sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Incorporação - Parte 3: A relação Médium/Guia na Umbanda


Por: Gregorio Lucio

A perspectiva metafísico-religiosa do universo umbandista caracteriza-se por estabelecer uma relação de interdependência dos seres desencarnados com os encarnados, implicando não só numa constante influência dos primeiros nas vivências psíquicas e relações sociais dos segundos, mas também no trânsito do sujeito psíquico/biológico (médium) pela dimensão espiritual, cuja experiência possibilita ressignificar constantemente sua compreensão da Espiritualidade e ampliar seu campo de ação como medianeiro.

Esse discurso sagrado cultual, no qual os Espíritos Guias e Protetores concorrem como "recursos" significantes da vivência religiosa do umbandista,  faculta um campo de aprimoramento da Individualidade expressivo, sendo "[...]capaz de fortalecer laços interpessoais e intergeracionais e de promover concomitantemente inclusão social e integração psíquica"(Pasqualin, 2009)... aditaríamos, de nossa parte, a Ascensão Espiritual, como sendo o corolário da relação com os Guias e Protetores de Aruanda.

Estabelecemos nos dois parágrafos acima as premissas de que nos utilizaremos para dissertar a respeito deste novo texto, o qual trata do fenômeno do transe de Incorporação sob a perspectiva da relação Médium/Guia Espiritual.

Temos que a construção de um espaço interior e sagrado ao médium, por conta da prática da Incorporação e da relação dialógica (Carvalho, 1998) com os Guias Espirituais, é a constante na prática espiritual dentro da Umbanda, uma vez que nesta forma de religiosidade o acesso à dimensão do Sagrado não é realizada por meio de um pontífice ou um sistema doutrinário que codifique e cerceie as possibilidades de contato e relação com o universo espiritual, o qual pode ser interpretado de maneira plural, de acordo com as possibilidades e vivências próprias daquele que experimenta o transe.

Esta relação de constante diálogo entre médium-Guia, implica na utilização de determinadas funções psíquicas do médium, aprendidas no seu contexto religioso (ou até mesmo aquelas inatas), para que faça-se a comunhão espiritual. Dentre estas funções, estão: concentração, meditação, reflexão, oração, intuição, inspiração, além, é claro, do próprio transe.

Por meio das funções citadas acima é que o médium percebe e registra o pensamento de seu Guia ou Protetor, com o qual permuta continuamente as suas energias psíquicas, co-relacionadas com a sua psique e com o cérebro físico, o qual funciona como modulador destas mesmas funções.

O envolvimento nas irradiações do psiquismo dos Guias, ocasiona o processo de manifestação de símbolos advindos do inconsciente do médium, no qual localiza-se uma instância limiar que perpassa e permeia as ocorrências de entrelaçamento mental, entre outras manifestações paranormais, como seja o chamado Inconsciente Superior ou Superconsciente, segundo a denominação própria da Psicologia Transpessoal.

A maneira como dão-se as manifestações espirituais dentro das Leis de Umbanda, depreendemos das simbologias pertinentes ao universo semântico desta religião, as formas pelas quais os Espíritos Guias e Protetores irão utilizar-se para a sua "passagem" e presentificação nos trabalhos espirituais: "caboclos", "pretos-velhos", "baianos", "marinheiros", "crianças"...

Estas formas simbólicas de apresentação da realidade espiritual, contidas no imaginário umbandista, são importantes para entendermos como estão estabelecidas as relações mais ou menos estreitas e afetivas entre o sujeito/médium e aquele que representa seu Guia ou Protetor. À maneira como estão consteladas as imagens simbólicas no inconsciente do médium, este terá relações psíquicas diferenciadas entre aquele "grupo" de Espíritos que compõem a sua coroa mediúnica. Assim é que, normalmente, muitos médiuns, apesar de possuírem um Guia que lhe seja o seu principal mentor, estabelecem com um segundo Guia de suas correntes uma relação mais estreita de parceria e afinidade.

O imaginário coletivo umbandista permeia o fluxo das correntes de pensamento, pela Lei de Afinidade, as quais são dirigidas ao médium pelo plano Espiritual, assim como, inversamente, são emitidas pelo medianeiro em direção àqueles que se lhe afiguram como orientadores e mentores.

Na medida em que o médium transita entre a sua instância psíquica objetiva e aqueloutra subjetiva, onde estão gravadas as suas experiências vivenciadas na prática do transe de Incorporação, este vai adquirindo consciência de Si, como Espírito Imortal e totalmente vinculado a tudo o que existe no mundo, visível ou invisível.

Ipseidade, implica na compreensão do caráter individual e único de cada ente, distinguindo-o de todos o outros. O centro da consciência, define-se como o menor ponto "no interior" da alma do médium, no entanto, capaz de o iluminar por completo à medida em que pratica a incorporação (Carvalho, 1998).

São breves as vivências espirituais, bem como os registros destas afiguram-se, a princípio, fugidios. No entanto, neste processo de percorrer o trajeto de ida ao seu mundo interior, poder-se-á aperceber da riqueza simbólica (psíquica) e espiritual com as quais aos poucos vai constituindo-se e amadurecendo, concretizando seu processo de transformação íntima, como experiência espiritual, a tão falada "evolução espiritual".

Os Guias e Protetores, ao mesmo tempo em que conservam-se como seres transcendentes e à parte do inconsciente do médium, são também, dentro do sistema simbólico da Umbanda, símbolos que o integram e potenciais interlocutores sociais (Lambek apud Rotta, 2010).

Dessa forma, "colocar o coração (o sentimento, o afeto e, por derivação, a própria entrega à entidade, que é realmente muito intensa nessa tradição religiosa)", faz-se na Umbanda como "a mais desenvolvida das funções espirituais" (Carvalho, 1998).


A vinda dos Guias Espirituais, fazendo sua passagem do mundo espiritual para o mundo terreno, por meio de sua "descida", consolida a chegada do divino no terreiro, tornando sagrado o corpo e a mente do médium neste instante, pois que acessa e domina a mente do sensitivo durante o transe,  mesmo que parcialmente. Isso faz com que o próprio médium integre-se à realidade espiritual e funda-se consciencialmente com o próprio Congá de seu terreiro (o espaço sagrado na Terra).

Cada médium que hoje trabalha com seus Guias e Protetores em seu terreiro, vivenciando a sacralidade do Congá, no qual fundem-se as Individualidades presentes num estado coletivo de fenômeno espiritual, revive no Rito a tradição praticada pelas gerações de médiuns e Guias que passaram pelo templo, reelaborando as  forças espirituais primevas (as irradiações), trazendo-as para o tempo atual e reencaminhando-as para todos aqueles que pertencem, ou pertenceram, às correntes Astral e Mediúnica daquele templo.

A vivência do Sagrado e do fenômeno espiritual na Umbanda possibilita ao médium que, ao estreitar relação com o mundo transcendente, este possa perceber as dimensões mais amplas da Vida, na qual a Individualidade que se É compreende-se como estando vinculada a um esquema maior, de ordem Divina, do qual tornamo-nos aos poucos conscientes, como um ponto de luz que ilumina ao redor de si num Universo maior do que a razão intelectiva pode alcançar.

