Por: Gregorio Lucio
"Se as portas da percepção fossem abertas, tudo apareceria ao homem tal qual é, infinito. Pois o homem fechou a si mesmo, vendo as coisas através das estreitas fissuras de sua caverna" (William Blake).
Transitamos, então, por diversos níveis de consciência (ver A Espiritualidade Umbandista manifesta...).
Nossos estados de consciência são manifestados por meio de nosso organismo, cujo comando é dado ao cérebro. Essa é uma consideração importante a ser feita, pois necessitamos compreender que o fenômeno mediúnico, assim como outras ocorrências psíquicas, dá-se sempre por intermédio do organismo, gerando impactos e alterações neste.
Por sermos espiritualista, cremos ser o cérebro o modulador das expressões da consciência em seus diferentes níveis, e não o produtor de tais ocorrências.
A faculdade mediúnica revela-se, de acordo com as pesquisas do Dr. Sergio Felipe de Oliveira, como sendo de natureza sensoperceptiva. Ou seja, a faculdade mediúnica necessita de um orgão sensorial que capte a mensagem, uma área do cérebro (cortical) que faça a sua interpretação e elementos psíquicos que atribuam significado e julgamento a esta.
Com isso também deixamos claro que a faculdade mediúnica, embora seja um atributo da alma (espiritual, portanto), necessita de implementos orgânicos para que seja manifestada.
Uma vez compreendida essa prerrogativa, trataremos das sensações físicas experimentadas pelo médium (ou candidato a) como efeitos dos processos de assimilação psíquica (de origem espiritual) e da produção dos estados superiores de consciência, evidenciados no transe mediúnico.
1 - Tonturas e desmaios;
2 - Distúrbios do sono e de fome;
3 - Transição acentuada entre estados de humor;
4 - Aceleração dos batimentos cardíacos;
5 - Sensação de dormência na face, mãos, pernas e pés;
6 - Crises de choro;
7 - Sensação de estar sendo observado;
8 - Recorrência de pensamentos intrusivos (pensamentos insistentes que repetem-se contra a vontade do indivíduo);
9 - Ouvir vozes ou ter visões recorrentes;
10 - Dores de cabeça acentuadas.
Elencamos acima alguns dos "sintomas" mais comuns relatados e experimentados por médiuns ao longo de seu processo de educação ou eclosão da sensibilidade mediúnica (estágio de pré-educação mediúnica).
Tal sintomatologia é estudada por pesquisadores (ainda que poucos) engajados no estudo das ditas "experiências psi" no meio acadêmico. Embora estas pesquisas ainda sejam de âmbito preliminar, deixando abertura para que tais experimentos sejam aprofundados, já existem algumas considerações importantes para nossa compreensão a respeito de como nosso cérebro registra e processa as percepções espirituais, advindas por intermédio do psiquismo, convertendo-as em estados orgânicos característicos.
Por exemplo, (ainda segundo o Dr. Sergio Felipe de Oliveira): Uma pessoa vivenciando o "despertar" de sua potencialidade mediúnica, ou seja, ainda inconsciente desta, pode incorrer em perda de controle de determinados tipos de comportamento, como o da fome (falta de apetite ou excesso deste); o do sono (idem); da agressividade (sendo esta em relação aos outros, ou contra si mesmo, como o caso da depressão e da fobia), entre outros.
A interferência espiritual ainda provoca aumento do fluxo sangüíneo na região encefálica, produzindo "dores de cabeça" (cefaléas ou enxaquecas). Da mesma forma, pode provocar aumento no fluxo renal, predispondo a formação de pedras nos rins (não havendo uma proporção adequada de ingestão de líquidos), etc.
Por ainda encontrar-se inconsciente desse processo, o impacto mediúnico amplifica-se no organismo e no psiquismo do indivíduo, "somatizando-se". Conseqüentemente, o corpo irá responder aos processos inconscientes, influentes na sua instabilidade emocional e orgânica.
Ou seja, uma vez que a interferência espiritual relaciona-se com um órgão cerebral (a glândula pineal, por exemplo), sua manifestação impactará no organismo e, uma vez que esta também implica numa alteração do psiquismo do indivíduo, decorrerá uma modificação no seu comportamento psicobiológico.
