sábado, 30 de julho de 2011

A Defumação


Por: Gregorio Lucio

Em continuidade ao assunto iniciado e tratado no post anterior (vide: As Ervas), trataremos agora de outra questão extremamente presente no dia-a-dia da prática umbandista: a defumação. A defumação como verdadeira magia para a correção e harmonia das estruturas espirituais do templo e principalmente do indivíduo.

É sabido por parte de todos os adeptos da nossa Umbanda como se preparar uma boa defumação. Os templos umbandistas fornecem essa orientação, além de contarmos com uma considerável bibliografia no meio umbandista que trata, pelo menos de maneira básica, a respeito deste fundamento.


Entretanto, gostaríamos neste momento de aprofundar o olhar a respeito e reflexionar sobre como uma prática, vista como um mero "exotismo" ou prática primitiva ao olhar do leigo, está revestida de tanta sabedoria e conhecimento a respeito das dimensões do ser humano e da vida.

A difusão cada vez maior de idéias a respeito da realidade quântica do universo em nossa cultura ocidental - a qual é caracterizada pelo cientificismo e pelo racionalismo filosófico -, tem suscitado muitas discussões em nosso meio social e também nos meios acadêmicos.

A compreensão quântica do universo (preconizada pelo eminente professor de Física da Universidade de Oregon, Amit Goswami) postula que a Realidade é criada pela Consciência, a qual escolhe, entre várias possibilidades prováveis, quais os contextos que irão surgir como realidades. Isso implica em dizer, sumariamente, que nossa consciência objetiva ou de corpo (as sensações corporais como calor, frio, dor, leveza, pressão sobre a pele) e nossa consciência subjetiva ou psíquica (percepção de individualidade, assim como sentimentos, emoções, idéias, pensamentos), seriam causadas pela ação da Consciência. A este princípio foi dado o nome de causação descendente (a Consciência cria a realidade, o cérebro e o corpo), implicando numa posição contrária ao paradigma científico materialista, tido como causação ascendente, o qual define o cérebro como criador da consciência e do sentido de individualidade.

A Consciência seria, portanto, Causal. 

Obviamente, essa Consciência, a qual É essencialmente nós mesmos, opera essas "escolhas" num nível inconsciente, por isso não temos a percepção objetiva e consciente de que estamos produzindo a realidade em que vivemos, sentimos, pensamos e nos movimentamos. Talvez ai more a chave central para a compreensão da Lei Kármica. Em outra oportunidade, voltaremos a este aspecto para refletirmos a respeito da Lei do Karma e do Livre-Arbítrio.

É importante fixarmos, deste conceito acima explicitado, que é a partir do momento em que a Consciência cria a Individualidade, a qual está localizada em vários níveis dimensionais (natural - espiritual - divino, por exemplo), Ela (a Consciência) manifesta estruturas paralelas que interagem dinamicamente e regulam-se umas as outras, num movimento de equilíbrio. Essas estruturas, fazendo uma ponte com os conhecimentos espiritualistas, podemos chamá-las, didaticamente, de: corpo físico (material), corpo vital ("semi-material" ou etéreo), corpo psíquico (sutil) e corpo mental (sutilíssimo).

Uma vez que o movimento harmônico entre essas estruturas dinâmicas implica na saúde, consequentemente a desarmonia entre esses movimentos equivaleria à doença (seja ela física, psíquica ou espiritual).


Cremos que o princípio espiritual (conhecido nos cultos de nação, nos Candomblés, como Axé) está manifesto em cada ser humano, cada Espírito, e em cada elemento da Natureza (por conta da própria ação dos Orixás), e este pode ser transmitido, assimilado, compartilhado e renovado dentro deste Sistema abarcado pela Consciência.

As ervas, na dimensão natural (Natureza), pelos processos de seu desenvolvimento, recolhem do solo os nutrientes necessários para sua subsistência e perpetuação da espécie, além da influência da luz solar e da lua, as quais também contribuem nos fenômenos da fotossíntese e no seu crescimento.