A prática das diferentes funções psíquicas, desde a reflexão interior até o transe de incorporação, veicula na mente do médium a presença Daqueles vindos de dimensões maiores da Vida, facultando o acesso às instâncias inconscientes de sua própria Individualidade, identificando-o com seu Orixá (o Deus-em-Si) num processo de ascenção contínua para o seu centro psíquico, o Self, concretizando o seu amadurecimento emocional e seu consequente aprimoramento espiritual.

Outrossim, o convívio psíquico com as mentes dos Guias e Protetores, segundo a perspectiva umbandista, promove a estimulação dos conteúdos mais profundos e plenificadores do médium, sob cujas suas influências, de grande força emocional, este acrisola a sua personalidade sutilizando seus pensamentos, sua sensibilidade, sua emotividade, alcançando novas concepções daquilo que está em seu patrimônio psicológico/espiritual, bem como daquilo que é próprio do Outro com o qual relaciona-se, também merecedor de apreciação e respeito.


Saravá a todos!

Referências:


Carvalho, José Jorge de (1998). A Tradição Mística Afro-Brasileira (artigo científico)

Pasqualin, Flavia Adrea (2009). Modo de vida e vivência do morto na Tenda Espírita de Umbanda Pai Benedito (tese de mestrado).
Santos, E.C.M (1999). Preto-Velho: As várias faces de um personagem religioso. (tese de mestrado)
Leme, F. R (2006). O uso do imaginário nos estudos afro-brasileiros e no culto umbandista (tese de mestrado)
Rotta, Raquel R.; Bairrão, J.F.H.M (2010). Mulheres médiuns e caboclas espirituais (artigo científico)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Incorporação - Parte 2: A interpretação Psíquica e Espiritual do Fenômeno


Por: Gregorio Lucio

Abordaremos os aspectos da interpretação Psíquica e Espiritual envolvidos no fenômeno de Incorporação, próprio ao mediunismo de Umbanda. Dessa forma, estabeleceremos uma interface entre as abordagens de viés psicológico e espiritual, englobadas nesta fenomenologia, de maneira a contemplar e fornecer subsídios às reflexões dos interessados e experienciadores (médiuns) de tais ocorrências.

A presentificação das entidades espirituais, dentro das práticas mediunistas de Umbanda, é a condição fundamental para que possa processar-se uma gira. Todo o mecanismo e sistema rito-litúrgico desenvolvido no culto religioso visa, primordialmente, a consecução do fenômeno espiritual, por meio do qual o adepto entrará em contato com o Sagrado.

São as entidades presentes "em terra", através da fenomenologia mediúnica, que irão trazer do mundo espiritual as forças divinas que serão entregues ao ambiente e aos participantes do rito, bem como poderão ministrar o concurso do atendimento e da palavra para aqueles necessitados de esclarecimento, orientação, cura de males psíquicos, espirituais e até orgânicos.


Podemos definir o fenômeno do transe de incorporação como sendo a "consciência modificada, caracterizada por uma mudança qualitativa da consciência ordinária, da percepção do espaço e do tempo, da imagem do corpo e da identidade pessoal" (Lapace apud Barbara, 2002).

O processo de alteração da consciência do indivíduo médium dá-se, segundo a visão própria dos umbandistas, como decorrência de uma capacidade inata de sensopercepção da realidade espiritual, caracterizada por uma hipersensibilidade psíquica e fisiológica, predisponente ao transe mediúnico de incorporação. Essa hipersensibilidade deverá ser adestrada ao longo do processo de seu "desenvolvimento" mediúnico, pela vivência do transe de maneira ordenada e sistematizada, assim como pelas práticas rituais, as quais o médium deverá submeter-se (servindo-se dos banhos de ervas, da "iluminação" e firmeza de suas correntes, etc). 

Dizemos, a partir de um "senso comum", ser por conta do "afastamento" do corpo espiritual do médium, o processo pelo qual irá efetuar-se a ligação da Entidade Espiritual ao seu corpo astral, num primeiro momento, para que por meio deste possa dirigir o corpo físico do sensitivo e apossar-se de seu psiquismo, alterando-lhe as expressões e manifestando sua própria individualidade, diferenciada daquela própria do médium, embora permaneça conservada a estrutura e coerência subjetiva deste.


Entendemos ser este "afastamento" do corpo espiritual do médium a condição de fluência e dinâmica de nossos padrões de percepção consciente, os quais transitam continuamente, da dimensão biológica a dimensão psicológica, sob cuja condição o indivíduo percebe (torna consciente) desde um estímulo em determinada região de seu organismo, por um determinado espaço de tempo, para em seguida entregar-se a pensamentos e reflexões mais ou menos envolventes, desapercebendo-se da realidade "exterior", do mundo que o cerca.

Dentro das práticas rito-litúrgicas da Umbanda, o médium aprenderá a servir-se de recursos próprios para direcionar seu pensamento e suas emoções, de maneira a criar as condições de expansão da sua consciência, voluntariamente, para que ocorra a transposição de seu estado consciencial ordinário para aqueloutros de natureza "superior",  pelos quais sintonizará com o pensamento irradiante dos espíritos Guias e Protetores vinculados à sua coroa mediúnica.

Na esfera espiritual, o processo ajustado pelos Espíritos que irão incorporar-se ao médium caracteriza-se pela "aproximação" destes ao seu campo vibratório, o qual pode ser definido como sendo o conjunto de pensamentos e emoções, dos quais o medianeiro disponha em seu cotidiano. A conjunção do "pensar e sentir" determina a cada um o seu padrão de forças potencial, o qual situa-nos em relação a dimensão astral, caracterizando quais sejam as nossas respectivas afinidades espirituais e momento evolutivo. Em decorrência, os Espíritos Guias e Protetores irão buscar sintonizar-se com o medianeiro, inspirando-o (num primeiro instante) a elevar sua condição mental, por meio da oração e das práticas ritualísticas já mencionadas.

Dessa forma, a interpenetração dos pensamentos de ambos (médium-Guia), criará um campo de potencial único, no qual circularão as imagens mentais a serem assimiladas pelo médium, das quais a pouco e pouco este irá apercebendo-se, proporcionando o estreitamento de forças e o enlace da Entidade Espiritual junto ao seu corpo espiritual e físico. Esta mecânica dar-se-á acompanhada de sensações corporais características, como seja um leve torpor, espasmos involuntários nos membros superiores e inferiores, aumento da frequência cardíaca, aumento da necessidade de oxigenação, leve tremor em regiões diferenciadas do corpo, etc.


Este campo de forças, constituído pela contínua postura de "passividade" - espontânea e comandada - do médium frente ao impulso e direcionamento dado pela Entidade Espiritual, funcionará como o elo sustentador do transe, uma vez que o pensamento de dúvida ou resistência por parte de um ou de ambos os envolvidos no processo, ocasionará, invariavelmente, a desvinculação mental e, consequentemente, a comunhão espiritual não poderá existir. 

"O transe e o corpo são a viabilidade para que expressões que transcendem o sujeito psicológico possam se expressar de maneira rica e multifacetada  nas várias formas que se apresentam nos rituais umbandistas (Bairrão apud Pelliciari, 2008).

