sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Simbolismo, Magia e Subjetividade na Prática Umbandista (Parte I)


Por: Gregorio Lucio

Neste artigo, trataremos do processo pelo qual, segundo nossos estudos e experiências, entendemos como a magística umbandista influencia tanto a dimensão material quanto espiritual.

Como homens (no sentido de humanidade) carregamos em nós uma percepção intuitiva a respeito de uma Realidade composta por aspectos que vão além do que percebemos e experienciamos no mundo corpóreo. Através dos tempos elaboramos sistemas práticos para estabelecer, seja em que nível for, um contato com estes aspectos que escapam à nossa percepção objetiva, de maneira que possamos integrá-los no campo de nossa consciência individual e em nossa memória coletiva, compreendendo assim, a pouco e pouco, como estas práticas podem interferir nos nossos desequilíbrios, buscando promover, a nós mesmos e a nossa comunidade, o bem-estar, a saúde e a prosperidade.


No ínterim deste processo, surge a Magia, como sendo a ciência que estuda e vela os segredos da natureza, não somente nas condições de experimentos da mistura ou desagregação de elementos corpóreos (materiais), como também, e principalmente, nos seus aspectos profundos, sua dimensão sutil equivalente no plano astral.

Dessa forma, a Magia é utilizada para movimentar as estruturas sutis de tudo o que existe ou tem vida dentro do espaço cósmico.


A prática magística irá consolidar-se nas culturas humanas e imiscuir-se mesmo naquelas religiões cujos seus dogmas e conceitos a respeito do campo do Divino e do Sagrado aparentem ser de caráter contrário a esta. Isso por que surgiram, mesmo dentro das religiões, homens cientes desta condição transcendente da Realidade, os quais desenvolveram práticas e métodos para estabelecermos condições de comungar, contemplar e experienciar o Sagrado, o mundo espiritual.


Pelo contato com a Natureza e a compreensão de nós mesmos como seres eternos e transcendentes ao mundo, guardamos, em nosso inconsciente profundo/coletivo, arquétipos que constituíram "forças" impulsionantes para o nosso desenvolvimento e adaptação ao meio (social, natural e espiritual)  com o(s) qual(is) nos relacionamos a todo o instante.

Nosso imaginário preencheu-se pelas múltiplas vivências ao longo de nossa trajetória no planeta, cujos registros tomaram forma de símbolos de grande "força" emocional inconsciente, os quais atuam como "propulsores" das "dramatizações míticas", as quais vivenciamos hoje em forma de ritos litúrgicos dentro das Leis de Umbanda.

Os ritos de Umbanda são as formas esquematizadas e elaboradas dentro da tradição religiosa para que os seus adeptos possam estabelecer contato e contemplação da Realidade espiritual.

Ora, sendo o símbolo o desencadeador do rito (entenda-se rito como "prática-religiosa"), percebemos como a idéia (advinda do campo mental) movimenta-nos em direção a um objetivo específico (exterior e ao mesmo tempo interior), impulsionando-nos a elaborar meios de consecução daquilo que intencionamos.

Surge aqui, o primeiro princípio da prática magística: a ideação.

Toda a movimentação magística é gerada e iniciada, conditio sine qua non, pela Mente. 

A partir da ideação, desencadeiam-se as correntes de pensamentos, as quais irão entrelaçar-se com outras correntes similares, atraindo entidades espirituais afins às idéias contidas neste "pensar", dinamizando-o, e provocando uma ampliação (por conta do efeito mediúnico) na intenção daquele que pensa, o qual passa a não mais "pensar sozinho", mas sob a influência de tantos quantos outros seres (desencarnados e encarnados) que estejam comungando naquele momento da mesma irradiação de pensamentos e objetivos.

Concretizadas essas junções mentais, as quais efetuam-se fora do tempo e do espaço (não-localmente, segundo o conceito da física quântica), temos a passagem dos pensamentos para o ato de realização do ritual magístico, o qual é veiculado pela Vontade.

O médium-magista, ou operador, deve estar preparado no exercício da Vontade, pois é por este recurso psíquico que poderá dominar a si mesmo e às correntes de pensamento que assomam-se, em escala cada vez maior, enquanto dure o tempo de realização do trabalho espiritual. É ainda pela Vontade daquele que produz o ato mágico, que serão sustentadas as movimentações de energias sutis desencadeadas neste processo.

