Por: Gregorio Lucio
Oráculo define a prática divinatória (de adivinhação) concebida por vários povos ao longo do tempo, como meio de comunicação com a Divindade. Pelo Oráculo podia-se compreender a vontade dos deuses, predizer as alegrias e tristezas reservadas a uma pessoa, bem como fatos importantes para todo um povo. Nas culturas egípcia, persa, judaica, chinesa, grega, nórdica, iorubá, etc, encontramos sistemas oraculares com a finalidade de consolidar essa ligação do homem com o divino.
Assim, oráculo passou a ser o termo que designa:
a) A pessoa capaz de fazer predições;
b) O local onde tais predições ocorrem (um templo religioso, por exemplo);
c) Os métodos utilizados para a obtenção da predição (jogos e sistemas divinatórios).
No meio umbandista iremos encontrar determinadas formas de práticas oraculares. Embora estas não sejam de propriedade da Umbanda, uma vez que não as criou, tais práticas encontram-se inseridas em vários templos umbandistas e acabaram por incorporar-se aos sistemas de crença de seus adeptos.
Cremos que os sistemas oraculares mais comuns à Umbanda são: Jogo dos Búzios, Jogo de Otás, Opelê Ifá, Cartomancia, Vidência na Água (Copo de Vidência) e as consultas espirituais com os Guias e Protetores.
Não iremos aqui entrar em detalhes a respeito de como processam-se os ritos e a esquematização destas práticas, tão pouco por quais signos representativos dão-se as interpretações e suas consequentes predições.
Nossa intenção é a de refletir a respeito dos sentidos psicológicos e espirituais que envolvem estes sistemas oraculares e como estes compõem recursos de auxílio para o entendimento da subjetividade humana e suas perspectivas diante de questões existenciais fundamentais, como sejam as relações dialéticas entre Livre-Arbítrio e Destino.
Até que ponto os caminhos da vida de uma pessoa estão sujeitas a estas duas Leis Espirituais, tão intrigantes e tão debatidas ao longo dos séculos pelas mais diversas filosofias e religiões?
Será que os rumos da vida do homem encontram-se totalmente estabelecidos antes de seu nascimento e vinculados à Suprema Vontade Divina?
Ou, ao contrário, seria a capacidade de discernir e optar (Livre-Arbítrio), próprias a cada ser humano, os atributos preponderantes para que cada homem, a seu turno, atinja sua condição de felicidade ou desdita?
Bem, primeiramente, para que possamos adentrar à questão de como os sistemas oraculares relacionam-se com pontos de crença aparentemente divergentes, precisamos entender como a prática divinatória contempla, em seus métodos diversos, uma visão profunda e abrangente a respeito.
Em decorrência da influência cultural africana - neste caso, a iorubá - o imaginário umbandista preencheu-se, embora tenha adaptado e resignificado seus elementos, da cosmovisão destes povos a respeito da realidade espiritual e como esta estrutura-se perante à Divindade.
Assim, temos a figura de Orunmilá, tido na cultura iorubá como sendo o representante da mais alta sabedoria e o depositário de todo o conhecimento da humanidade e dos próprios Orixás. Fora isso, também eram atribuídos a Orunmilá a sustentação do ciclo da vida, a fertilidade das terras e da juventude do planeta.
Outra característica fundamental a respeito deste Orixá refere-se à sua abrangência tempo-espacial. Uma vez que as divindades naturais iorubás estavam totalmente vinculadas ao espaço territorial de seu povo, estas não transitavam junto a seus "filhos" no caso de um processo de migração. Aliás, este foi um dos grandes dilemas dos Iorubás quando chegaram, cativos, ao Brasil, pois viram-se distantes das suas terras e, consequentemente, distantes de suas divindades. No entanto, com Orunmilá essa regra não perpetuava-se, porquanto um de seus atributos é justamente o de transitar pelos quatro cantos do mundo e entre a terra e o céu.
Jogo OponIfá |
Orunmilá tem justamente neste fundamento, portanto, a explicação do porquê ele sabe e conhece a respeito da vida de todos os homens, bem como quais são ou deverão ser seus atos perante à vontade Divina.
Na cultura iorubá, estão sob a regência de Orunmilá as várias práticas oraculares destes povos. Orunmilá também é conhecido como Ifá, sistema de jogo divinatório empregado por esse mesmo Orixá, segundo contam suas lendas.
Entendemos que o homem é o ser deste planeta que possui a capacidade de raciocinar a respeito de sua própria existência e estabelecer consciência de si-mesmo. Desta condição própria ao ser humano, advém o fato de que temos contato com nosso passado, presente e futuro. O homem sabe que irá envelhecer. O homem sabe que irá morrer e pode até contemplar aspectos dessa realidade.