As Entidades Espirituais, ao ligarem-se ao corpo espiritual do médium, manipulam-no por intermédio dos chakras, também conhecidos como centros de iluminação. Estes centros de força estão localizados na dimensão astral (corpo espiritual) e encontram correspondência em nosso organismo físico. Vejamos:

Chakra Coronário - Alto da Cabeça (coroa)
Chakra Frontal - Entre os Olhos
Chakra Laríngeo - Garganta (aparelho fonador)
Chakra Cardíaco - Centro do Tórax (coração)
Chakra Esplênico - Baço
Chakra Solar (Gástrico) - Umbigo
Chakra Básico (Sacro) - Órgãos Genitais  

No entanto, gostaríamos de relacionar um aspecto interessante a respeito do processo de incorporação, segundo o qual são os componentes de natureza emocional que dispõem da "força imantatória" responsável por conectar a mente extra-física à mente encarnada, enlaçando a Entidade Espiritual ao corpo astral do médium.

O processo de incorporação movimenta grande carga emotiva no campo psíquico do médium, tanto quanto no Ser desencarnado que partilha do processo de comunhão espiritual. Ao mesmo tempo em que o medianeiro sente sua consciência tomada por pensamentos, imagens e uma "impulsividade" intrusivas e incontroláveis (como se uma força superior o dominasse, embora de maneira voluntária), o Ser Espiritual envolvido no mecanismo mediúnico irá deixar-se também tocar pelas sensações de "imergir" no complexo orgânico, sentindo-lhe de maneira intensa as irradiações eletromagnéticas, a temperatura, o fluxo sanguíneo, os batimentos cardíacos, etc, vendo-se interpenetrar numa câmara escura e reacendendo sua percepção lúcida após a conclusão deste momento em que há a confluência das forças de ambas as dimensões para culminar na "chegada em terra" da entidade manifestante.

Salientamos que a Entidade Espiritual não entra no corpo do médium, tomando o "lugar" do Espírito-médium, no entanto, o entrelaçamento de mentes situadas em campos dimensionais diversos ocasiona a interpenetração dos campos vibratórios do sensitivo e do Guia/Protetor, o qual leva à sensação de estar sendo "tomado" por um Outro (no caso do médium), ao mesmo tempo a de estar "mergulhando" para dentro do organismo físico (no caso da Entidade Espiritual). Talvez essas impressões subjetivas, relatadas em tempos passados, numa época em que não se conhecia os mecanismos psíquicos e mesmo as reações fisiológicas envolvidas no transe mediúnico, levaram a crença de que o Ser manifestante entraria no corpo do médium, tomando o lugar de sua Individualidade Espiritual.

Outro ponto a tratarmos neste texto refere-se ao campo vibratório identificador do médium, o qual é único e demarcador de sua identidade espiritual. Este campo está assignado a um determinado Guia/Protetor de nossa Corrente Astral de Umbanda, o qual é o responsável por "abrir" e "fechar" o campo mediúnico, de maneira que as ocorrências espirituais perpassem sempre por esta "tela dimensional" situada entre as irradiações do médium e do seu Guia/Protetor "pai-de-cabeça", "guia-de-frente", entre outros nomes que este possa receber.

Assim compreenderemos - no processo mediúnico positivo, evidentemente - que a abertura do contato mediúnico entre médium e a realidade espiritual irá ser desencadeada pela confluência das correntes de pensamento entre este e o seu guia-de-frente, e as demais entidades manifestantes deverão penetrar, com consentimento de ambos (médium e Guia), este campo estabelecido.


Obviamente, para esse contato mediúnico ocorrer neste nível é preciso que o médium esteja em processo de conscientização a respeito de sua potencialidade mediúnica, para que em seguida esta possa vir-a-ser uma faculdade.

O termo "Faculdade", aqui empregado, remete-nos à condição de conquista e automatização de determinados processos psíquicos e orgânicos, os quais são "condicionados" e "comandados" pelo sujeito médium, tanto quanto pelo Espírito Guia envolvido no processo de comunhão espiritual,  a fim de proporcionar uma Incorporação equilibrada e suave, evitando desgastes e perturbação por parte do médium e também do Ser Espiritual, os quais poderão ressentir-se demasiadamente em ocasião de uma "união" ou "ruptura" brusca e repentina entre ambos. Aliás, por isso é que recomenda-se falar ao médium, quando este está em transe, com suavidade evitando tocar-lhe de maneira abrupta, uma vez que está em estado acentuado de sensibilidade psíquica e orgânica.

De igual maneira, os médiuns em transe, no momento em que transitam pelo congá ou realizam sua dança ritualística devem evitar o contato físico com outros, pois sua sensibilidade pode ser atingida em prejuízo ao estado de transe pronunciado pela comunhão espiritual.

Por último, pontuaremos algumas considerações a respeito da influência da conduta interior do médium como sendo o ponto focal para a conclusão efetiva do mecanismo de Incorporação. A prática da oração - não somente no ambiente do terreiro, mas no cotidiano particular -, a participação efetiva e contínua nos ritos realizados pelo templo (do início ao fim), assim como a conduta caritativa, a alegria de servir, e o exercício Ético e Moral, induzem à centralização e condução salutar de sua Individualidade, por cujo núcleo (da Individualidade) irão fluir aqueles conteúdos identificados ao Si-Mesmo, possibilitando fortalecer-se e reelaborar os aspectos de sua Personalidade, conscientes e inconscientes.

Essa dinâmica objetiva fazer com que a fluência destes conteúdos não entravem o processo de recepção da corrente de pensamentos e as irradiações dos Espíritos Guias, as quais chegam à nossa percepção consciente por intermédio do nosso psiquismo.

O "médium" de conduta egoísta, intolerante, insensível, agressiva, renitente, etc, revela possuir complexos psíquicos que situam o seu Ego em uma instância bloqueadora dos conteúdos próprios (inconscientes) e também daqueles transcendentes, não possibilitando a fixação e a consequente propagação da corrente mediúnica, em prejuízo de si mesmo, pois dificilmente poderá situar-se numa condição consciente e plenificadora de seus estados de transe, uma vez que não cede espaço ao Outro dentro de Si, tornando-se impermeável às influenciações de seus próprios conteúdos numinosos, bem como das inteligências extra-físicas que buscam orientá-lo e auxiliá-lo.

Somente quando abrimo-nos para a Vida, com a meta de transformarmo-nos continuamente, realizando nosso caminho de descoberta interior e libertação das distrações a que nos apegamos ao longo de nossa jornada, é que podemos alçar vistas aos aspectos mais profundos de nossa Individualidade, de procedência Espiritual, facultando-nos aprimorar nossos processos mentais, o direcionamento de nossos pensamentos e atitudes, bem como descortinar as nossas dificuldades e possibilidades de ação nas mais variadas formas em que apresentem-se.

Assim, como indivíduos seguros e maduros em torno daquilo que represente nosso próprio mundo interior, saberemos diferenciar-nos e situar nossa postura psíquica para servirmos ao nosso propósito de relação profunda com os Orixás, Guias e Protetores, tornando-nos melhores Espíritos e médiuns, ativos e cooperadores, espelhando de forma cristalina o pensamento dos Numes da Espiritualidade, auxiliando o próximo e plenificando a nós mesmos.

Saravá a todos!