Entendemos, a partir desta perspectiva, serem diretamente interligadas as questões espirituais e orgânicas. Por conta disso é que o indivíduo, sob o impacto amplificador de origem mediúnica (a mediunidade não gera o distúrbio no indivíduo, mas amplifica-o), necessita realizar um acompanhamento conjunto de suas questões:
a) Orgânicas/Psicológicas: acompanhamento médico (psiquiátrico, se for o caso) e psicológico. Isso porque o indivíduo necessita encontrar um ponto de adequação de sua saúde orgânica e de seu bem-estar psicológico para que possa comandar seus processos mediúnicos.
b) Espirituais: frequentar seu templo religioso com vistas a uma gradativa adaptação e aprendizado a respeito de sua realidade espiritual e suas possibilidades mediúnicas. No caso da Umbanda, este irá iniciar o processo assistindo as giras, recebendo passes, tomando seus banhos de ervas (para que possa equilibrar as estruturas sutis de seus corpos espirituais e fixar as irradiações benéficas e curativas de seus Orixás), habituando-se ao cultivo de momentos de oração, de concentração, de meditação e de estudo das questões do Espírito.
Uma vez que o indivíduo esteja alicerçado psicologicamente e fisicamente, assim como após a confirmação da sua tarefa mediúnica (sim, porque não são todas as pessoas que possuem a faculdade ostensiva, para "trabalho"), este poderá iniciar suas atividades juntando-se à corrente de médiuns da casa.
Salientamos que a saúde física e psicológica é de fundamental importância para que o médium possa exercer seu labor mediúnico, pois que este deverá manter-se íntegro em sua subjetividade e suas possibilidades físicas para que estas possam traduzir-se em alicerces para os estados superiores da consciência, advindos no transe mediúnico durante as sessões, cujas suas características são, segundo W.T. Stace:
- Sensação de perda da noção do "eu";
- Perda da noção de tempo e espaço;
- Sensação de entrar em contato com o Sagrado;
- Sensação de objetividade e realidade profundas;
- Qualidade noética (conhecimento interior profundo, inexprimível em palavras);
- Superação do dualismo e das contradições;
- Sensação de felicidade, alegria;
- Mudanças positivas na conduta social.
Importa considerar, como acima exposto, da realidade da experiência espiritual, manifestada no transe, como sendo dotada de expressões de saúde e equilíbrio psicológico. Isso porque necessitamos reforçar de que a prática mediúnica não é um traço patológico, alienante para o indivíduo, como pretenderam considerar, durante muitos anos, alguns pretensos "defensores" da sociedade e da psiquiatria no Brasil. Uma vez exercida dentro de um contexto religioso específico e sério, e cujo praticante esteja dotado de estruturas psicofisiológicas em "harmonia", sua vivência poderá ser sentida como rica, plena de sentido e significado psicológico, cultural e, principalmente, espiritual.
A disposição natural do homem, seu impulso transcendente, para a busca do contato com a Divindade é a força mais poderosa e inata da Humanidade e não pode ser relegada a uma função secundária, mera condição biológica e adaptativa da criatura humana na Terra.
Por último, ressaltamos não crermos num "universo espiritual" dissociado do "universo material".
Somos favoráveis a uma visão holística, integral, da individualidade humana. Por conta disso, faz-se mister a conjução de procedimentos espirituais e médicos para o acompanhamento de casos de ordem espiritual-psicobiológica ou psicobiológica-espiritual.
Oxalá abençoe-nos a todos!
Saravá!
Bibliografia Consultada:
Beauregard, Mario; O'Leary, Denyse (2007). O cérebro espiritual - uma explicação neurocentífica para a existência da alma
Oliveira, Sergio Felipe de (1998). Estrutura da Glândula Pineal Humana (tese de mestrado)
Morini, Carlos Augusto Trinca (2007). Ritual de Umbanda: A influência dos estímulos somato-sensoriais na indução do transe mediúnico (tese de mestrado)
Almeida, Alexander Moreira de (2004). Fenomenologia das experiências mediúnicas, perfil e psicopatologia de médiuns espíritas (tese de doutorado)
Machado, Fátima Regina (2009). Experiências Anômalas na Vida Cotidiana - Experiências extra-sensório-motoras e sua associação com crenças, atitudes e bem-estar subjetivo (tese de doutorado)
Almeida, Angelica A.Silva de; Oda, Ana Maria G.R.; Dalgalarrondo, Paulo (2007). O olhar dos psiquiatras brasileiros sobre os fenômenos de transe e possessão
Para saber mais:
nossa teu blog esta muito bom, parabéns...
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