Por conta disso, o homem possui a necessidade de tomar resoluções e efetuar escolhas vislumbrando o seu futuro. Seus empreendimentos de ordem material (econômico, financeiro, social), afetivos (relacionamentos, casamentos, pater/maternidade), espirituais (a prática religiosa, a busca por significados existenciais, etc) carecem de ser contemplados com o sucesso, de maneira que possa fruir de saúde, prosperidade e felicidade.
À incapacidade circunstancial que o homem tem de compreender as forças e os fatores existenciais que influenciam diretamente a sua vida, tornando-se motivos de dúvidas e receios, criou-se a concepção do Destino.
Muitas vezes, essa incompreensível dinâmica da vida, atuante sobre o homem, faz com que a vida de muitos tomem rumos os mais diversos e inusitados, causando verdadeira perplexidade e espanto.
Acreditamos, como homens religiosos, na realidade da vida como sendo regulada e diretamente influenciada por forças de natureza espiritual, as quais se sobrepõem à capacidade de apreensão humana, no seu atual estágio consciencial. Em decorrência disso, criamos métodos e estabelecemos práticas para termos acesso a determinados níveis da Realidade Universal, cujos mecanismos afetam diretamente nossas vidas.
Dessa forma, os sistemas oraculares irão trazer à tona determinados fatores preponderantes na vida daquele que os consulte. Serão abertos e colocados em questão ângulos que dirão respeito do passado, do presente e de seu futuro, estabelecendo quais seus vínculos kármicos (anteriores ao nascimento), predisposições psicológicas, situações momentâneas de vida, e finalmente, quais suas vocações para a concretização de seu futuro.
Lembramos que somos possuidores de estruturas sutis que estabelecem a nossa Individualidade como seres humanos (encarnados) e como Espíritos. Nestas estruturas, estão impressas as marcas e os registros acumulados ao longo de nossa jornada como seres imortais.
No que pese não sermos senhores, neste atual estágio, da totalidade de nossa realidade espiritual, estamos vinculados e dirigidos por Consciências Superiores (os Orixás), as quais direcionam nossos Destinos, no ciclo reencarnatório.
No entanto, essa condução impulsiva por parte destas forças invisíveis que imanam por meio de nosso vasto inconsciente, vai aos poucos transformando-se na medida em que o homem, por intermédio de sua capacidade de intuir, logicar e escolher, apropria-se da sua condição como Espírito, assenhoreando-se de suas possibilidades de engrandecimento e plenificação.
O oráculo irá auxiliar o indivíduo a considerar os fatos e circunstâncias de sua própria vida, identificando quais os fatores que correspondem ao seu destino (fatores kármicos) e como este, pela execução de seu livre- arbítrio, poderá conciliar-se com as Leis da Vida, promovendo harmonia.
Justifica-se, portanto, a busca e a validade destes métodos de orientação espiritual, os quais processam-se desde a consulta ao jogo de búzios até a conversa direta com os Guias e Protetores, costumes tão presentes nas nossas práticas.
Nestas consultas, irão ser contempladas atitudes e comportamentos passíveis de serem adotadas pelo indivíduo, portanto a partir de seu livre-arbítrio, as quais irão conciliá-lo com as forças reguladoras do destino, amenizando impactos danosos e às vezes até desastrosos na falta de tal orientação.
De igual forma, as novas posturas e idéias aconselhadas pelos Guias Espirituais, no momento da consulta, ou pelo jogo divinatório, proporcionarão uma ampliação das possibilidades de amadurecimento psicológico e desenvolvimento ético do indivíduo, sintonizando-o com seu Orixá interior (Deus Interno), dinamizando suas forças próprias e estabelecendo contato com as faixas de luz dos Planos de Aruanda, por onde ampliará a sua consciência diante da Vida e da Realidade, sentindo-se pleno e interiormente gratificado.
Saravá a todos!
Bibliografia Consultada:
Beniste, José (2008). Órun Áiyé - O encontro de dois mundos
Onidajó, Omiran (2007). A leitura da Sorte na Umbanda e no Candomblé
Caroso, Carlos; Bacelar Jeferson (organizadores - 2006). Faces da Tradição Afro-Brasileira
Filho, Fernandez Portugal (2010). Ifá - O Senhor do Destino
Matta e Silva, W.W. da (2010). Umbanda de Todos Nós
Rivas Neto, Francisco (2002). Umbanda A Proto-Síntese Cósmica
Frias, Rodrigo Ribeiro (2008). Corpus Literário de Ifá: Leituras e Perspectivas (artigo científico)
Ribeiro, Ronilda Iyakemi (coordenadora - 2008). Destino e Liberdade: O oráculo de Ifá
A VIDA NA NOVA ENCARNAÇÃO QUE ESTE ANO SE DOBRE
ResponderExcluir