Referências:

Matta e Silva, W.W da (2010). Umbanda de Todos Nós
Rivas Neto, Francisco (2002). Umbanda A Proto-Sintese Cósmica
Barbara, Rosamaria (2002). A Dança das Iabás (tese de doutorado)
Pelliciari, Fabiana Sampaio (2008). Estudo da significância do corpo na Umbanda: limites e possibilidades de aplicabilidade de alguns conceitos lacanianos (tese de mestrado)
Morini, C.A. Trinca. (2007). Ritual de Umbanda: A influência dos estímulos somato-sensoriais na indução do transe mediúnico (tese de mestrado)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Incorporação - Parte 1: A Manifestação


Por: Gregorio Lucio

Pretendemos, a partir de agora, iniciar nosso compêndio tratando especificamente do fenômeno de Incorporação, abordando diversas particularidades desta experiência mediúnica/espiritual, relacionando-as com aspectos integrantes da vivência do médium e das práticas umbandistas.

Assim, disponibilizaremos ao todo 5 textos, os quais tratarão dos seguintes temas:


Seguiremos estabelecendo considerações a respeito do primeiro tema: Incorporação - A Manifestação.

A questão a pontuarmos, para tratar do fenômeno de incorporação e sua manifestação, é a de justamente falarmos, sucintamente, do que representa este tipo de transe como experiência espiritual e corroborarmos o nome "popular" dado a esta modalidade mediúnica, dando-lhe senso de identidade e validade cultural/espiritual.

Queremos, com isso, dizer que Incorporação, dentro das práticas umbandistas, não é um termo errôneo, conforme encontramos citações em algumas obras de nosso circulo religioso e mesmo naquelas "kardecistas," pois diferentemente da maneira como esta irá processar-se durante a experiência mediúnica nas sessões espíritas, o mediunismo de Umbanda irá valer-se de todo um estado complexo - tanto das questões fisiológicas quanto psíquicas - que irá desencadear não somente a comunicação espiritual por meio da fala do médium (conforme aconteceria no termo psicofonia, próprio da conceituação "kardecista"), mas também todo um conjunto de ações efetivas no seu comportamento, expressando-se por meio de movimentos corporais (em alguns casos até de certa complexidade e tonicidade), bem como gestos, expressões e danças ritualísticas características de cada entidade manifestada.

Sendo assim, o que ocorre de fato na prática do mediunismo de Umbanda trata-se, positivamente, de uma Incorporação.

É claro que não cremos que o Espírito que se manifesta e comunica-se "entra" no corpo do médium, no entanto, o entrelaçamento psíquico e de energias pode ser tão intenso a ponto de deixar transparecer sinais patentes da Individualidade Espiritual que presentifica-se no momento do transe mediúnico.

Outra colocação importante a se fazer, a qual é muito pouco observada e comentada dentro dos círculos que lidam com a faculdade mediúnica e as experiências transcendentes, refere-se ao entender o transe como sendo o ponto denominador comum de todas as experiências espirituais ou místicas, na forma em que apresentem-se - ou apresentaram-se - em todas as culturas e religiões.

Dizemos isso pois, talvez por influência do pensamento espírita dentro da Umbanda, criou-se uma visão um tanto direcionada ao entendimento da experiência espiritual como sendo, invariavelmente,  de caráter mediúnico. Em verdade, a comunicação mediúnica é uma dentre várias possibilidades ocorridas no momento do transe.

Importa, então, aprofundarmo-nos nestas considerações para que possamos compreender a Incorporação em seu aspecto de Manifestação no mediunismo de Umbanda.

Entendemos que, na Umbanda, a rito-liturgia é o veiculo pelo qual os seus adeptos vinculam-se à tradição do templo e louvam a Divindade, dando campo a exteriorização de seu sentimento religioso, num processo coletivo de compartilhar da experiência do Sagrado, pois conforme vimos e vivenciamos as giras no terreiro, compreendemos que todos, mesmo aqueles sentados na assistência, estão envolvidos nos trabalhos espirituais e compõem elos da corrente que forma-se dentro do congá, no espaço simbólico-espiritual, onde irão ocorrer as manifestações transcendentes e por onde as Entidades irão fazer-se presentes.

A manifestação do fenômeno espiritual tem, portanto, uma função social em decorrência da realidade transcendente que expressa e da simbologia de que se utiliza dentro dos ritos em um templo de Umbanda.

A  dança, a expressão e a gestualidade do caboclo, do preto-velho, das crianças, dos baianos, etc, ao mesmo tempo em que tornam evidentes os estados psíquicos dos médiuns, pela sua mística e simbologia que carregam, comunicam aos presentes condições e momentos diversos dos trabalhos espirituais, bem como servem de referência para que aqueles "não-incorporados" presentes ao rito dirijam suas preces, rogativas e agradecimentos.

Igualmente, o neófito nas lides de Umbanda irá aprender a identificar os seus estados de transe e a comandá-los, por conta da disciplina a que se vincula dentro das práticas da casa, obedecendo a horários, dias e sistemas a serem aprendidos dentro do templo que frequente. A manifestação espiritual fora do momento e do local adequado (do trabalho espiritual dentro do templo de umbanda) é tida como indesejada e perturbadora e por isso o novo médium deverá educar-se a fim de conseguir esta coordenação da sua hipersensibilidade que o predispõe ao fenômeno.

Como umbandistas, nossa vida religiosa está centrada na vivência do fenômeno de ordem espiritual como sendo a porta de acesso direto à Divindade, representada pelas Entidades Espirituais próprias do contexto cultural-religioso em que estamos inseridos. Portanto, o veículo mediador desta experiência é o corpo. O médium é o próprio templo dos Orixás, de seus Guias e Protetores.

Dessa forma, a experiência do transe implica em reações psicofisiológicas específicas que abrirão campo para o transitar da consciência para níveis diferentes do convencional, os chamados Estado Alterados de Consciência (E.A.C), também entendidos como Estados Superiores de Consciência.

Estão dentro destas reações características a descontinuidade das funções de personalidade, psicomotoras, de memória, sensoriais e de comportamento. A maneira mais ou menos intensa em que estas reações processam-se, junto à transposição da consciência do indivíduo para níveis "não-convencionais", irá possibilitar por parte do médium um estado de maior ou menor lucidez durante a experiência do transe.

Esse "estado de coisas" experienciado pelo médium em relação ao seu psiquismo e ao seu organismo físico o levará, naturalmente, a criar identificações pontuais a respeito das imagens que lhe assomam à consciência, bem como as sensações físicas de que se vê "tomado", possibilitando por aí reconhecer qual a Entidade Espiritual que se lhe aproxima do campo mediúnico e com  que tipo de energias está sendo influenciado neste momento.

A partir deste fenômeno de modificação da atividade cerebral, o nível de percepção subjetiva e objetiva do sujeito/médium altera-se facultando que ele vivencie a experiência mística/espiritual. Assim, sua individualidade fará um "movimento em sentido vertical", a projetar-se em direção à dimensão espiritual, abrindo campo para a comunhão com outras mentes situadas no plano astral.

