunidade religiosa, exercitar a solidariedade, a tão falada caridade, e experenciar em si mesmo os efeitos salutares da conduta direcionada para a ética e a responsabilidade, para o contato com a natureza e a ligação direta com a Divindade (Zambi, Olorum, Deus, etc) nas mais diversas formas em que se apresente.
Saravá a todos!
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Bibliografia Consultada:
Cumino, Alexandre (2010). A História da Umbanda
Trindade, Diamantino Fernandes (2009). Umbanda Brasileira (Um Século de História)
Neto, Francisco Rivas (2002). UMBANDA A Proto-Síntese Cósmica
Matta e Silva, W.W da (2009). Umbanda de Todos Nós
Muito boa essa sua iniciativa de verdadeiramente esclarecer a Umbanda sem querer impor a sua forma de trabalho.
ResponderExcluirMuita luz pro esse seu caminho, irmão de fé.