Por: Gregorio Lucio
Orixá - homem - guia.
Esse o fluxo místico das forças sutis que serão impregnadas neste elemento ritual de tanta valia e significado dentro da práxis umbandista. O Orixá estende e deposita sua irradiação sobre o colar ritualístico (guia) por intermédio do ser humano (médium), portador do divino e da corporeidade, o qual é a ponte vinculadora para a passagem da força espiritual dos planos invisíveis para o mundo corpóreo.
Vimos reforçando que os símbolos, dentro do rito religioso, têm a função precípua de ligar aspectos de uma Realidade total, para dar ao homem a visão e o contato do mundo invisível pelo mundo visível, pois somente por meio do símbolo é que podemos entender e experienciar o mundo espiritual, o qual é constituído de aspectos de realidade que não podem ser abarcados integralmente pela nossa capacidade intelectiva e pelos nossos sentidos corporais.
As guias, especificamente, encerram em si mesmas a transição contínua do mundo invisível (espiritual) para o mundo visível (material), pois que nelas encontra-se a elaboração das forças espirituais conjugadas com o trabalho artesanal do humano, infundindo o princípio da fluência de dois aspectos da realidade humana (espírito e matéria) num ponto em comum.
Cada guia destina-se a envolver o médium na vibração de seu Orixá ou de seus Guias e Protetores, portanto, esta deve ser concebida pelo próprio indivíduo seu portador, ou pelo dirigente da casa a que esteja vinculado. Obviamente, a confecção da guia obedecerá às ordens das Entidades Espirituais, as quais trarão ao médium as instruções de como deverão ser feitas, bem como os seus elementos constitutivos.
Além disso, deverá passar por um processo de preparação para ser utilizada (ser cruzada, por exemplo), bem como o médium deve ser autorizado pelo dirigente da casa para que possa valer-se deste elemento.
A guia fornece a identidade ritual do adepto, vinculando-o a um Orixá e a um Guia espiritual, responsáveis por sua guarda e orientação.
Ao colocar a guia no pescoço, o indivíduo adentra o espaço místico e sagrado que envolve neste instante o seu complexo físico e espiritual, ligando-o às correntes espirituais sustentadoras de seu templo. Entendemos que no espaço que se forma dentro da guia, circular, vinculam-se irradiações que estarão destinadas a projetarem-se para fora do campo de forças do médium, influenciando o ambiente (físico e etérico) a sua volta, para trazer-lhe de volta a somatória das energias afins geradas ao longo do trabalho espiritual.
Da mesma forma, as guias também servirão para criar um movimento inverso, dinamizando suas forças (e as do médium) para tornarem-se escudo e pontos de descarga de vibrações negativas, oriundas do plano astral inferior, e de formas-pensamento (idéias plasmadas no plano astral) de teor perturbador desencadeadas pelos maus sentimentos e pensamentos daqueles presentes aos trabalhos (encarnados ou desencarnados) em condição de desequilíbrio.
A guia, dentro da linguagem ritual, possui aspectos identificadores, os quais variam em sentido de acordo com cada templo umbandista, no entanto, de maneira geral podemos considerá-las:
a) quanto às cores: as cores representam os Orixás. A combinação de cores pode representar o tipo ou qualidade do Orixá, assim como também podem indicar a qual Orixá determinado Guia Espiritual está subordinado; uma cor específica, a depender da orientação da casa, também pode simbolizar o grau de determinado médium dentro da hierarquia da casa. Ou seja, se ele é iniciante, se já é médium formado, se é babalorixá/yalorixá, etc.
b) quanto ao número de fios: geralmente, as guias traçadas com mais de 1 fio, podem representar o nível de aprofundamento que o médium obteve dentro da tradição. Ou seja, se ele possui 1 ou mais preparações (obrigações);
c) quanto a sua utilização: existem guias que não irão representar um Orixá ou Guia Espiritual ligados àquele médium. Podem, entretanto, ser de utilidade ritual ou espiritual. Em outras palavras, essas guias podem ser destinadas a representar aquele templo de maneira específica, ou servir de proteção ou defesa para um adepto, num caso específico, a depender de sua situação e necessidade naquele momento.
Está estabelecido que a guia só possui valor e significado se estiver vinculada à pessoa/médium, destinada a ser sua proprietária. Não há, portanto, sentido na utilização de guias adquiridas já prontas, penduradas nas lojas de artigos religiosos. Tão pouco deve-se emprestar a outrem ou tomar-lhe emprestado a guia, por qualquer motivo que seja.
Lembramos, novamente, de um ensino contido num post publicado anteriormente: a força do Guia reside na mente do médium.
É pela mente enobrecida e séria que vincularemos as energias transcendentes que serão irradiadas de nós, e atraídas a nós, ao longo do anos de contato espiritual. O médium disciplinado e habituado à prática do transe, bem como à reflexão em torno de si mesmo, faz de sua mente um lago de águas calmas, que pode refletir a beleza do luar. Luar este que representa a irradiação positiva dos Guias e Protetores de Aruanda. Assim é que poderão fluir de si e chegarem onde forem necessárias as forças espirituais emanadas dos planos etéreos para o campo material, beneficiando a todos que necessitem, pelo esclarecimento, pela palavra orientadora e consoladora, ou pela oração silenciosa em favor da Humanidade.
Queremos com isso colocar que não é pela quantidade e nem pela beleza das guias que possamos ter em nossos pescoços que iremos ter maiores ou melhores retornos e gratificações em nossa vida espiritual, especificamente no mediunismo umbandista.
O número de guias também representará a experiência do médium ao longo de sua vivência mediúnica. A utilização da guia é sinal de responsabilidade e dever de consciência por parte daquele que a possua.
E, quanto mais delas carregarmos ao pescoço, maiores as nossas atribuições e responsabilidades perante a Corrente Astral de Umbanda, para a qual prestaremos contas dos bens que nos foram dados para que fizéssemos luz àqueles necessitados e aflitos.
Saravá a todos!
Referências:
Rivas Neto, Francisco (2002). Umbanda A Proto-Síntese Cósmica
Matta e Silva, W.W da (2010). Umbanda de Todos Nós
__________________ (2009). Doutrina Secreta de Umbanda
Saraceni, Rubens (2010). Formulário de Consagrações Umbandista
______________ (2006). O Código de Umbanda
Chiesa, Gustavo Ruiz (2010). A Umbanda e as Coisas: cosmologia e materialidade na experiência religiosa (artigo científico)
Oliveira, Etiene Sales de (2005). Umbanda de Pretos-Velhos: Tradição Popular de uma Religião (tese de mestrado)
Excelente trabalho de síntese quanto a utilidade e funcionalidade das guias mirongadas; verdadeiras duplicatas astrais.
ResponderExcluir