Neste instante, ao passo em que o médium adquire uma percepção dilatada do ambiente em que encontra-se, e até mesmo de determinados aspectos da realidade espiritual, ele é acessado pela mente de Outro, com o qual irá comungar neste momento da experiência espiritual. Seu coração aumenta os batimentos, ao mesmo tempo em que uma sensação de agitação e alentamento dos pensamentos ocorrem. Um sentido de torpor e de perda de noção do tempo assomam-se e o acesso involuntário de uma nova expressão facial e postura corporal irrompem... O médium, momentaneamente, não é mais o Eu identificado ao Si-Mesmo, embora conserve o eixo e o centro de sua individualidade. Agora, é o Outro espiritual que movimenta-se e gesticula pelo seu corpo, manipulando-o por "motu proprio". É o Caboclo que chega em terra, o Preto-Velho que agacha e curva o corpo de seu "cavalo", as Ondinas, Caboclas e Sereias que giram e dançam extaticamente fitando seus espelhos, o Boiadeiro com seu laço e seu brado.

Assim, o médium "sente a presença" ou a "aproximação" de seu Guia, o qual "acosta-se", "irradia", dando a entender ainda um estado de transição "branda" entre o médium e o Espírito. A prática da dança ritualística e da oração consolidam o momento desta experiência e facultam ao adepto o estado de concentração mental e co-relação corporal adequadas para o estreitamento da ligação entre ambos.

Neste nível de convivência entre as duas mentes relacionadas no processo de comunhão espiritual, processa-se a assimilação das correntes de pensamento entre ambos, viabilizando ao longo do tempo a possibilidade da comunicação espiritual, processo em que o Guia ou Protetor irá servir-se das propriedades sensoriais, motoras e cognitivas do médium para presentificar-se.

Finalmente, concluiremos dizendo que a Umbanda prima por colocar o adepto em contato profundo com seu Orixá, com a "Divindade-em-si", de maneira que este possa fortalecer seu senso de identidade, ampliando suas concepções e conhecimentos diante da realidade, a qual é continuamente ressignificada e reelaborada por este, durante e após cada gira. Ao término dos trabalhos, "o dia renasce" pleno de novos significados e esperança aos presentes.

Adicionalmente, entendemos que todo este mecanismo de significação social, psicológica e espiritual do fenômeno do transe de incorporação é importante para fazermos entender que a comunicação mediúnica não é essencial para a vivência do adepto em relação ao seu contato com o mundo espiritual, sendo antes de tudo a condição de comunhão mental e espiritual a experiência preponderante no estado de plenificação e sentido da vivência religiosa. 

Cremos, sinceramente, que a faculdade mediúnica direcionada à comunicação e atendimento ao próximo é patrimônio adquirido com anos (não poucos) de experiência e contato com o mundo espiritual, estando destinada a sua utilização eficaz e austera para aqueles que persistam no seu processo de educação mediúnica e vivência rituais.

Salientamos estes processos iniciais dentro do fenômeno de Incorporação e da prática umbandista, pois notamos uma preocupação exagerada, e até ingênua, por parte de muitos que pretendem obter da prática mediunista de Umbanda resultados rápidos e eficazes no contato com o mundo espiritual, esquecidos de que tal acontecimento exige conquista, vivência e disciplina dentro das Leis de Umbanda, sem contar nos acréscimos de responsabilidade diante da Vida e do próximo que nos procura, necessitado e aflito, o qual deve encontrar amparo num médium bem equipado, amadurecido e portador de uma faculdade nobre e bem adestrada de maneira a evitar enganos, mistificações e perturbações para si mesmo e para o outro, em desfavor à nossa Corrente Astral de Umbanda.

Saravá a todos!

Referências:

Carvalho, José Jorge de (1998). A tradição mística afro-brasileira (artigo científico)
Matta e Silva, W.W. da (2010). Umbanda de Todos Nós
d'Ávila, Rogério, Omena, Maurício (2006). Umbanda e seus graus inciáticos.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A Mística Mistérica da Umbanda - Parte I



Por: Gregorio Lucio

Concebemos este humilde texto inspirados nos escritos do eminente Prof. José Jorge de Carvalho, grande estudioso da Religiosidade Afro-Brasileira.

A Mística Mistérica Grega traduz-se por um Discurso Sagrado (Hierós Lógos Cultual), acompanhado de práticas rituais (erga) que conduzem a um conhecimento (gnosis), obtidos numa contemplação (théa), tendo como objeto o divino ou Deus (theion, théos).

Expusemos acima a conceituação da Mística Mistérica Grega, para relacioná-la com as práticas umbandistas, nas quais percebemos e identificamos a sua própria Mística Mistérica cujo seu desenvolvimento e alcance trataremos neste momento, embora sem a pretensão de esgotar o assunto.

Utilizando-nos de uma expressão cunhada pela tradição da Umbanda Esotérica, diremos que a Umbanda é a "Senhora da Luz Velada".


Essa definição a respeito da Umbanda, segundo nosso entendimento, traduz com profundidade uma verdade marcante a respeito dessa rica forma de religiosidade, constituída de  múltiplas simbologias amalgamadas de culturas diversas (africana, indígena, catolicismo popular e kardecismo), as quais guardam em si uma grandiosidade espiritual e alta sabedoria em sua forma de interpretar e relacionar-se com o mundo espiritual.


Mística refere-se ao estudo e compreensão das coisas espirituais e divinas, sendo expressa na cultura religiosa umbandista pelas práticas rituais e pelos fenômenos espirituais, os quais viabilizam o acesso do adepto a dimensões da Vida, indo além do que o simbolismo, a gestualidade, a palavra "falada" ou "cantada" podem expressar num primeiro momento, sendo estes, antes de tudo, veiculadores dos processos rituais para a obtenção final da contemplação e conhecimento do Sagrado.

Há uma complexidade inerente ao estudo e entendimento da mística umbandista, pois suas concepções de mundo, seu relacionamento e interpretação da realidade espiritual, bem como a vivência da religiosidade dentro da religião de Umbanda, constituem-se muitas vezes de produções anônimas, de caráter coletivo, e transmitidas in loco aos indivíduos ligados a cada templo durante os ritos, bem como suas elaborações ou reelaborações também são dinamicamente produzidas pelo estado alterado (ou superior) de consciência, pelo qual uma entidade espiritual transmite através de seu médium à coletividade uma série de práticas rituais, pontos cantados ou riscados, "modos de fazer" ou "normas de conduta", as quais irão se integrar ao contexto religioso da Umbanda.

Dessa forma, a Mística Mistérica Umbandista irá transpor suas diversas práticas e alcances de natureza teológica e filosófica para o espaço e o veículo de manifestação da religiosidade peculiar a esta, como sejam o terreiro de Umbanda e o corpo/psiquismo de seu adepto (médium). Ou seja, é no templo religioso que o adepto vivência em si mesmo a sua experiência mística, consumada no contato com o seu Orixá e o mundo espiritual, representados pelos seus Guias e Protetores.

A Divindade, segundo a Mística de Umbanda, está presente e totalmente interligada ao mundo fenomenológico, e a dialética entre imanência e transcendência (ver: Simbolismo, Magia e Subjet...) pode ser referenciada pela própria concepção original dos Orixás (Orisha), o quais são "gerados", segundo o imaginário cultural dos povos iorubás, de elementos da Terra (identificando-se com as pedreiras, cachoeiras, matas, mares, rios, etc), não sendo provindos de um espaço fora do campo de vida e vivência do homem.

