Por: Gregorio Lucio
A Pemba
A Pemba é um elemento ritual muito característico e presente nos terreiros de Umbanda.
Pemba |
Como mostra a figura ao lado, trata-se de um giz rústico, constituído de calcário.
Esse elemento é amplamente utilizado nos rituais africanos, e obviamente, herdamos desta cultura religiosa tal prática.
A Pemba geralmente é utilizada de duas formas específicas nos ritos: em pó ou em forma de pedra.
A origem do nome, Pemba, vem da lenda africana referente ao monte Kabanda e as águas do rio Usil (tidos como sagrados pelas tribos Bacongo e Congo). A lenda conta a história da donzela M.Pemba, virgem filha do poderoso líder de sua tribo, Soba Li-u-Thab. M.Pemba seria conservada virgem para que fosse oferecida às divindades cultuadas por aquela tribo, no entanto, a jovem conhece um estrangeiro, e ambos entregam-se a uma aventura amorosa, tomados pela paixão.
O pai de M.Pemba, quando toma conhecimento de tal aventura amorosa, manda degolar o rapaz para que em seguida fosse lançado ao rio USIL, de maneira que fosse devorado pelos crocodilos. M.Pemba, consternada com tal tragédia e desilusão amorosa, para atestar sua dor e pesar, cobria todo o seu corpo com o pó branco retirado do monte Kabanda e à noite, para que seu pai não soubesse desse ato de dor perante a morte de seu amor, lavava-se nas margens do rio.
Um dia, pessoas da tribo que observavam M.Pemba banhar-se, viram que a jovem elevava-se aos céus, deixando em seu lugar um monte de massa branca às margens do rio. Ao informarem o pai, Soba, enfurecido, mandou que também degolassem aos membros da tribo. No entanto, como estes haviam passado em seu corpo aquela massa branca deixada pela jovem "divinizada", perceberam que o tirano líder acalmava-se e tornava-se bom, desculpando os seus servos.
A partir daí, a Pemba vem sendo utilizada dentro dos ritos africanos.
A Lei de Pemba.
O termo refere-se ao domínio da mística simbólica, realizada e transmitida pelos guias de Umbanda, cujos seus maiores conhecedores e guardiões de seu segredo são os nossos Pretos-Velhos.
A Lei de Pemba é expressa pela utilização de símbolos cabalísticos de origem universal, presentes em todas as culturas ao longo da história da Humanidade, os quais ganham re-significação própria dentro da rito-liturgia umbandista.
A Lei de Pemba contém em si aspectos fundamentais do conhecimento transcendente a respeito das Leis Espirituais que regem os movimentos das consciências viventes no planeta Terra, bem como as vinculações de ordem kármica entre estas e os mecanismos pelos quais a vontade humana pode subordinar forças sutis e naturais, movimentando-as, com a intenção de produzir efeitos que impactem nas dimensões material e espiritual.
Sendo assim, a Lei de Pemba manifesta as chaves para o conhecimento dos atributos e vinculações das Entidades Espirituais dentro das Leis de Umbanda, assim como guarda para si aspectos mais profundos que não podem ser acessados diretamente por pessoas (encarnadas) e mesmo entidades espirituais que ainda não possuam níveis de conhecimento e de consciência próprios para tal.
Como dissemos, as Entidades Espirituais ligadas à Corrente Umbandista, trazem os conhecimentos, em maior ou menor grau, referentes à Lei de Pemba e para que possam grafá-los, "abrindo-os" para a dimensão material, utilizam-se de símbolos próprios da cultura humana, os quais encontram-se gravados no inconsciente do médium e em si próprios. Para isso, dentro da cultura umbandista, damos significados próprios a tais simbologias, contextualizando-os de acordo com nosso universo simbólico-espiritual.
De acordo com Evans-Pritchard (2004), conforme consta em Etiene Sales (2005), o símbolo religioso é uma representação analógica do mundo invisível, sendo a cultura a matriz geradora das formas simbólicas que trazem à existência (mundo imanente) forças do mundo espiritual.
Pelo exposto acima, vemos que a Espiritualidade irá utilizar-se daqueles símbolos subjacentes no inconsciente do indivíduo, portanto dotados de grande força emocional e transcendente, para imprimir as "ordens" e "movimentos" que facultarão a obtenção de determinados efeitos sobre o ambiente, sobre a coletividade presente ao rito, sobre o médium ou o consulente, sobre um espírito desencarnado ou um doente necessitado de ajuda, etc...
Depreendemos então que a Lei de Pemba, num nível mais fundamental, é utilizada para a criação de concentrações de forças que serão postas em movimento para beneficiar os presentes ao rito.