Já na sua dimensão espiritual, as ervas estão carreadas de grande acúmulo etérico, por conta da absorção das energias sutis provindas dos 4 elementos (ar, fogo, água e terra).

Adicionalmente, na sua dimensão divina, as ervas carregam o princípio espiritual do(s) Orixá(s).

As ervas também são, portanto, manifestação da Consciência Causal.

Por carregarem em si substâncias químicas (seu princípio ativo), no momento de sua queima essas são liberadas no ambiente. Como muitas das ervas utilizadas na defumação possuem propriedades anti-sépticas e curativas (por exemplo alecrim, eucalipto, arruda e guiné), sua fumaça age primariamente sobre o corpo e o ambiente contribuindo para o saneamento destes.

Em relação às estruturas etérica/espiritual, quando utilizamo-nos da defumação em nossas giras, os princípios espirituais liberados pelas ervas no momento de sua queima e potencializados na fumaça, influenciam estas estruturas de cada indivíduo (encarnado ou desencarnado), estabilizando-as e contribuindo para que a Individualidade possa recuperar-se ou fortalecer-se. 

No entanto, na prática litúrgica, este processo manifestar-se-á sempre pelo comando do médium/operador, cuja consciência e o poder da vontade "dispara" o gatilho que irá promover sua movimentação no plano espiritual.

Não podemos nos furtar a dizer da importância de nossos Guias e Mentores neste processo, os quais dinamizam, no momento da defumação, seus próprios "princípios espirituais", verdadeiros "mananciais de luz", direcionando-os para todos, formando uma verdadeira "aura coletiva" da qual cada um retirará o que lhe seja necessário.

Finalizemos colocando um ponto de destaque. Não cremos, particularmente, que essa influência nas estruturas sutis da Individualidade, efetivada no ato da defumação, processe-se obedecendo às Leis Físicas conhecidas e aceitas atualmente. Nossa proposta aqui, ao citarmos conceitos da Física Quântica, é a de contemporizar nossa visão do universo espiritual, estabelecendo uma relação com assuntos atuais, provindos de um meio oposto ao religioso, qual seja o meio científico acadêmico.

Pretendemos assim situar o conhecimento humano como sendo o contemplador de ângulos de entendimento da realidade diversos mas ao mesmo tempo complementares, dos quais podemos dispor para darmos significados à nossa existência e realidade. 

Lembremos que somos a Consciência e escolhemos a nossa realidade!

Deixamos isso claro para não parecer que estamos tentando dar explicações científicas para um processo essencialmente mágico e subjetivo, segundo nosso entendimento, embora totalmente eficaz e real. 

O amigo leitor deve estar se perguntando agora: Ué...a que tipos de Leis então essa prática de "transmissão de forças" obedecerá?

Respondemos: Temos uma linha de estudo que versa a respeito dos fundamentos de transmissão de forças espirituais dentro da prática umbandista, sobre a qual trataremos em futura postagem, ok? 

Isso por que a explicação do processo implica no tratamento de alguns conceitos que tornariam o presente texto muito extenso. Então, em futura postagem trataremos de "Simbolismo , Magia e Subjetividade na Prática Umbandista".

Enquanto isso... Saravá a Defumação!

Defuma com as Ervas da Jurema,
Defuma com Arruda e Guiné,
Benjoim, Alecrim e Alfazema
Vamos defumar Filhos de Fé!


Saravá a todos!

Bibliografia Consultada:
Goswami, Amit (2007). O Médico Quântico
                           (2007). A Física da Alma
                           (1998). O Universo Autoconsciente 
Matta e Silva, W.W  da (2007). Misterios e Praticas na Lei de Umbanda
                                    (2007) Licões de Umbanda nas Palavras de um Preto-Velho
                                    (2007) Segredos da Magia de Umbanda e Quimbanda
                                    (2009) Umbanda de Todos Nós
Maes, Hercílio (1967). Magia de Redenção (pelo Espírito Ramatis)
Saviscki, Leni W. (2007). Causos de Umbanda, vol. I e II (pelo espírito Vovó Benta)

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