Por: Gregorio Lucio
O corpo é instrumento da alma. Estamos manifestos no plano material e instrumentalizados por um complexo orgânico responsável por arquivar nossas experiências sensoriais e extra-sensoriais, mediante cujo mecanismo acrescemos ao nosso patrimônio interior, por via do inconsciente, os registros dos quais nos valeremos ao longo de nossa caminhada espiritual, obedecendo ao imperativo da reencarnação.
Como já salientamos em nossos textos anteriores, segundo nossa concepção, a Umbanda não vê o mundo espiritual e o mundo material como expressões dissociadas e independentes. Cremos numa Unidade que se manifesta em dimensões diversas.
Voltamos a essa premissa para que possamos entender o porque das práticas espirituais da Umbanda estarem intimamente ligadas a utilização de elementos da natureza, símbolos e até mesmo com expressões corporais características.
Ao contrário do que alguns seguidores de outras correntes espiritualistas vêem na Umbanda, não nos utilizamos de recursos "materiais" como apoio para conseguir "efeitos espirituais" que poderiam ser atingidos somente com faculdades subjetivas, supostamente de "níveis superiores". Para nós, a noção de corporeidade está diretamente associada à significação do mundo, no qual, como Espíritos encarnados, nos manifestamos.
Por exemplo, diferentemente do Espiritismo (vide: "Kardecismo" e Umbanda são iguais?), no qual a relação com o mundo espiritual é expressa, notadamente, pela fala do médium (por isso a utilização do termo psicofonia, para designar o fenômeno pelo qual o espírito se comunica, nas sessões mediúnicas espiritistas), na Umbanda possuímos duas formas de expressão do fenômeno espiritual: a linguagem corporal e a fala, sendo a primeira mais significativa e rica dentro da simbologia e fenomenologia do transe (por conta de suas gestualidades, danças, expressões faciais, atos liturgicos, etc).
"A linguagem da umbanda não é referencial, não etiqueta objetos, metafísicos ou não, o que lhe permite uma grande liberdade de composição. Pode conceber-se como processos de enunciação que envolvem a integralidade dos sentidos"(Bairrão, 2004).
Como manifestação do Espírito, na Umbanda o corpo expressa memórias coletivas e pessoais, sendo essas para nós, o conjunto das vivências da humanidade ao longo do tempo (em suas dimensões natural, social, espiritual e divina).
Assim, os banhos de ervas compõem dentro das práticas religiosas na Umbanda, mais um significativo procedimento para estabelecer-se a relação do seu adepto com o mundo espiritual.
O banho de erva, assim como a magia das fumaças (vide: A Defumação), compõe a preparação fundamental de seu adepto para o contato com o Sagrado, com os Numes da Umbanda, os quais não somente valem-se do psiquismo como também utilizam-se do corpo do médium, num autêntico processo de incorporação.
Dessa forma, é importante que não só o subjetivo (os pensamentos e as emoções) esteja em harmonia, refletindo um estado de serenidade. É também sumamente imprescindível que o corpo também esteja em estado propício para a prática espiritual.
A prática de banhar-se com as ervas ritualísticas serve como instrumento de fixação das irradiações espirituais em torno do Aura do indivíduo, restabelecendo o equilíbrio de suas estruturas dimensionais mais sutis. O banho de ervas também pode ser utilizado como descarregador de "energias negativas" e como elo sintonizador com a vibração de seu Orixá.
O "filho de fé" umbandista precisa estar com seu corpo "vibratoriamente" adequado para que suas energias espirituais possam fluir de si, influenciando a realidade e produzindo estados de bem-estar, de equilíbrio emocional e prosperidade.
O médium umbandista, precisar estar com seu corpo "purificado" e sintonizado com as faixas espirituais de onde provêm os Guias e Protetores da Corrente Astral de Umbanda, para que seu trabalho possa ser feito a contento.
No caso de uma influência espiritual negativa, as emanações etéricas propiciadas pelo banho impactam sobre o corpo astral da entidade obsessora, alijando-a da ligação com seu "hospedeiro", favorecendo que este se reestabeleça.
Como vemos, nossas práticas estão repletas de significado e sabedoria, das quais nos dispomos dentro de nossa cultura religiosa, buscando sempre a saúde, a felicidade e a relação com o Divino.
Saravá a todos!
Bibliografia Consultada:
Matta e Silva, W.W da (2009). Umbanda de Todos Nós
Pellicciari, Fabiana Sampaio (2008). Estudo da Significancia do Corpo na Umbanda: limites e possibilidades de aplicabilidade de alguns conceitos lacanianos (Tese de Mestrado).
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