Os Orixás identificam-se na Terra, em seus espaços sagrados, estando estes localizados inclusive no próprio corpo e no psiquismo do homem, portanto manifestam no mundo imanente a sua transcendência.

O contato com a coroa (o Ori, nos cultos africanos, simbolizando o centro da consciência física e espiritual no homem) realizado em todas as tradições umbandistas, é a prática mística na qual o indivíduo une o universo imanente (manifesto no corpo) com a sua própria transcendência, a qual será finalizada no entrelaçamento de sua própria energia com a de seu Orixá, representado pelo seu "guia-de-frente".

O adepto deve, portanto, preparar sua mente, através das práticas ritualísticas e espirituais vividas e aprendidas no terreiro, para que possa estreitar sua ligação com o princípio espiritual irradiado pelo seu Orixá, o qual permeará a entrada e a integração no psiquismo do adepto/médium de todas as outras irradiações divinas dos demais Orixás.


Fazendo uma transposição para a Mística Mistérica de Umbanda, diríamos que o Discurso Sagrado (a concepção de Divindade, dos Orixás e do mundo espiritual dentro das tradição de cada templo), é acompanhado de práticas rituais (danças, roupas, gestos, pontos cantados, riscados, calendários litúrgicos de festividades, ritos de preparação, de coroação, orações, rezas, oferendas, etc), as quais conduzem a um conhecimento (compreensão dos mecanismos e das relações próprias ao mundo espiritual, das Leis da Magia, das Leis Divinas, do desenvolvimento Ético e Moral, etc), obtido numa contemplação (experiência de contato com a dimensão espiritual, por meio do transe de caráter mediúnico ou não), tendo como objeto o Divino (o entendimento e o aprofundamento da ligação do adepto com seus Orixás).


A fim de contribuirmos com mais alguns exemplos a respeito  da questão da Mística Mistérica dentro das tradições umbandistas, nos valeremos de uma referência cultual própria e ainda seguida por alguns poucos templos das tradições da Umbanda Branca ou Umbanda Cristã, as quais receberam grande influência do Catolicismo Popular e do Kardecismo dentro de suas práticas, interpretação do universo espiritual e simbologias rituais. Citaremos, assim, a presença dos Simirombas e sua forma de culto particular realizada dentro do rito.


Simiromba é a palavra pela qual passou-se a designar aqueles espíritos que apresentavam-se como Padres, Freiras, Irmão de Caridade, etc, dentro das práticas místicas e espirituais, seja nas sessões de Umbanda, seja no Catimbó. Essa palavra foi "aberta" ao ritual de Umbanda e sua origem muito provavelmente deu-se pelo Catimbó nordestino, o qual é muito mais antigo que a própria Umbanda, embora hoje tenha sofrido grande processo de "umbandização" em suas práticas.


A etimologia da palavra Simiromba deriva do Sânscrito (língua-mãe do latim, do grego, de vários idiomas hindús, tibetanos, do lituano, entre outras línguas) e significa "Labor Espiritual", "Trabalho Espiritual" ou "Sustentação Espiritual". Há também uma segunda tradução para essa palavra, a qual seria designada como "homem puro". Traduz a realidade do trabalho destes Espíritos Sublimes ao longo dos ritos, a qual é a de justamente sustentar o ambiente espiritual do templo valendo-se das práticas próprias do catolicismo popular.

Em outras palavras, Simiromba é ao mesmo tempo o termo pelo qual identifica-se uma ou mais entidades espirituais ("homem puro"), as quais formam uma Irmandade no plano espiritual, e a simbologia que resguarda a prática do culto da oração e das rezas, utilizadas por esses mesmos espíritos, como instrumentos da contemplação do Sagrado e auxílio ao próximo, segundo suas propostas de evangelização enquanto encarnados na Terra ("sustentação espiritual").

Francisco de Assis é o grande ícone desta corrente espiritual (dos Simirombas), com a qual as tradições citadas (Umbanda Branca/Umbanda Cristã) relacionam-se de maneira profunda, estando ainda presentes sob sua "irradiação" outros grandes Simirombas, como sejam: Santo Agostinho, Santa Teresa D'Avila, São João da Cruz, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, etc.

Essas Entidades Espirituais, no entanto, segundo a mística presente nos templos que estabelecem cultos a esta corrente, não manifestam-se diretamente pela "incorporação", pois estes trabalham junto a corrente mediúnica do templo somente pela via da irradiação intuitiva, sendo estabelecida a ligação mental com estas mesmas entidades, dentro da prática espiritual, por meio dos Terços, Trezenas, bem como do Rosário, os quais ocorrem no início dos trabalhos ou ainda em dias específicos para a realização destas práticas ou como formas de culto particulares, recomendadas inclusive aos médiuns destes mesmos templos e aos seus consulentes, aos quais aconselha-se realizarem-nas dentro de seus lares, como hábito da vida cotidiana.

Efetuando então uma transição entre o simbolismo manifesto (o nome Simiromba para designar Francisco de Assis, por exemplo) e a mística que vela a realidade espiritual contida nesta palavra, entenderemos que é por meio do rosário, das trezenas e dos terços que os adeptos destas tradições umbandistas poderão identificar-se com essas correntes espirituais, servindo-se destas práticas do catolicismo popular para alcançar o estado contemplativo e atingir a sintonia com a faixa espiritual a que estes espíritos estão vinculados, os quais tornaram-se grandes conhecedores da Vida e do uso das orações e das rezas como elos mágicos para criarem as irradiações que serão destinadas ao auxílio de espíritos encarnados e desencarnados.

Servindo-nos de mais dois simples exemplos, podemos citar as palavras Jurema, as Águas e suas respectivas místicas.

Tratando do Catimbó, Jurema é uma árvore (tida como Sagrada neste culto de origem nordestina), assim como é também a bebida feita utilizando-se partes desta mesma árvore de Jurema. Jurema, ao mesmo tempo, designa a própria cerimônia religiosa do Catimbó.

Jurema pode ainda identificar uma Entidade Espiritual, a qual manifesta-se no transe dos adeptos das tradições umbandistas (e também das demais religiões afro-brasileiras de maneira geral). Também pode ser toda uma Falange de espíritos que manifestam-se carregando consigo este nome simbólico, bem como toda uma Linha de caboclas de Oxossi (por exemplo). Ao mesmo tempo em que é Uma, também torna-se várias entidades.

Jurema também pode designar o local de culto e oração, como a mesa de jurema do Catimbó ou mesmo o Congá da Umbanda.

Jurema também representa o mundo espiritual ou plano espiritual, de onde provêm e para onde retornam os espíritos de luz manifestados como Caboclos e Caboclas. Jurema também representa as próprias matas.

Aliás, Jurema não restringe-se a uma identificação feminina, pois existem espíritos de índios e caboclos que são Juremeiros.

Existe ainda a interpretação simbólica desta mística, a qual identifica a Jurema como sendo relacionada tanto às matas (como já dito) quanto às Águas.


Na Umbanda, os espíritos que manifestam-se pelo transe mediúnico estão ligados a elementos da natureza, de maneira geral ou específica, de acordo com suas ordens e filiações de ordem espiritual. Desta forma, temos o "Povo das Águas", no qual incluem-se Espírítos de Caboclas, Marinheiros, Mestres, entre outros.