Assim, a Lei de Pemba consubstancia-se, dentro da prática rito-litúrgica umbandista, por meio do Ponto Riscado.
Ponto Riscado
Segundo as Hierarquias Espirituais regentes das Leis de Umbanda, os espíritos ligados à Corrente Astral afim à nossa faixa espiritual religiosa, estão agrupados em 3 categorias distintas, quais sejam:
Orixás, Guias e Protetores (trataremos em artigos futuros de maneira mais detalhada a respeito das Hierarquias Espirituais da Umbanda).
Ponto Riscado na tradição esotérica da Umbanda |
Essa categorização evidencia uma qualificação em termos de evolução espiritual para os espíritos trabalhadores da Umbanda.
Pela Lei de Afinidade, estes espíritos irão utilizar-se de médiuns compatíveis com seus propósitos e alcances de trabalho. De maneira geral, os espíritos identificados com o trabalho mediúnico estão entre aqueles na condição de Guias e Protetores.
Conforme havíamos dito, a Lei de Pemba contém em si uma série de aspectos profundos da realidade espiritual, e por conta disso, seu acesso não é dado de maneira integral a todos os Espíritos e médiuns. O patamar de conhecimento e possibilidades de compreensão a respeito da utilização da grafia cabalística umbandista, está diretamente relacionado ao grau de consciência manifestados pelo Espírito atuante e o seu respectivo médium.
Dessa forma é que veremos Pontos Riscados que meramente trazem informações a respeito da Entidade manifestada naquele momento, qual a sua pertença espiritual e ordens de trabalho. Ou seja, pelos símbolos contidos no Ponto Riscado, podemos identificar qual a Linha, Falange e Cruzamento (se for o caso) do Guia ou Protetor. Aliás, justamente, o que irá categorizar um espírito na condição de Guia ou Protetor é exatamente a simbologia e interpretação expressa no Ponto Riscado.
Resumindo, pelo Ponto Riscado a entidade poderá dizer quem é, qual a sua linha e, qual seu grau dentro da hierarquia espiritual. O Ponto Riscado é a assinatura da Entidade Espiritual.
Adicionalmente, o Ponto Riscado é utilizado não somente para identificação dos Espíritos como também para beneficiar determinadas pessoas (física ou espiritualmente) e para a consagração de guias, patuás, elementos rituais (pembas, instrumentos da curimba, fitas, velas, imagens, etc).
Não podemos deixar de considerar, quanto à interpretação e significado dos símbolos usados nos Pontos Riscados, ser imprescindível levar em conta o contexto cultural e tradicional do templo umbandista onde serão expressos e manifestos. Isso por que, segundo Sales (2005): "O significado de um símbolo não é intrinseco mas depende do discurso em que encontra inserido em sua própria estrutura. Fora do contexto onde foram gerados, os significados dos símbolos se alteram[...]. É preciso perceber a dinâmica própria da cultura religiosa do local e sua influência nas simbologias e representações".
Compreendemos então que os Pontos Riscados não são símbolos universais (embora os elementos contidos neles sejam) e sua linguagem expressa um padrão dinâmico que carece ser interpretado dentro do contexto religioso de cada casa de Umbanda.
Sendo assim, esperamos ter contribuído um pouco com o esclarecimento a respeito destes aspectos tão presentes na nossa vivência umbandista.
Que Oxalá abençoe-nos!
Saravá!
Bibliografia Consultada:
Itaoman, Mestre (1990). Pemba e Grafia Sagrada dos Orixás
Rivas Neto, Francisco (2002). Umbanda a Proto-Síntese Cósmica
Matta e Silva, .W.W da (2010). Lições de Umbanda (e quimbanda) na palavra de um preto-velho
___________________ (2009). Doutrina Secreta de Umbanda
___________________ (2010). Umbanda e o Poder da Mediunidade
___________________ (2010). Umbanda de Todos Nós.
___________________ (2009) Mistérios e Práticas na Lei de Umbanda
Saraceni, Rubens (2007). O Código da Escrita Mágica Simbólica
Jung, C.G (1950). O Simbolismo da Mandala
Chiesa, Gustavo Ruiz (2011). A Magia na Umbanda (artigo cientfíco)
__________________ (2010). A Umbanda e as Coisas: Cosmologia e Materialidade na experiência religiosa (artigo científico)
Souza, Mônica Dias (2006). Pretos-Velhos: Oráculos, crença e magia entre os cariocas (tese de doutorado).
Oliveira, Etiene Sales de (2005). Umbanda de Pretos-Velhos: Tradição Popular de uma Religião (tese de mestrado)
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