Por fim, mas não menos importante, temos a concretização do trabalho mágico realizado na preparação dos elementos corpóreos (materiais) utilizados. É imprescindível que as movimentações de energias sutis sejam projetadas e acumuladas sobre um equivalente material. Estes elementos possuem a função de "espelhar" o ato petitório realizado, produzindo um impacto no campo etérico, ao mesmo tempo em que recebe de retorno as irradiações provindas das dimensões extra-físicas. Como uma energia que se expande, indo "para fora" do tempo e do espaço, retornando acrescida e dinamizada pela ação das irradiações emitidas pelos seres habitantes do plano espiritual.

Explicados estes mecanismos, cumpre agora lembrarmo-nos quanto a Destinação e Responsabilidade daquele que realiza um trabalho de Alta Magia na Umbanda.

O mecanismo descrito acima é o mesmo tanto para aquele que intenciona o Bem quanto para aqueloutro que pretende o Mal.


O que irá determinar se o o ato mágico torna-se uma "Magia Branca" ou uma "Magia Negra" (para nos valermos de termos populares), é a Destinação que cada um dê aos seus pensamentos e emoções, conforme nossa consciência de Responsabilidade diante da Vida e de nossos Guias e Protetores da Corrente Astral de Umbanda.


Lembraremos, por último, no tocante à Destinação e Responsabilidade daquele que realiza o ato mágico, a respeito das Leis de Retorno e Filiação Astral, as quais estão implícitas e prontamente acionadas desde o princípio dos mecanismos citados acima.

Estejamos conscientes do fato de que nós seremos os veiculadores das energias que serão atraídas e irradiadas na prática magística. Toda essa confluência de energias incidirá, imediatamente, sobre a Mente que inicia o processo mágico, portanto, todo o Bem que peça será automaticamente integrado à sua consciência, produzindo bem-estar, saúde e elevação, conquanto todo o Mal que intencione, desencadeará acréscimo de infortúnio, perturbação e infelicidades. Essa a Lei de Retorno - o Choque de Retorno.

Ademais, na realização do Rito mágico, infundimos e dinamizamos valores e símbolos vivos de nossa tradição, integrando-os em nosso mundo interior e na memória daqueles pertencentes ao templo religioso. Tal relação, perpetuada na prática coletiva do mediunismo e na vinculação "filho-de-santo" - "babalorixá/yalorixá", ocasiona compromissos de Filiação, os quais exigem grande quota de consciência lúcida por parte daqueles que encontram-se nesta condição, uma vez que estarão sob as irradiações das correntes espirituais pertencentes ao seu templo, e sob seus influxos receberão as contrapartes e consequências do Bem ou do Mal que venham a intencionar e/ou praticar.

Que nossos Orixás nos iluminem e guardem-nos no Bem e na Luz!

Saravá a todos!

Bibliografia Consultada:

Rivas Neto, Francisco (2002). Umbanda A Proto-Síntese Cósmica
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Matta e Silva, W.W. da (2010). Umbanda de Todos Nós
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Saraceni, Rubens (2006). O Código de Umbanda
______________ (2007). O Código da Escrita Mágica Simbólica
______________ (2008). Tratado Geral de Umbanda
d'Ávila, Rogério; Omena, Maurício (2006). Umbanda e seus graus iniciáticos
Malandrino, Brígida Carla (2006). Umbanda, mudanças e permanências: uma análise simbólica
Silva, Vagner Gonçalves da (2005). Candomblé e Umbanda: caminhos da devoção brasileira
Levi, Eliphas (1995). Dogma e Ritual de Alta Magia
Jung, C.G (1975). Psicologia e Religião
________ (1977). O Homem e seus Símbolos
Durkeim, Émile (1968). As Formas Elementares da Vida Religiosa
Chiesa, Gustavo Ruiz (2011). A Magia na Umbanda (artigo científico)
Sillos, Silvanira Lima (2001). A Demanda na Umbanda (artigo científico)
Carvalho, José Jorge de (1998). A Tradição Mística Afro-Brasileira (artigo científico)

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