Durante o transe e a "gira" destas entidades, a simbologia das Águas é utilizada de diversas maneiras, partindo dos pontos cantados, os quais trazem no texto musical a referência a esse elemento natural, até mesmo à utilização da própria Água durante os trabalhos espirituais (copos ou garrafas com água dispostos no Congá, a utilização de banhos e chás de ervas).

As Águas também guardam ligação com os aspectos emocionais do ser humano, assim identificam aqueles adeptos filiados aos Orixás identificados com este elemento (Oxum, Iemanjá, etc) como sendo pessoas emotivas, de flutuações de humor acentuadas, etc. Da mesma forma, também seriam as Águas os princípios de ordem espiritual que simbolizariam a pureza e a força arrebatadora do espírito iluminado, o qual "limpa" e "descarrega" as trevas nas zonas espirituais de sofrimento, etc.

Concluímos esta relação mística-simbólica dentro da pratica cultual umbandista para, lembrando-nos do conceito citado no início, compreendermos a "Senhora da Luz Velada" - a Umbanda e sua Mística Mistérica - em sua grande riqueza simbólica que permeia e resguarda significados culturais, psicológicos e espirituais de grande profundidade, os quais abrem-se ao seu adepto ao longo do tempo de sua vivência e frequência aos ritos, bem como de seu contato contínuo com os Guias e Protetores, facultando aprofundar-se na tradição de seu templo, ampliando sua consciência espiritual a respeito da realidade da prática rito-litúrgica, enxergando além da simbologia exterior expressa nos "dias de trabalho" e identificando aspectos de maior alcance espiritual, os quais são trazidos pelos Guias e fixados no tempo e no espaço, pela prática ritualística, por meio do simbolismo.

Saravá a todos!


Bibliografia Consultada:

Carvalho, José Jorge de (1998). A Tradição Mística Afro-Brasileira (artigo científico)
Graminha, Maria Rachel; Bairrão, J.F.M.H. (2009). Torrentes de Sentidos: o simbolismo das águas no contexto umbandista (artigo científico)
Junior, Alberto (2007). Jurema Catimbó: Magia e Conhecimento
Assunção, Luiz (2010). O Reino dos Mestres -  A tradição da Jurema na Umbanda Nordestina
Juruá, Pai (2011). O Ritual do Rosário das Santas Almas Benditas

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Simbolismo, Magia e Subjetividade na Prática Umbandista (Parte II)


Por: Gregorio Lucio

Na Umbanda, entendemos a Divindade e a experiência do Sagrado como estando indissociáveis do mundo no qual vivemos e nos movimentamos, não havendo uma cisão entre a realidade espiritual e a realidade dita como material. A isso relacionamos o conceito de imanência. Portanto, a realidade espiritual e divina está no mundo "material", no qual manifesta-se por diversas formas.

No entanto, essa mesma imanência não se contrapõe à transcendência, pois ao mesmo tempo em que os planos espiritual/divino permeiam a materialidade do mundo, estes compõem uma Realidade reguladora e mantenedora deste mesmo mundo "físico", cuja sua existência dá-se somente por ser a contraparte manifesta destas realidades mais profundas.

Desta forma, a utilização da magia dentro da religião, conforme faz-se notar na Umbanda, constitui o recurso pelo qual buscamos integrar, na realidade existencial do mundo "material", o transcendente ao imanente, viabilizando que estes aspectos sejam assimilados e experienciados pela consciência de seu adepto, implicando no conhecimento gradativo da dimensão espiritual, por conta do contato com seus conteúdos psíquicos inconscientes que emergem a consciência, facultando serem reelaborados, bem como pela relação com mentes extra-físicas (desencarnadas) que irá experienciar, proporcionando-lhe possibilidades de ampliar suas perspectivas e compreensões a respeito das questões existenciais, próprias ao homem religioso. 


As práticas mágicas na Umbanda revelam-se de diversas maneiras, como por exemplo, pela utilização de bebidas, de tabaco, da defumação, do banho de ervas, do ponto riscado, das danças rituais, de elementos litúrgicos vários e, de maneira mais conhecida "exteriormente", pelas oferendas que são entregues ao congá ou em determinados locais do ambiente social (praias, matas, cachoeiras, cemitérios, entre outros).

A magia, dentro da religião de Umbanda, irá caracterizar-se por dois vértices que lhe dão razão de ser, ao mesmo tempo em que estão relacionados diretamente com aspectos interligados, embora aparentemente distintos, da realidade existencial, como sejam, o antropocêntrico e o cosmológico.

Seu vértice antropocêntrico vincula-se ao cuidado de questões da necessidade humana cotidiana, geralmente as mais básicas e fundamentais, as quais exigem um tratamento e resolução dentro do momento presente, do aqui e agora.

Seu vértice cosmológico é o de relacionar o indivíduo com a Divindade, problematizando a relação homem-Deus e expressando-se por ato reflexivo e interiorizado do indivíduo, o qual projeta a simbologia própria e constituinte do imaginário de nossa tradição religiosa, exercendo uma rememoração de como concebemos nossa relação com o Sagrado e como este está manifesto na realidade material.

Pelos princípios da Alta Magia de Umbanda, concebemos que há, para tudo o que existe no mundo fenomenológico (mundo material), uma contraparte etérica situada no Astral, a qual pode ser influenciada e transformada com o objetivo de promovermos a aproximação e a interligação do transcendente ao imanente (energias espirituais movimentam-se e fundem-se com elementos corpóreos), integrando-os no campo de nossa consciência, proporcionando que tenhamos experiências de contemplação do Sagrado, da realidade Espiritual.

Segundo a concepção de que existe uma essencialidade extra-física para tudo o que há no mundo corpóreo, temos que a matéria apresenta-se no mundo sob estados característicos, os quais são manifestações de suas contrapartes localizadas nas dimensões etérica/astral. Vejamos:

Estados da Matéria: Sólido - Líquido - Gasoso

Estados Etéricos da Matéria:  Éter Químico - Éter Refletor - Éter Luminoso - Éter Vital
Embora nossos sentidos físicos captem somente os primeiros 3 estados da matéria, suas contrapartes etéricas coexistem como estruturas sutis destes.

Quanto maior a frequência vibratória, mais sutis estas estruturas irão se tornar, passando a relacionar-se com outras dimensões extra-físicas, como sejam: dimensão etérica, astral, espiritual, divina.


Conforme explicado em artigo anterior (ver: Simbolismo, Magia e Subjetividade...), a mente humana é quem promoverá a coordenação da movimentação de forças que irão ser desencadeadas no processo do trabalho mágico-espiritual, sendo, portanto, por esta assimilados os resultados de seu ato petitório.

Essa explicação cabe sempre ser reforçada, pois devemos compreender que a mente está situada na dimensão superior e mais sutil, a qual subordinará as demais estruturas presentes nos elementos corpóreos e etéricos, vinculando a estes as irradiações provindas de seus pensamentos e emoções, implicando na movimentação de suas estruturas, as quais ocasionarão impactos sobre as dimensões astral/etérica, cujas energias desencadeadas serão projetadas sobre o objetivo visado.

Esquematicamente temos:

Mente (emite Pensamentos e Emoções) / (que se projetam em) => Elementos materiais (que potencializados, dinamizam) => Éteres (os quais impactam no plano astral, desencadeando energias) =>  Ação Astro/Etérica => Objetivo Visado.

Em decorrência deste mecanismo, cabe esclarecer também a respeito às Leis de Sintonia, as quais determinarão o encadeamento das partes supracitadas, bem como o alcance sobre o objetivo visado. Assim, todas as partes desta cadeia deverão estar correlacionadas, identificadas, para que haja sintonia entre ambas, e as evocatórias transitem entre esta corrente.

Portanto, ao efetuar um ato magístico visando o bem-estar de uma pessoa necessitada, caso não saibamos coordenar esse processo, ou mesmo, caso a pessoa a quem se pretende auxiliar não estiver sintonizada (por meio de seu comportamento interior e desejo sincero de melhora, por exemplo), não se irá efetivar o processo de Sintonia, tornando os resultados aquém do esperado.

Ainda dentro das Leis de Sintonia, consideraremos uma de suas faces, a Lei de Afinidade, segundo a qual cada intenção enunciada pelos pensamentos emitidos por cada um de nós, situa-nos na condição espiritual em que transitamos, consciencialmente, como Espíritos (pelo menos momentâneamente). Essa condição é que define-nos em nosso estágio de "evolução espiritual" em relação às demais mentes (encarnadas ou desencarnadas) com as quais estabelecemos relações.

Dessa forma, a intenção desencadeadora do processo magístico, colocará aquele que opera o ato em sintonia com entidades espirituais, cujas suas graduações e alcance espiritual estarão em razão da afinidade que guardarão com o que se pede. Desta forma, que ninguém espere contar com um Nume Celestial quando seu desejo e aspiração ao realizar um trabalho mágico/espiritual é o de atrair o mal sobre o próximo, angariar condições financeiras ou sociais para as quais não se possua méritos, etc.

Somente os bons pensamentos e a conduta reta diante da Vida pode proporcionar-nos o contato e a simpatia com as Entidades Espirituais em condições de nos auxiliarem e esclarecerem-nos para o Bem.

Por último, concluiremos tratando do processo de Reverberação, como decorrência da atuação magística.

Todas as práticas espirituais realizadas na Umbanda, essencialmente mágicas, propiciam o contato do adepto com seus conteúdos inconscientes, como se tornassem abertos os portões para esta dimensão subjetiva do ser humano, para a qual "mergulhamos" no ato do transe e das realizações de ordem ritualística.

Dessa forma, entendemos que há no íntimo de cada um de nós, assim como em tudo que nos cerca, uma realidade supra-racional, a qual define-se como estando além da razão finita de cada ser, no entanto plena de vida e ordenadora do que vivenciamos como sendo este mundo de relação, no qual estagiamos temporariamente.

Sendo assim, as práticas mágicas imitam, em escala menor, o processo da Cosmogênese, a qual cremos ter sido gerada pela ação do(s) Orixá(s) sobre a matéria, manifestando-a e concentrando-a em um ponto único, desencadeando o Big-Bang, do qual resultou nosso universo, suas galáxias e nosso planeta. Vemos então, a ação da Mente como instrumento da Consciência Cósmica (Orixá) na escala Universal, acionando os processos que transmutam e dinamizam os elementos materiais e sutis, repercutindo no tempo e no espaço, os quais surgem a partir daí, ocasionando a concepção do(s) universo(s) existente(s).

Como dito, em escala menor, a prática mágica irá seguir essa mesma ordenação, na qual a mente humana (encarnada ou desencarnada) desencadeará o entrelaçamento das energias nos diversos planos citados (material, etérico, astral, mental), reverberando no Cosmo.

Isso mesmo, os atos mágicos transcendem os limites do espaço, reverberando-se no Cosmo, enquanto dure a sustentação dada pela(s) mente(s) que auto-influenciam-se e projetam-se sobre os elementos corpóreos utilizados na consecução do trabalho mágico (seja uma guia, uma pemba, um ponto riscado, um patuá, uma fita, uma oferenda ritual, uma imagem, etc).

Da mesma forma que nós, ainda na condição de Espíritos desencarnados, mesmo que de maneira inconsciente, engendramos os corpos físicos dos quais nos servimos na atual encarnação, cujas estruturas mantêm-se pelos "mapas" morfológicos pré-estruturais que trouxemos conosco, gravados em nossos corpos espirituais, sustentamos tudo ao nosso redor pela ação de nossa mente.

Percebamos que na prática mágica as barreiras entre o concreto e o imaterial rompem-se, restando na base do fenômeno as condições mentais que irão se colocar em ação para influenciarmos e sermos influenciados pelas forças sutis e inteligências variadas que permeiam e povoam os planos extra-físicos. Tal efeito liga-nos a mecanismos profundos de compensação e equilíbrio de forças, tornando-nos doadores e receptores de energias de diversas gradações, as quais irão influenciar nossa saúde emocional, física e mental.

Portanto, a opção pelo Bem é sempre a que irá nos proporcionar integrar em nosso patrimônio íntimo, tudo o quanto haja de pleno, felicitador e gratificante, assim como também para aqueles que comungam de nosso trabalho espiritual (como consulentes, filhos-de-santo, irmãos de corrente); conquanto a investida no Mal irá acarretar, invariavelmente, consequencias desastrosas nas vidas comprometidas em tal ato, seja daquele que pede o Mal, daquele que executa-o, daquele que  lhe sirva de "médium", tanto quanto para aqueles que compartilham do ambiente (filhos-de-santo, irmãos de corrente), no qual tais práticas se fazem predominar.

Saibamos então de nosso compromisso perante a Vida, sob a tutela de nossos Guias e Protetores, os quais influenciam-nos, voltando-nos para o Bem e para a Luz do esclarecimento e da ação enobrecida pelo ideal de sermos melhores a cada dia e para todo o sempre.

Saravá a todos!


Bibliografia Consultada:

Rivas Neto, Francisco (2002). Umbanda A Proto-Síntese Cósmica
__________________ (1996). Fundamentos Herméticos de Umbanda
Matta e Silva, W.W. da (2010). Umbanda de Todos Nós
___________________ (2009). Umbanda e o Poder da Mediunidade
___________________ (2009). Segredos da Magia de Umbanda
___________________ (2009). Doutrina Secreta de Umbanda
Saraceni, Rubens (2006). O Código de Umbanda
______________ (2007). O Código da Escrita Mágica Simbólica
______________ (2008). Tratado Geral de Umbanda
d'Ávila, Rogério; Omena, Maurício (2006). Umbanda e seus graus iniciáticos
Malandrino, Brígida Carla (2006). Umbanda, mudanças e permanências: uma análise simbólica
Silva, Vagner Gonçalves da (2005). Candomblé e Umbanda: caminhos da devoção brasileira
Levi, Eliphas (1995). Dogma e Ritual de Alta Magia
Jung, C.G (1975). Psicologia e Religião
________ (1977). O Homem e seus Símbolos
Durkeim, Émile (1968). As Formas Elementares da Vida Religiosa
Chiesa, Gustavo Ruiz (2011). A Magia na Umbanda (artigo científico)
Sillos, Silvanira Lima (2001). A Demanda na Umbanda (artigo científico)
Carvalho, José Jorge de (1998). A Tradição Mística Afro-Brasileira (artigo científico)